Franciely S. Ponce
francielyponce@gmail.com
Silvia Graciele Hulse de Souza
silviahulse@unipar.br
Thiago Alberto Ortiz
thiago.ortiz@prof.unipar.br
Engenheiros agrônomos, doutores em Agronomia e professores do Departamento de Agronomia – UNIPAR/Umuarama-PR
A alface (Lactuca sativa L.) é a hortaliça folhosa mais produzida e consumida no Brasil, sendo o carro-chefe em muitos estabelecimentos hortícolas. No mercado existe um grande número de cultivares de alface que se adaptam bem às diferentes condições climáticas, o que permite o cultivo ao longo de todo o ano.
Porém, o cultivo em determinadas épocas, como no verão, tem sido limitado devido às elevadas temperaturas e altas pluviosidades. Isso porque a alface é uma planta de clima ameno, adaptada à temperatura máxima de 25ºC.
Limiares acima disso proporcionam o pendoamento das plantas, que entram em fase de reprodução, acumulando látex, o que provoca sabor amargo e perda de qualidade.
A inserção de tecnologia, bem como o uso de cultivares adequadas, garantem a produção de alface de qualidade em condições de verão.
Excesso de chuva e altas temperaturas
O cultivo de alface durante o período chuvoso e com altas temperaturas é um desafio ao produtor devido a diversos fatores. As plantas de alface são sensíveis principalmente no período de mudas e a ocorrência de chuvas pode proporcionar o acúmulo de solo no ápice das mudas, levando-as à morte.
Outro problema se dá em decorrência das gotas de chuva que, ao atingirem as plantas, provocam danos, quebra de folhas e morte de plântulas. O excesso de umidade, aliado a maiores temperaturas, intensifica os problemas com doenças foliares e podridões causadas por fungos e bactérias.
Além disso, o excesso de umidade também interfere na absorção de nutrientes, em que as altas temperaturas, aliadas ao excesso de umidade, proporcionam deficiência de cálcio, o que promove a queima das bordas das folhas, chamada Tip burn.
Outro efeito observado é a produção de plantas com menor tamanho e número de folhas, ou plantas estioladas com rápida produção de látex e pendoamento.
Materiais genéticos adequados
A escolha de cultivares de alface termotolerantes é o primeiro passo para garantir boa produtividade no período de verão.
A cultivar utilizada deve apresentar tolerância a altas temperaturas, bom desenvolvimento e crescimento, boa produção de folhas, resistência ao pendoamento precoce e resistência a doenças como Septoria lactucae, mancha-de-cercóspora (Cercospora longissima), Pythium spp., Rhizoctonia solani e vira-cabeça, provocada por vírus tospovírus (gênero Tospovirus; família Bunyaviridae).
Normalmente, as alfaces do grupo lisa e mimosa são mais sensíveis, sendo indicadas para o cultivo no período de safra (inverno), enquanto algumas cultivares do grupo crespa e americana apresentam dupla aptidão, para o cultivo durante o inverno e durante o verão.
Resistência das plantas
As plantas de alface do tipo americana apresentam folhas mais resistentes, portanto, com maior resistência ao impacto das gotas da chuva.
Outro aspecto importante a ser citado é que, no período do inverno, este tipo de alface forma cabeça com maior facilidade, contudo, no verão os produtores comercializam as plantas sem que haja a formação de cabeça, com foco na produção de folhas.
A tolerância às condições de chuvas e altas temperaturas pode impactar a qualidade e o sabor das alfaces produzidas, reduzindo o amargor precoce, o que influencia na maior aceitação das plantas pelo mercado consumidor.
O bom desenvolvimento das plantas também faz com que sejam mais bem aceitas e consumidas.
Decisão
A escolha da melhor cultivar para o local de cultivo, muitas vezes parte das observações do próprio produtor, que tem maior sucesso com um ou outro material genético. Contudo, estudos realizados em condições de alta temperatura e pluviosidade auxiliam na escolha do material genético mais indicado a este tipo de local.
Contudo, o produtor deve se atentar também à aceitação do mercado consumidor, para a escolha de uma cultivar para este período.
Tecnologia aliada ao cultivo de alface no verão
Além da escolha de materiais resistentes e bem adaptados ao cultivo a campo aberto, especialmente em períodos desfavoráveis, se faz necessário um bom preparo da área, adubação balanceada e cobertura do solo.
O uso de coberturas plásticas, os chamados mulching, ou mesmo de palhada, auxilia no desenvolvimento das plantas de alface, reduzindo a competição com plantas daninhas, além de reduzir o salpicamento de partículas de solo sobre as folhas das plantas.
A deposição de solo no ápice das mudas de alface pode proporcionar a morte das plântulas, reduzindo o estande. A proteção do solo proporciona, ainda, a diminuição da temperatura do solo, reduzindo a amplitude térmica, o que auxilia no melhor desenvolvimento das plantas.
Outra opção para minimizar o efeito das altas temperaturas e pluviosidade é o uso de ambiente protegido, como telados, túneis baixos, estufas com advento de telas. O uso das telas reduz o impacto das gotas de chuva, além de reduzir a temperatura dentro do ambiente de cultivo.
Resultados positivos
O cultivo de cultivares resistentes, tanto a pragas, doenças quanto a condições climáticas adversas, representa um menor aporte energético empenhado na produção de alimentos. Além disso, há uma redução da necessidade de manejo químico e produção com maior qualidade.
O advento de tecnologia, seja ela genética (cultivar), mulching, telas e malhas agrícolas são ferramentas indispensáveis para a obtenção de plantas saudáveis, competitivas e de boa qualidade, especialmente em períodos desfavoráveis ao cultivo.