A temperatura global subiu cerca de 0,8 ºC nos últimos 150 anos e prevê-se que continue a aumentar. Está previsto que o aquecimento global aumentará em até 20% a escassez de água, tanto em regiões propensas à seca como em regiões subtropicais e tropicais de ocorrência normal de chuva.
Amir Werle
Engenheiro agrônomo, doutorando em Genética e melhoramento de plantas – Universidade Federal de Goiás (UFG)
A agricultura é a atividade humana que mais vem sofrendo com as mudanças ambientais e climáticas. Nos últimos anos várias mudanças estão ocorrendo, e com isso influenciando a produtividade das diferentes culturas, sendo um dos principais vilões o aquecimento global.
Interessante que este fenômeno poderá trazer algumas vantagens para pequenas regiões de média a elevada latitudes, como aquelas próximas aos polos, podendo estas se tornar agricultáveis, onde culturas como milho, trigo, arroz, soja, aveia e feijão podem ter um leve aumento de produtividade.
Porém, o que se observa na realidade é que a maioria das áreas já cultivadas, em regiões tropicais de baixa latitude, o aquecimento pode provocar grandes perdas, como em países da África, que dependem das chuvas para produção, onde as perdas podem chegar a 50%. Até mesmo os Estados Unidos têm estimado perdas entre 30 a 46% na produtividade de soja e milho, antes do final deste século, devido ao aumento na temperatura segundo o IPCC ” 2007.
Causas
A provável causa da maior parte do aquecimento observado desde meados do século XX se deve ao aumento das concentrações de gases como o gás carbônico (CO2), resultante das emissões provocadas pela atividade humana, especialmente nas áreas industriais e agrícolas.
A temperatura global subiu cerca de 0,8 ºC nos últimos 150 anos e prevê-se que continue a aumentar. O acúmulo do CO2, na atmosfera, poderá favorecer a produção agrícola, pois ele serve de matéria-prima para as plantas se desenvolverem. Entretanto, são muitos os efeitos colaterais do aumento de CO2 no ambiente, como o aquecimento global, que anulará quaisquer benefícios que este possa trazer.
Fatores ambientais que afetam a produção agrícola
Diversos são os fatores ambientais que afetam a produtividade, porém, a temperatura e o déficit hídricos são os principais fatores limitantes e de maior impacto na produção e zoneamento agrícola para diversas espécies cultivadas. Seja pelo excesso de chuva ou pela falta dela, pelo sol ou frio demasiado, quem sofre as consequências é a lavoura.
Existem fatores ambientais preexistentes e inerentes a cada região geográfica, os quais podem ser classificados em fatores ambientais primários e fatores ambientais secundários.
Os fatores ambientais primários compreendem; latitude, altitude, chuva, topografia, textura do solo e composição do solo, que determinam os fatores ambientais secundários que são: radiação solar, comprimento do dia, temperatura, água, minerais e aeração no solo, que por sua vez tem ação direta em processos fisiológicos e, consequentemente, afetam o rendimento da cultura. Lembrando que as interações destas culturas com o ambiente determinam quais as limitações poderão predominar.
Embora tais fatores sejam preexistem para as determinadas regiões agrícolas, eles também estão sendo alterados, o que envolve a temperatura e o nível de água disponível para a cultura.
Resposta vegetal
As respostas das plantas às condições de estresses, tanto por falta de água quanto por calor, estão associadas ao conteúdo interno de água que a planta consegue reter, sendo esta uma característica para a planta se adaptar a situações em ambientes de estresse e manter níveis aceitáveis de produtividade.
Principais alterações climáticas
Temperatura: o desenvolvimento das plantas pode ser afetado pela temperatura do ar, do solo, das folhas e por incidência de radiação solar. A influência pode chegar ao desenvolvimento de colmos, raízes e à formação de novas folhas. Cada cultura tem a sua temperatura limite, chamada de temperatura basal. Fora dessa faixa o crescimento da planta é cessado, afetando a produtividade. No milho, por exemplo, a temperatura basal está entre 10 e 38ºC, sendo considerada a temperatura ótima 30ºC.
O aumento da temperatura acima do limite superior pode causar danos irreversÃveis ao crescimento e desenvolvimento das plantas. A intensidade e a duração do aumento da temperatura para causar danos às plantas é definido como estresse por calor.
A redução da produtividade está relacionada ao período de enchimento de grãos mais curto, que ocorre pelo acúmulo de matéria seca temporariamente estocada em partes vegetativas das plantas, produzida pela fotossíntese.
Sendo assim, o tempo de acúmulo desses fotoassimilados é menor, e a temperatura elevada provoca uma acentuada redução no ciclo da planta em função do incremento de soma térmica.
Porém, os fatores mais significativos para a redução na produção em resposta ao estresse ao calor estão no encurtamento da fase de desenvolvimento e redução da percepção da luz, afetando a os processos fotossintéticos que interferem na assimilação de carbono pela planta. Além da produtividade, temperaturas elevadas podem comprometer a qualidade dos grãos, com redução no teor de proteínas, aminoácidos, amido e óleo.
No sul do país, por exemplo, as variações nas temperaturas têm sido tão intensas que nem mesmo os meteorologistas conseguem prever. Com isso, os agricultores acabam investindo em culturas sem saber o que vão conseguir aproveitar de fato, ou tirar de produtividade aceitável das lavouras.