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As pequenas destruidoras: Quenquéns

Conheça as pequenas destruidoras das plantações: as quenquéns. Essas formigas silenciosas podem causar danos significativos às culturas.

Rozimar de Campos Pereira
Pós-doutora em Entomologia e professora – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
rozimar@ufrb.edu.br

As formigas cortadeiras dos gêneros Atta (saúvas) e Acromyrmex (quenquéns) cortam material vegetal fresco, principalmente folhas, e transportam para os seus ninhos. Dentro dos ninhos, essas formigas processam o material vegetal que servirá de substrato para o cultivo de um fungo, do qual as formigas se alimentam.

Essas formigas apresentam distribuição geográfica restrita ao continente americano, desde o Sul dos Estados Unidos até o Sul da Argentina, com exceção do Chile e algumas ilhas das Antilhas.

O gênero Acromyrmex conta com 33 espécies e 22 subespécies no mundo
Créditos: Freepik

O gênero Acromyrmex conta com 33 espécies e 22 subespécies no mundo, enquanto que, para o gênero Atta, são 17 espécies e uma subespécie, 29 espécies e subespécies.

No Brasil, são 20 espécies e nove subespécies de Acromyrmex, e 10 espécies e três subespécies de Atta. As formigas cortadeiras podem ser nocivas aos plantios agrícolas e florestais, já que podem desfolhar uma ampla faixa de espécies cultivadas.

Pragas importantes

Essas formigas são consideradas as pragas mais importantes em plantios de Pinus e Eucalyptus, por causarem desfolhas que podem comprometer o desenvolvimento das plantas e promover a desuniformidade dos plantios.

Quanto maior a intensidade de desfolha, maiores são as perdas de produtividade. Contudo, é nas mudas recém-plantadas que essas formigas causam maiores danos, sendo capazes de levar grande parte delas à morte, caso medidas de controle não sejam tomadas.

Na região sul, verifica-se o predomínio de espécies de Acromyrmex, sendo que em alguns municípios não há a ocorrência de Atta (saúvas). Nessa região, há o predomínio de Acromyrmex crassispinus, seguida por Acromyrmex lundii, que são espécies que fazem ninhos superficiais, cobertos por um monte-de-cisco.

A densidade de ninhos dessas formigas aumenta gradativamente em áreas recém-plantadas até os 18 meses em plantios de eucalipto e até os 30 meses em pinus. Quando há o sombreamento do plantio, devido ao fechamento do dossel, a densidade de ninhos de quenquéns reduz-se significativamente.

Isso é mais evidente em plantios de pinus que não sofrem podas e nem desbastes. Nessa condição, se o pousio entre o corte raso e o novo plantio for menor que seis meses e o plantio ocorrer no inverno, serão raramente encontrados ninhos dessas quenquéns no início do novo plantio e o controle de formigas pode ser minimizado nessa situação.

Espécies

Dentre as espécies de saúva com maior ocorrência no Brasil, pode-se citar Atta sexdens, sexdens que ocorre em 18 Estados, Atta laevigata em 15 Estados e Atta cephalotes, que já foi observada em oito Estados.

Com relação às plantas atacadas, cabe destacar a Atta laevigata, Atta sexdens rubropilosa e Atta sexdens sexdens, como as de maior importância econômica.

A distribuição das espécies e subespécies do gênero Acromyrmex nas regiões brasileiras se dá da seguinte maneira: 19 ocorrem na região sudeste, 19 na região sul, 15 na região nordeste, 12 na região centro-oeste e 10 na região norte.

No restante do País destacamos as principais espécies que danificam pinus e eucalipto, como Atta laevigata (saúva-cabeça-de-vidro), Atta sexdens rubropilosa (saúva-limão), Atta sexdens sexdens (saúva-da-mandioca), Acromyrmex disciger, Acromyrmex niger e Acromyrmex crassipinus, dentre outras.

As principais espécies podem variar segundo a região de plantio, o tipo de solo e outras variáveis, como altitude, precipitação média anual, e temperatura média anual.

Desafios

De acordo Wilson Reis Filho, até pouco tempo atrás, o controle de formigas era realizado de maneira padronizada, não levando em consideração as particularidades de cada região e o comportamento de cada gênero de formigas nesses plantios.

A padronização pode interferir na eficiência do controle, uma vez que cada gênero, cada espécie possui características biológicas e ecológicas, morfologia de ninhos bem distintas.

As formigas cortadeiras de folhas podem ser controladas por métodos mecânicos, culturais, biológicos e químicos. O controle mecânico manual praticamente não é utilizado, em virtude de ser de viabilidade restrita a pequenas áreas e ninhos com até quatro meses.

Equipamento utilizado para a aplicação de formicidas a granel
Créditos: Daniele Ukan 

Os demais métodos variam com a espécie e época do ano, tamanho do formigueiro dentre outros fatores.

