Edson Pereira da Mota
Doutor em Solos e Nutrição de plantas e professor – Faculdade de Ensino Superior Santa Bárbara (FAESB)
prof.edson.mota@faesb.edu.br
Antes mesmo de fazer parte de muitas receitas dos brasileiros e entregar um ótimo valor nutricional, a cadeia produtiva do pimentão começa no solo, ou seja, nossa base de desenvolvimento agrícola e recurso mais valioso para a produção de alimentos, de fibras e energia para a população em crescimento.
O cultivo do pimentão demanda um fator claro, fundamental e decisivo para o sucesso da atividade – a fertilidade do solo. Com alta demanda nutricional, essa olerícola necessita de condições adequadas para o seu bom desenvolvimento, formando uma estrutura robusta, vigorosa e possibilitando que gere frutos sadios e em quantidade, para que a produtividade possa ser adequada e renda bons retornos econômicos ao produtor.
Nutrientes essenciais
Em termos numéricos, para os macronutrientes primários, cada tonelada de pimentão pode demandar cerca de 1,5 kg de nitrogênio (N), até 0,5 kg de fósforo (P) e 2,0 kg de potássio (K) (dados do Boletim 100).
Embora os números dessa demanda nutricional pareçam baixos, ao considerar níveis médios de produtividade de 50 t/ha a campo e de até 250 t/ha em cultivo protegido, pode-se atingir de 50 a 375 kg/ha de N, 25 a 125 kg/ha de P e 100 a 500 kg/ha de K exportados pela cultura.
É importante ressaltar que, além do NPK, outro nutriente exportado em grande quantidade pela cultura é o cálcio (Ca), com faixa de exportação similar à do N, mostrando-se indispensável para o cultivo.
O fornecimento desses (e dos outros) nutrientes essenciais para a correta nutrição do pimentão pode ser feito via adubos tradicionais, minerais, orgânicos ou organominerais, com ou sem agregação de tecnologias para o aumento da eficiência da adubação.
Porém, de nada adiantará a aplicação dos fertilizantes sem a correta identificação do estado atual do solo e a correção precisa do seu nível de fertilidade e, para que isso ocorra e as doses de adubos possam ser determinadas com maior exatidão, é indispensável a análise do solo.
O começo de tudo
A análise de solo é uma das mais fortes aliadas do produtor rural que busca excelência no cultivo do pimentão e, por que não dizer, do retorno econômico por ele obtido, já que doses corretas evitam a falta (resultando em baixas produtividades por carência nutricional), excesso (resultando em aumento do custo de produção e podendo intoxicar as plantas) ou até mesmo perda (diminuição da eficiência da operação de adubação) dos adubos aplicados.
Por meio da análise de solo é possível verificar o real estado da fertilidade do solo, não apenas dos nutrientes, mas de variáveis como o pH do solo, fator importante por determinar o aproveitamento dos nutrientes das plantas.
Disponibilidade de nutrientes frente ao pH do solo
A análise de solo, assim como qualquer operação realizada no sistema de produção, deve ser planejada, para que seus resultados sejam confiáveis e as recomendações possam, de fato, contribuir com a produtividade.
Basicamente, quando falamos de análise de solo, são consideradas três etapas: coleta das amostras de solo, análises laboratoriais e interpretação de resultados.
A coleta das amostras de solo é a etapa mais simples, porém, mais trabalhosa, crítica e importante para a análise de solo, devendo-se ter em mente que coletas erradas levam a análises incorretas e interpretações igualmente equivocadas. Esta é a etapa de maior facilidade de ocorrência de erros.
Representatividade das amostras
Representatividade nada mais é que coletar amostras que realmente representem de forma fiel o estado da fertilidade atual da área. Assim, é preciso que a área seja homogênea, isto é, sem variações bruscas quanto a aspectos como: tipo e textura de solo, declividade, tipo de cultivo realizado, histórico de culturas, níveis de produtividade obtidos, manejos de solo adotados, etc.
Para se ter uma ideia, a quantidade de solo enviada ao laboratório deve ser, em média, de 250 g, suficiente para a realização de qualquer análise requisitada pelo produtor. Desta maneira, acompanhe o seguinte cálculo:
1,0 ha = 100 m x 100 m = 10.000 m2. Ao considerar uma amostragem de 0 – 20 cm (0,2 m), temos:
10.000 m2 x 0,2 m = 2.000 m3 ou 2.000.000 dm3. que com densidade de solo média de 1kg/dm3:
2.000.000 dm3 = 2.000.000 kg. Assim, os 250 g (0,25 kg) de solo enviados ao laboratório resultam em:
2.000.000/0,25 = 8.000.000 vezes menos solo.
