Franciely S. Ponce
francielyponce@gmail.com
Thiago Alberto Ortiz
thiago.ortiz@prof.unipar.br
Silvia Graciele Hulse de Souza
silviahulse@prof.unipar.br
Engenheiros agrônomos, doutores em Agronomia/Horticultura e professores – UNIPAR (campus Umuarama-PR)
O milho é um dos principais cereais cultivados no mundo, entretanto, a ocorrência de pragas é um dos grandes gargalos da produção agrícola e proporciona perda de produção e qualidade.
No Brasil, a ocorrência da cigarrinha-do-milho Dalbulus maidis (Delong & Wolcott) (Hemiptera: Cicadellidae) tem proporcionado inúmeras danos à cultura do milho, por se tratar de um inseto vetor de doenças.
Em outros países, é descrita a presença de D. eliminatus, D. guevarai, D. quinquenotatus, D. gelbus, D. tripsacoides e Baldulus tripsaci, caracterizando, portanto, um complexo de espécies vetoras do chamado enfezamento.
Praga-chave
A cigarrinha-do-milho ganhou importância de praga-chave da cultura nos últimos tempos, devido à maior disponibilidade do hospedeiro durante o ano agrícola. Trata-se de uma praga de difícil controle que provoca danos diretos e indiretos às plantas.
Os danos diretos ocorrem a partir da alimentação dos insetos, que sugam a seiva das plantas recém-emergidas. Já os danos indiretos são observados a partir da transmissão de patógenos e vírus.
A cigarrinha-do-milho é vetor de molicutes, especificamente Spiroplasma kunkelii (Corn stunt spiroplasma) e fitoplasma do milho (Maize bushy stunt phytoplasma), assim como do vírus da risca do milho (MRFV- Maize rayado fino vírus), que provocam o enfezamento pálido, o enfezamento vermelho e o vírus da risca, respectivamente.
Infecção
Os insetos costumam colonizar a cultura logo após a emergência das plântulas, tendo preferência por plantas entre os estádios VE e V8.
Os insetos se estabelecem no cartucho das plantas e se alimentam da seiva, podendo levar à morte, tendo em vista que os danos podem chegar a 100%. Por se tratar de um inseto vetor de doenças, o nível de controle se dá a partir da presença ou ausência, sendo necessário o posicionamento de ferramentas de controle que entreguem resultados satisfatórios.
Enfezamento das plantas
As doenças transmitidas pela cigarrinha-do-milho são o enfezamento vermelho (Maize bushy stunt phytoplasma [MBSP]) e o enfezamento pálido (Spiroplasma kunkelii), que ocorre devido à transmissão dos chamados molicutes, bactérias que provocam o pleomorfismo celular e diversos distúrbios fisiológicos.
Os enfezamentos podem ocorrer de forma conjunta ou isolada e formam o complexo de enfezamento.
Sintomas
Os sintomas da doença são facilmente confundidos com deficiência de nutrientes. No caso do enfezamento vermelho, as folhas apresentam coloração arroxeada, podendo ser confundida com deficiência de fósforo, dificultando sua identificação.
Além disso, os sintomas costumam se manifestar quando as plantas estão entrando no estádio reprodutivo. A ocorrência dos enfezamentos afeta os fotossistemas da planta e promove a produção de órgãos sem clorofila, prejudicando a fotossíntese.
Há, ainda, a transformação de órgãos florais em estruturas foliares e, consequentemente, a menor produção.
As plantas apresentam menor estatura devido ao encurtamento dos internódios e à deficiência na absorção de nutrientes. Além disso, na parte reprodutora ocorre a formação de espigas pequenas e defeituosas, má formação dos grãos e redução do tamanho e peso, ou a improdutividade.
Não confunda
A severidade dos sintomas varia conforme o estádio de contaminação, em que quanto mais jovem a planta for contaminada, maiores serão os impactos observados.
O enfezamento vermelho acomete a planta provocando lesões avermelhadas nas pontas e bordas das folhas, em que os primeiros sintomas aparecerem duas semanas após a contaminação e se intensificam após o florescimento, persistindo no enchimento dos grãos.
Além das manchas nas folhas, podem ocorrer brotações na base da inserção da espiga e perfilhamento da planta.
Por sua vez, o enfezamento pálido promove a formação de manchas cloróticas nas folhas, perfilhamento das plantas e má formação das espigas. Os sintomas se intensificam na fase reprodutiva, de acordo com a fase de infecção e o nível de tolerância do material genético cultivado.
Há, ainda, o vírus da risca (Maize rayado fino vírus [MRFV]), também conhecido como raiado fino, provocado por outro vírus transmitido pela cigarrinha-do-milho; normalmente acomete as plantas de forma simultânea aos enfezamentos vermelho e pálido.
Os sintomas do vírus da risca são observados logo após a infecção, em que a planta passa a ter manchas cloróticas ao longo da folha.