Neste contexto, o conhecimento das espécies de formigas que ocorrem na área e das características do solo, vegetação, clima, entre outras, são estratégias que poderão contribuir para minimizar os danos causados pelas formigas cortadeiras em plantações florestais.

Erros

Grande parte do insucesso ou controle parcial são devidos, principalmente, a erros de aplicação, sendo os mais comuns o mau dimensionamento dos formigueiros, que leva à aplicação de iscas em subdosagens e em épocas críticas (novembro a fevereiro), conduzindo o operador a achar que o ninho está inativo no momento do controle, não empregando a isca adequadamente, voltando o formigueiro à atividade algumas semanas depois.

Prejuízos causados pelas formigas cortadeiras

As formigas podem causar a desfolha total, tanto de mudas como de plantas adultas. No entanto, a idade das plantas pode influenciar a vulnerabilidade e os prejuízos causados por formigas.

Os prejuízos causados pelas formigas cortadeiras (saúvas e quenquéns) começam já na fase inicial dos plantios de pinus e eucalipto, e podem ser irreversíveis devido à fragilidade das mudas. As plantas jovens e adultas também sofrem com as desfolhas intensas e constantes, que podem afetar significativamente o volume final de madeira.

No eucalipto, as formigas cortadeiras promovem um corte com formato de semicírculo, porque as operárias ancoram as pernas posteriores na extremidade da folha e giram ao redor da folha, cortando-as.

Em plantios de pinus, ocorre o corte parcial ou total das acículas. No entanto, outros insetos podem causar a desfolha das acículas, o que pode confundir no reconhecimento do causador do dano.

Quando as formigas cortam as acículas, o corte é reto e as acículas são levadas para os ninhos. Já no caso de outros desfolhadores, como o besouro Naupactus, o corte é desuniforme e a parte destacada permanece próxima à planta cortada.

Isso significa que elas podem gerar uma queda na produtividade e vão muito além da redução da área foliar e da capacidade de realizar fotossíntese. É possível avaliar a gravidade do ataque determinando a quantidade de formigueiros por hectare, contudo, o prejuízo pode chegar a 50% de perdas ou a até 75% de custos e de tempo gasto no controle de pragas em reflorestamentos.

Recomendações

Em florestas implantadas de Pinus e de Eucalyptus, as formigas cortadeiras destacam-se como as principais pragas, especialmente nas fases de pré-corte (áreas de reforma ou condução da floresta) e imediatamente após o plantio ou no início da condução de brotação.

Pré-plantio:

1 – Inspeção prévia deve ser realizada em toda a área onde o plantio será implantado, abrangendo também uma faixa de pelo menos 50 metros de largura no entorno de toda a área;

2 – O segundo passo é a definição do método e do produto químico (formicida) que será utilizado. O método a ser utilizado depende da disponibilidade física e material do produtor.

Controle sistematizado

• Realizado com iscas granuladas, devendo a aplicação ser feita no tempo seco, na área onde será realizado o plantio e também na área do entorno. Esse procedimento deve ser realizado 15 dias antes do preparo do solo para facilitar a localização de formigueiros e para que as formigas carreguem as iscas para o interior dos formigueiros;

• Recomenda-se a utilização de 2,0 kg/ha de isca formicida granulada distribuídos de maneira homogênea em toda a área do plantio e do entorno na forma de pacotinhos de 5,0 gramas do produto, conhecidos como micro-porta-isca.

Controle localizado

• É realizado diretamente nos formigueiros mediante aplicação de isca formicida granulada, de formicidas em pó ou dos produtos termonebulizáveis (principalmente utilizado em sauveiros já velhos;

• Deve ser realizado 15 dias antes do preparo do solo para facilitar a localização de formigueiros e carregamento da isca pelas formigas;

• Recomenda-se a utilização das iscas formicidas granuladas na dose de 5,0 gramas por ninho de quenquéns. No caso de saúvas, a aplicação deve ser de 10 g/m2 de terra solta nos formigueiros, colocando-se as iscas ao lado de todas as trilhas.

Pós-plantio

Depois do plantio, o controle de formigas deve ser de forma localizada e realizado em até 30 dias. Posteriormente, é necessário realizar a manutenção do controle. Para isso, deve-se observar a presença de formigas e/ou de plantas cortadas, mediante a realização de inspeções semestrais, durante todo o ciclo do plantio.

O controle de formigas cortadeiras é realizado principalmente com o uso de isca formicida granulada. As iscas são compostas por atrativos, como polpa de laranja, misturados com um princípio ativo, que causa a intoxicação das formigas, levando-as à morte.

As iscas são comercializadas a granel ou em micro-porta-iscas, que são sachês contendo 5,0 g ou 10 g, que protegem a isca da umidade. As próprias formigas cortam a embalagem dos micro-porta-iscas e carregam a isca granulada do seu interior.

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