Recomendações
Desde que a área atenda a uma boa homogeneidade, as coletas de solo podem ser feitas em talhões de até 15 ha, desta maneira, a amostra de solo de 250 g chega a ser 120 milhões de vezes menor que área total, o que ressalta a importância de ser bem-feita e sem variações.
Outro aspecto relevante na representatividade é a distribuição dos pontos de coleta de solo da área, estes devem ser bem distribuídos por toda a área, em número de 15 a 20 pontos, podendo ser definidos via “zigue-zague” ou “grids” de amostragem na área.
Deve ser ressaltado que, para coletas tradicionais (fora do sistema de agricultura de precisão) cada amostra nos pontos de coleta é designada como amostra simples e, para que seja enviado ao laboratório, todas as amostras simples são misturadas cuidadosamente para que se obtenha uma amostra composta.
Em resumo, as amostras simples são agrupadas e homogeneamente misturadas para representar toda a área de coleta das amostras de solo, constituindo os 250 g enviados ao laboratório em sacos plásticos devidamente identificados com dados da propriedade rural, local, talhão, profundidade e outras informações que o produtor possa considerar relevante para identificar as amostras após recebimento dos resultados.
Amostragem “zigue-zague” ou em “grid”
Ao considerar a representatividade junto aos pontos de coletas, temos o chamado plano de amostragem de solo, que uma vez definido, basta realizar o procedimento operacional de retiradas das amostras de solo na época correta.
Recomenda-se que as coletas sejam realizadas com pelo menos quatro a cinco meses anteriores ao transplante das mudas do pimentão e com frequência variável de um a três anos, o que permite o planejamento de aquisição, logística de entrega e armazenamento dos insumos, além do tempo de ação de alguns produtos como o calcário, fundamental à correção do pH para melhorar a disponibilidade dos adubos futuramente aplicados e, também, fornecedor de cálcio para esta hortícola de alta demanda desse nutriente.
Para a retirada/coleta das amostras, algumas ferramentas podem ser utilizadas na operação:
O laboratório
Após a coleta, a análise de solo prossegue com o envio das amostras para o laboratório para as análises dos níveis de fertilidade, podem ser realizadas análises de rotina, onde são analisados: pH, teor de matéria orgânica e carbono orgânico, fósforo, cálcio, magnésio, potássio, acidez potencial (H+Al), alumínio, enxofre, soma de bases (SB), CTC potencial e efetiva (CTCt ou T e CTCe), V% e m%; ou pode ser realizada análise completa, inserindo os micronutrientes boro, cobre, ferro, manganês e zinco.
Destaca-se que podem ser pedidas análises complementares como a análise textural, muito importante para definir manejos durante a adubação e imutável no curto prazo, ou seja, não é necessário repetir a análise textural em intervalos menores que 10 anos em áreas bem manejadas quanto a erosão.
A escolha do laboratório para envio das amostras de solo é muito importante, uma vez que os dados precisam ser confiáveis e, para isso, o laboratório precisa ser certificado quanto aos seus métodos analíticos.
A verificação da credibilidade do laboratório reside no seu selo de proficiência, ou seja, um selo de qualidade que o laboratório possui, que atesta que ele passou por testes de qualidade junto a órgãos respeitados e conceituados, autorizados a realizar essas avaliações, como o Instituto Agronômico de Campinas (selo IAC).
Com os dados analisados, basta finalizar a análise de solo com o procedimento de interpretação dos resultados. A Interpretação consiste na análise das informações fornecidas pelas análises laboratoriais, ou seja, o que os valores obtidos representam para o cultivo do pimentão, onde utilizam-se os boletins de recomendação (como o Boletim 100 do estado de São Paulo).
Orientações
Boletins de recomendação são espécies de manuais que auxiliam a orientar na definição da dose a ser aplicada, sendo criados a partir de muitos experimentos agronômicos de curvas de respostas, isto é, testes utilizando doses de elementos nutrientes frente às respostas de produtividade das culturas.
Por meio da compilação de todos os experimentos para cada cultivo, como o do pimentão, são geradas as tabelas de recomendação, que devem ser utilizadas junto aos dados da análise de solo e, muito importante, junto ao conhecimento do produtor sobre o solo e histórico da área, para assim o programa de adubação e nutrição do pimentão trazer bons frutos.