Métodos de controle
O controle da cigarrinha-do-milho é realizado principalmente com químicos, seja por tratamento de sementes ou por pulverização sobre a planta. Atualmente, existem 35 produtos registrados para o manejo da praga, destinados ao tratamento de sementes e pulverização.
Para o primeiro, os produtos estão divididos em quatro princípios ativos: Imidacloprido, Tiametoxam, Lambda-cialotrina e Clotianidina. Já os produtos destinados à pulverização apresentam 12 princípios ativos (Tabela 1).
Tabela 1. Principais produtos comerciais registrados para o tratamento de sementes de milho para no manejo de Dalbulus maidis.
Nome comercial | Princípio ativo | Empresa |
Tratamento de sementes | ||
Cropstar | Imidacloprido + tiodicarbe | Bayer |
Cruiser Opti | Lambda-cialotria + tiametoxam | Syngenta |
Cruiser 350 FS | Tiametoxam | Syngenta |
Inside FS | Clotianidina | Sumitomo |
Saluzi 600 FS | Imidacloprido | Rotam |
Nome comercial | Princípio ativo | Empresa |
Pulverização | ||
Bold | Acetamiprido + fenpropatrina | Iharabras S. A |
Connect | Beta-ciflutrina + imidacloprido | Bayer S. A |
Curbix 200 SC | Etiprole | Bayer S. A |
Curyom 550 EC | Lufenurom + profenofós | Syngenta |
Daniato | Acefato | Ouro Fino Química |
Feroce | Acefato + bifentrina | UPL |
Galil SC. Safari; Atreus | Bifentrina + imidacloprido | Adama |
Imidacloprid Nortox | Imidacloprido | Nortox S. A |
Lannate BR | Metomil | Corteva |
Polytrin | Cipermetrina + profenofós | Syngenta |
Sperto | Acetamiprido + bifentrina | UPL |
Talisman | Bifentrina + carbossulfano | FMC |
Vivantha; Franco; Koyam | Tiametoxam | Ouro Fino Química |
Fonte: AGROFIT, 2022.
Limitações
As principais limitações percebidas quanto ao uso de inseticidas químicos partem da seleção de populações resistentes aos princípios ativos disponíveis, devido à pressão de seleção.
A utilização de várias ferramentas de manejo de forma conjunta garante maior eficiência e entrega de resultados satisfatórios, por agir em diversas vertentes.
Assim como as demais pragas, o manejo de cigarrinha-do-milho deve ser pautado a partir das bases e pilares do manejo integrado de pragas, visando melhores resultados.
Alternativas eficazes
Dentre as alternativas para o manejo da cigarrinha-do-milho, podemos destacar os produtos à base de Beauveria bassiana e Isaria fumosorosea (Tabela 2).
Tabela 2. Microbiológicos registrados para o controle de Dalbulus maidis.
Produto | Ativo | Empresa |
Ballvéria® | Beauveria bassiana isolado IBCB 66 | Ballagro Agro Tecnologia |
Ecobass® | Beauveria bassiana isolado IBCB 66 | Toyobo do Brasil |
Bovéria-Turbo® | Beauveria bassiana isolado IBCB 66 | Vittia Grupo |
Auin CE® | Beauveria bassiana isolado CBMAI 1306 | Agrivalle |
BeauveControl® | Beauveria bassiana | Simbiose |
Bovemip® | Beauveria bassiana cepa IBCB 66 | Promip |
FlyControl® | Beauveria bassiana, Simbi BB 15 | Simbiose |
Octane® | Isaria fumosorosea, cepa ESALQ-1296 | Koppert |
Fonte: AGROFIT, 2022.
A eficiência de Metarhizium robertsii no controle de D. maidis pode chegar a mais de 85%, em comparação com produtos à base de Beauveria bassiana, o que representa uma alternativa futura no manejo de adulto da praga.
A praga é de difícil controle, sendo a associação do controle químico e do biológico a melhor saída para o manejo satisfatório da praga. Isso devido aos aspectos inerentes à praga, como ataque às plântulas recém-germinadas, contaminação precoce das plantas e elevado número de ovos, o que garante a permanência da praga no sistema de cultivo.
Portanto, é importantíssimo o tratamento de sementes, que protegerá as plântulas até o 25º dia após a germinação. Contudo, apenas o tratamento de sementes não é o suficiente para controlar a praga, sendo a associação de pulverizações foliares com inseticidas químicos e biológicos uma necessidade para o manejo eficaz de D. maidis, assegurando menor infestação nos próximos cultivos.
De olho
A eficiência das aplicações precisa ser observada, pois a calda deve atingir os indivíduos para que haja maior eficiência de controle. Por não haver um método mais indicado para o manejo de cigarrinha-do-milho, a diversificação de métodos e rotação de princípios ativos e microbiológicos são de suma importância para que haja redução dos prejuízos causados pela infestação da praga.