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André Luis Teixeira Fernandes
Professor, doutor e pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa UNIUBE-MG
Marcos de Oliveira Bettini
Doutor e engenheiro agrônomo ” FCA-UNESP Botucatu-SP
As algas marinhas, em geral, para sobreviverem no mar salgado, desenvolveram mecanismos de osmorregulação. Tais mecanismos são associados ao aumento de compostos orgânicos especiais nas células das algas, de forma que o aumento da concentração destes solutos possibilite às algas absorver água e nutrientes e crescer mesmo sob a condição salina do ambiente marinho.
Existem diversas espécies de algas marinhas. Entretanto, a alga Ascophyllum nodosum, que se desenvolve na região de intermaré do oceano Atlântico Norte, tem maior importância no uso agrícola. Isto se deve ao fato de que esta espécie precisa adaptar-se não apenas à condição de mar salino, mas também à seca quando a maré está baixa, às condições de altas e baixas temperaturas no verão e invernos do hemisfério norte.
Portanto, além da resistência ao ambiente salino, os extratos desta alga possuem compostos que possibilitam mecanismos de resistência à seca e a temperaturas extremas.
Vantagem das algas
Os extratos da alga são descritos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) como fertilizantes orgânicos e aditivos de ação complexante. Está comprovada pela ciência que a aplicação de extratos específicos da alga Ascophyllum nodosum apresentam ações hormonais, notadamente o estímulo à produção endógena de citocinina.
Bioensaios com extratatos de alga resultaram em aumento no crescimento de raízes laterais em feijão mungo e desenvolvimentopronunciado no hipocótilo de alfacede plantas tratadas,indicando efeitos auxÃnico e giberélico.
Também é especialmente importante ressaltar que extratos de A. nodosum proporcionam às plantas tratadas maior capacidade de tolerância a estresses hídrico e salino, aumentando a eficiência do uso de água destas plantas. Ou seja, plantas que recebem os extratos de água crescem e produzem mais com menos água que plantas controle.
Principais culturas beneficiadas
Os extratos de alga são multiespecíficos e produzem respostas em diversos cultivos. No Brasil, o uso de extratos de algas é mais difundido nos cultivos de café, soja, milho, feijão, tomate, melão, uva, melancia, manga, mamão, folhosas, batata, entre outros.
Além destes cultivos, o produto é muito utilizado na produção de mudas, e mais recentemente vêm sendo desenvolvidos trabalhos de pesquisa em cana-de-açúcar e pastagens. Tais produtos podem ser aplicados via tratamento de sementes, pulverização foliar, jato dirigido ao solo, imersão de estacas, hidroponia e fertirrigação.
Algas x resistência a estresses
Em similaridade à capacidade das algas de sobreviver a ambientes inóspitos, alguns extratos da alga A. nodosum proporcionam às plantas tratadas a capacidade de expressar genes relacionados aos mecanismos de resistência a estresses abióticos.
Estes mecanismos propiciam aumento na produção endógena de citocinina, aumento nos teores de prolina e betaÃnas no citosol, mudanças na composição e permeabilidade de membranas, aumento na concentração e composição de proteínas e aumento na atividade de enzimas antioxidantes de plantas tratadas,ou seja, diversos mecanismos associados à maior tolerância aos estresses hídrico e salino.
Em tese recentemente apresentada na UNESP/Botucatu (SP) demonstrou-se que plantas de café tratadas com extratos de alga e submetidas à deficiência hÃdrica apresentaram maior potencial de água na folha (menores valores) e maior turgidez que plantas controle.
Tabela 1, onde
D1 = 25% ETP A1 = A. nodosum (Acadian LSC) 0,3%
D2 = 50% ETP D2 = A. nodosum + Lithothamnium
D3 = 100% ETP D3 = Controle
Nesta mesma tese, em experimento de salinidade, as plantas tratadas com extrato de algas (A1) apresentaram maior acúmulo de K+ e redução de Na+ em tecidos foliares, desta forma reduzindo o dano causado pelo estresse salino, expressando menor necrose e maior desenvolvimento das plantas tratadas frente às plantas controle (C), conforme dados da tabela 2 a seguir.
Em experimento conduzido no campo experimental da ACA de Araguari (MG) por quatro anos (tabela 3), as plantas irrigadas e tratadas com extrato de A. nodosum via fertirrigação e via foliar (Trat. 09) produziram 38% a mais que a testemunha irrigada sem extrato de alga (Trat. 02).
Mesmo quando submetidaà lâmina de irrigação 50% inferior (Trat. 08), a produção ainda foi 33% superior ao controle irrigado com 100% da lâmina (Trat. 02).