Rayssa Camargo de Oliveira
Doutora em Fitotecnia – Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM)
rayssacamargo@yahoo.com.br
Mirian Nomura
Doutora em Fitotecnia – Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)
mirian.nomura@uemg.br
As algas constituem a base do ecossistema marinho e são de suma importância para o planeta, pois produzem mais de 50% do oxigênio necessário à vida. Além disso, podem ser utilizadas como insumo na agricultura.
Sua aplicação em cultivos agrícolas é documentada desde os tempos antigos pelos povos romanos, que faziam sua colheita e depois as jogavam na superfície no solo.
Funcionalidade para o morangueiro
As algas marinhas estão se tornando cada vez mais proeminentes como bioestimulantes naturais na agricultura. No cultivo do morango, sua utilização está relacionada a ganhos de produtividade e qualidade dos frutos, trazendo benefícios econômicos ao produtor e, sobretudo, ao meio ambiente, por se tratar de um produto sustentável.
Cientistas da Embrapa indicam que a utilização de fertilizantes importados à base de macroalgas não é muito frequente entre os horticultores no Brasil, sendo os produtores de grãos os que mais utilizam essa tecnologia até o momento.
Porém, destaca-se que a prática tem aumentado nos últimos anos, principalmente porque os agricultores já estão cientes dos impactos dos fertilizantes biológicos aplicados aos grãos, como os que inoculam a bactéria Bradyrhizobium spp para fixação biológica de nitrogênio.
Mercado brasileiro
No mercado brasileiro, há algumas marcas de fertilizantes foliares à base de extratos de macroalgas, porém, a maioria ainda é importada. Portanto, a Embrapa vem desenvolvendo pesquisas que visam identificar um substituto com eficácia equivalente ou superior aos extratos importados, criando, assim, um fertilizante à base de algas totalmente nacional.
Inovação
A Embrapa Agroenergia desenvolveu um bioinsumo em que todas as cianobactérias utilizadas na fórmula são cultivadas em laboratório, num processo limpo e praticamente sem desperdício, dado que a legislação brasileira proíbe a extração de algas na costa do país.
As cianobactérias, que são algas unicelulares também chamadas de algas verde-azuladas, servem como matéria-prima para um bioinsumo que intensifica as respostas fisiológicas de crescimento e proteção das plantas.
Neste contexto, destaca-se a macroalga Ascophyllum nodosum, de origem marinha e coloração marrom, como a mais comumente empregada como biofertilizante.
Benefícios dos insumos à base de algas
As algas utilizadas na agricultura são abundantes em micronutrientes e compostos bioativos. Esses compostos têm um potencial promissor para aprimorar a resistência das plantas a pressões ambientais e incrementar a produtividade.
Esta estratégia sustentável proporciona uma opção aos fertilizantes sintéticos, auxiliando na saúde do solo e na produção de alimentos de qualidade.
Nas algas são encontrados micronutrientes, como zinco (Zn), ferro (Fe), manganês (Mn), cobre (Cu) e boro (B), fundamentais para o metabolismo das plantas. Ademais, elas possuem macronutrientes como potássio (K), cálcio (Ca) e magnésio (Mg), essenciais para processos biológicos como a fotossíntese, o metabolismo enzimático e a constituição de tecidos vegetais.
Além disso, os bioestimulantes presentes nas algas incluem fitormônios, como auxinas, citocininas e giberelinas, que regulam o crescimento das plantas e compostos como fenóis, polissacarídeos e betaínas, que aumentam a tolerância ao estresse.
Esses compostos promovem uma resposta mais eficiente das plantas a condições adversárias, fortalecendo seu sistema imunológico e melhorando a resistência a doenças. Um exemplo disso é o aumento da atividade de enzimas como a catalase e a superóxido dismutase, responsáveis por neutralizar espécies reativas de oxigênio (EROs).
Com isso, as plantas tornam-se mais resilientes e mantêm seu desempenho produtivo mesmo sob condições desfavoráveis.
Melhoria das raízes
Os fitormônios presentes nos extratos de algas também estimulam o alongamento e a ramificação das raízes, aumentando o volume de exploração do solo. Isso favorece a absorção de nutrientes e água, otimizando o uso dos recursos disponíveis.
Somado a isso, os polissacarídeos presentes nas algas atuam como quelantes naturais, facilitando a disponibilização de micronutrientes para as plantas.
Esta melhoria no sistema radicular favorece um crescimento mais robusto e amplia a resistência à escassez de água, já que as plantas conseguem alcançar camadas mais profundas do solo. Isso ocorre porque as algas atuam como estabilizadores de solo e aprimoram a habilidade do solo de reter água, crucial em regiões áridas ou semiáridas.
