Antônio Spiassi Silva Pereira Mendes
Engenheiro agrônomo e mestrando em Agronomia – Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP)
antoniospiassimendes@gmail.com
A cebola (Allium cepa L.) é uma hortaliça consumida o ano todo, por fazer parte dos hábitos alimentares diários de grande parte da população brasileira, servindo principalmente como condimento ou tempero.
Os estados da região sul do país são responsáveis por mais de 50% da produção nacional, em especial Santa Catarina, que em 2022 produziu 340 mil toneladas em quase 18 mil hectares, gerando R$ 195 milhões, segundo o último censo agropecuário do IBGE.
Clima
O sucesso do cultivo é dependente alguns fatores climáticos. A temperatura ideal fica entre 15,5 e 21ºC. A irrigação é necessária em regiões áridas, devido ao sistema radicular raso.
Todavia, o período que antecede a colheita em 15 dias deve ser seco, para impedir a incidência de patógenos. A duração do dia no local onde a propriedade se localiza dene a cultivar plantada, havendo as de fotoperíodo curto, médio e longo.
A cultura prefere solos de textura média, bem drenados, com pH de 6 a 6,5. O plantio na região sul se estende de abril a junho e a colheita de novembro a janeiro.
Plantio
Atualmente, o plantio é feito a partir da semeadura direta ou do transplante de mudas. O antigo método de utilização dos bulbilhos (bulbos cultivados em alto adensamento que, ao serem plantados, brotam e produzem bulbos maiores) nos meses anteriores ao plantio foi abandonado, pois exigia a espera do período de dormência (cerca de 40 dias) e impedia a colheita em diferentes épocas
(devido à janela de produção desses propágulos).
As cebolas de importância comercial, com exceção das chalotas, tratadas como produto gourmet no mercado nacional, pertencem ao grupo Typsicum, de bulbo único e grande, e possuem ciclo bianual, vegetando no primeiro ano e florescendo no segundo.
Na pré-floração, ela necessita de queda na temperatura para induzir a diferenciação das gemas florais, o que explica o destaque dos estados do sul em sua produção.
O pseudocaule, também chamado de pescoço, fica ligado aos bulbos acima do solo e pode apresentar elevada dominância apical de crescimento, o que gera poucos ou apenas um ramo bem desenvolvido e impede a emissão de brotos laterais essenciais para a manutenção do equilíbrio entre a parte vegetativa e reprodutiva da planta.
Bulbificação
A planta precisa de área foliar satisfatória para desempenhar o processo de fotossíntese e “encher” o bulbo, culminando em uma boa produtividade e a formação de cebolas uniformemente grandes e saudáveis, qualidades que fazem com que o produto seja bem aceito
pelo público consumidor, agregando valor a ele.
Portanto, o número e tamanho das folhas das brotações laterais afeta diretamente o tamanho do bulbo.
A solução
Os extratos de alga são produtos que podem ser aplicados para quebrar essa dominância apical. São produzidos a partir de algas habitantes de águas salgadas, mais comumente com a espécie “Ascphyllum nodosum L. Le Jolis”.
Esses organismos possuem hormônios que desempenham diversas funções na fisiologia vegetal, como as citocininas, auxinas e giberelinas. Dentre eles, as giberelinas são particularmente conhecidas por realizarem a quebra da dominância apical e aumento
do comprimento dos entrenós.
As citocininas potencializam os efeitos de brotação lateral promovidos pelas giberelinas. As auxinas estimulam a divisão celular
e, consequentemente, o crescimento vegetativo. Porém, sua presença nas gemas apicais auxilia na manutenção de altos níveis de ácido abscísico nas gemas laterais, inibindo seu desenvolvimento
A presença e concentrações desses hormônios dependem da espécie de alga utilizada na confecção do extrato, em sua época de coleta e no método de extração empregado.
Pesquisas
Podemos aafirmar, com base em diversos estudos realizados com a cultura, que os extratos de algas aumentam a área foliar da planta, a produção e o peso dos bulbos, e propiciam maior acúmulo de macro e micronutrientes essenciais para as plantas, como o nitrogênio, fósforo, potássio, ferro, zinco e cobre.
As concentrações de carotenoides e das clorolas a e b também são positivamente influenciadas, indicando que melhoram a qualidade geral dessas hortaliças. No Brasil, são comercializados na forma de bioestimulantes, onde podem vir misturados com outros compostos, como aminoácidos, vitaminas, sais minerais e nutrientes.
O nitrogênio presente em várias formulações é o principal nutriente envolvido no crescimento vegetal, participando da estrutura da molécula de clorofila e podendo estimular o crescimento de novas brotações.
A resposta das plantas a eles podevariar em função do método de aplicação (tratamento de sementes, pulverização foliar ou fertirrigação), das dosagens e frequência de aplicações e dos fatores climáticos da região.
Eficácia comprovada
Na maioria das culturas, o período que apresenta maior ecácia para a aplicação do extrato é o desenvolvimento inicial, nas fases de germinação e de plântulas, pois os tecidos ainda são pouco diferenciados e propensos ao crescimento, além do estabelecimento em
campo ser uma etapa crucial para a sobrevivência das plantas.
No caso da cebola, a fase de plântula é inevitavelmente lenta, mas importante, pois é onde ocorre a produção contínua de novas folhas, alongadas na fase seguinte, de planta adulta. As auxinas e o nitrogênio presentes na formulação irão ajudar a planta adulta
no desenvolvimento foliar e na produção de novas folhas, tornando todas essas fases adequadas para a aplicação de extratos de alga visando à estimulação de brotações.