Resultados para o morangueiro
Pesquisadores aplicaram extrato de algas marinhas em morangos e observaram um aumento na altura da planta, no número de folhas, na área foliar, na concentração relativa de clorofila nas folhas e no peso seco.
Porto e seu grupo de pesquisa estudaram, em 2011, o extrato de Ascophyllum nodosum e verificaram que diminuiu a massa fresca dos estolões de morangueiro e aumentou o tamanho e a quantidade dos frutos de morango.
Também existem trabalhos relatando que produtos derivados da macroalga Lithothamnium spp melhoram rapidamente as condições químicas, físicas e biológicas do solo, a floração, a firmeza e o brilho dos frutos, além de aumentar o tempo de armazenamento.
Isso se deve, provavelmente, aos seus nutrientes balanceados, como aminoácidos, vitaminas e sacarídeos.
Pós-colheita dos frutos
Outra grande vantagem nesse sentido é que o uso de algas no cultivo de morangos está relacionado ao aumento da resistência pós-colheita dos frutos, pois com a utilização de algas, há relatos de que os frutos se apresentam menos suscetíveis a danos causados por transporte ou armazenamento, o que resulta em menores prejuízos financeiros.
Pesquisas de campo conduzidas em várias áreas produtoras de morangos em outros países confirmam as vantagens do emprego de algas marinhas. Estudos indicaram incrementos de até 20% na produtividade, juntamente com frutos de maior tamanho, mais doces e de melhor aspecto.
Estes resultados são associados a uma nutrição mais eficaz e à diminuição do efeito de estresses ambientais. Adicionalmente, notou-se uma diminuição na ocorrência de enfermidades fúngicas do tipo mofo cinzento, provocado por Botrytis cinerea, em plantas que receberam extratos de algas
Cultivo orgânico
Para a produção orgânica de morangos, as algas se enquadram perfeitamente como um insumo capaz de fornecer nutrientes e melhorar a resistência das plantas a diferentes estresses ambientais, ao mesmo tempo em que representa um produto sustentável, sem causar impactos negativos ao meio ambiente e contaminação dos alimentos.
Além disso, a utilização de algas marinhas na produção de morangos é uma prática ecológica que diminui a necessidade de fertilizantes químicos e pesticidas sintéticos, minimizando os efeitos nocivos ao meio ambiente.
A extração sustentável de algas e ainda a produção artificial das mesmas contribui para a conservação dos ecossistemas marinhos, além de diminuir a poluição do solo e das águas subterrâneas por substâncias químicas.
Versatilidade
Outra característica positiva é que os extratos de algas marinhas contribuem para a adaptação das plantas de morango a uma variedade de condições de solo e clima. Por exemplo, em solos arenosos, a capacidade de reter água é aprimorada pela ação dos polissacarídeos presentes nas algas.
Já em solos compactados, a atividade e volume do sistema radicular melhoram, e assim favorece o desenvolvimento das plantas. Esses produtos à base de algas também se mostram eficientes em condições climáticas extremas, auxiliando as plantas a enfrentar variações de temperatura, seca e salinidade, desafios que estão se tornando cada vez mais frequentes devido às alterações climáticas.
Menor custo de produção
Em termos econômicos, os agricultores se beneficiam da diminuição dos gastos com produtos químicos, do incremento na produtividade e na qualidade dos frutos, o que resulta em uma maior competitividade no mercado.
Pode-se dizer que a utilização de algas marinhas ainda é moderadamente acessível, apresentando, no geral, custos iniciais superiores aos dos insumos químicos convencionais, porém, proporcionando vantagens que muitas vezes justificam o investimento a longo prazo.
É particularmente aconselhável para produtos de maior valor agregado, como morangos e vegetais orgânicos, onde a excelência na qualidade é um atrativo econômico.
Como aplicar
Para maximizar as vantagens dos extratos de algas marinhas, sugere-se sua utilização por meio de aplicação foliar ou fertirrigação, em doses apropriadas e em fases estratégicas do ciclo da cultura.
É necessário aplicar durante o crescimento vegetativo e antes do começo da frutificação. Também é aconselhável a sinergia com outras práticas, pois a combinação do uso de algas com métodos de controle integrado de pragas e rotação de culturas no geral potencializam os impactos positivos.
É crucial que os agricultores usem produtos certificados e obedeçam às instruções do fabricante em relação à dosagem e regularidade. A combinação dessa tecnologia com práticas agrícolas eficientes, tais como a gestão correta do solo e o controle biológico de pragas, intensificam os efeitos.