Giovani Belutti Voltolini
giovanibelutti77@hotmail.com
Caio Eduardo Lazarini Garcia
Luiz Gustavo Silva Rabelo
Engenheiros agrônomos e consultores – Fronterra
O manejo da fertilidade do solo está estreitamente relacionado com a produtividade das plantas, desde que os demais fatores de produção estejam adequados às exigências das culturas. O cafeeiro tem como característica grande exportação de nutrientes do solo, necessitando de adequada aplicação de corretivos e fertilizantes para alcançar altas produtividades.
Em geral necessitam, para o ciclo de vida, de 16 nutrientes essenciais, sendo três (C, H e O) vindos do ar e da água, que compõem aproximadamente 95% do total do peso de uma planta, e os 13 restantes divididos em macronutrientes (N, P, K, Ca, Mg e S) e micronutrientes (Fe, Mn, Zn, Cu, B, Cl e Mo). Como os solos tropicais, via de regra, são caracterizados pela baixa fertilidade, a nutrição da planta com esses nutrientes deve ser pela adubação.
Estes nutrientes exercem específicas e importantes funções na planta e podem ser divididos em estrutural, constituinte de enzimas e ativador enzimático, com isso, garantem adequado crescimento, desenvolvimento e produção, além de outros benefícios, como o aumento da resistência da planta ao ataque de pragas e doenças.
Porém, se os nutrientes não estiverem em concentrações adequadas nos tecidos da planta, podem ocorrer problemas com sintomas de deficiência ou toxidez.
No café
Em folhas de café, esta deficiência altera os conteúdos de alguns aminoácidos, ácidos orgânicos e açúcar. Portanto, nas plantas deficientes ou com toxidez, tem-se um comprometimento no desenvolvimento de todas as estruturas de crescimento da parte aérea e das raízes, influenciando negativamente na produtividade e, consequentemente, na rentabilidade da atividade cafeeira.
Assim, a cafeicultura necessita da adição constante de fertilizantes e corretivos. Para realizar uma adubação equilibrada, se faz necessário a realização de uma amostragem de solo correta, pois somente através dela a correta nutrição do cafeeiro será possível, já que ela mostra a demanda dos nutrientes requeridos pelo cafeeiro, onde a determinação é feita por análises químicas.
Assim, se torna necessário a coleta de amostras de solo representativas do ambiente explorado pelo sistema radicular. A realização da amostragem de folhas, para análise foliar, também tem se mostrado uma ótima ferramenta para quantificação e realização das adubações no cafeeiro, principalmente nas últimas adubações.
Gesso x calcário
Apesar de muitos acharem que calcário e gesso agrícolas são semelhantes, esses dois produtos químicos possuem características e efeitos nos solos completamente diferentes. Cada um tem uma ação e efeito particular.
O calcário possui baixíssima solubilidade no solo, tem a capacidade de elevar o pH do solo, e além disso fornece Ca e Mg para o solo, sendo o carbonato responsável pela correção da acidez do perfil.
Já o gesso é constituído por Ca e S e por ser um sal e não uma base, como o calcário, não tem a capacidade de elevar o pH do solo, logo, não se deve fazer o uso do gesso como substituto do calcário com a intenção de corrigir a acidez do solo.
Super gessagem
Muito se tem discutido sobre a aplicação de super dosagem de gesso no cafeeiro, porém, para realizar essa prática é necessário a adoção de um sistema de manejo diferenciado para obter sucesso com essa super gessagem.
Além disso, e necessário observar o tipo de solo, pois nos arenosos corre-se o risco de, se realizada essa super dosagem de gesso, ocorrer a lixiviação dos nutrientes da camada superficial do solo para camadas mais profundas e o cafeeiro não ter acesso a esses nutrientes, levando a deficiências nutricionais, principalmente de potássio e magnésio.
Portanto, recomenda-se aplicar gesso, de acordo com a análise de solo, de 20 a 40 cm de profundidade, atentando-se para realizar a aplicação apenas se a análise química do solo atender aos requisitos abaixo:
– O teor de cálcio for menor ou igual a 0,4 cmolc/dm3;
– O teor de alumínio for maior que 0,5 cmolc/dm3;
– A saturação por alumínio (m) for maior que 30%.
Tabela de recomendação
Existem diversas metodologias utilizadas para recomendação de fertilizantes na cultura do café, cada qual com suas particularidades adequadas à região em que a mesma é utilizada. Portanto, a escolha do método a ser utilizado vai depender da região e das características pertinentes à área de cultivo que o cafeeiro se encontra.
Para estes fins, as metodologias mais utilizadas são o boletim 100, do IAC, e a 5ª Aproximação, muito utilizada no Estado de Minas Gerais. A seguir estão algumas das tabelas mais utilizadas nos cálculos de adubação:
Tabela 1. Recomendação de adubação corretiva para o cafeeiro (Casale et. al).
Tabela 2. Recomendação de N e K para manutenção da lavoura (5ª Aproximação)
Tabela 3. Recomendação de P para manutenção da lavoura (5ª Aproximação).
Respostas do cafeeiro às super dosagens de fósforo
Por muitos anos o cafeeiro foi considerado como uma planta que não respondia à aplicação de altas doses de P no solo, uma vez que este é um dos macronutrientes menos exportado pelos grãos de café.
Assim, a planta não precisaria de grande quantidade do nutriente para completar seu ciclo reprodutivo. Portanto, com base nessas premissas, as recomendações de adubação fosfatada de manutenção da cultura sugerem aplicações que vão ao máximo de 80 a 100 kg ha-1 de P2O5, quando houver expectativa de 60 scs ha-1 e baixos teores de P disponível no solo.
Nesse contexto, existem alguns trabalhos demonstrando que a cultura pode responder à maior adubação fosfatada em fase de produção, principalmente em solos de Cerrado, naturalmente de baixa fertilidade, e em anos de alta produtividade, testadas doses máximas de 90, 150 e 180 kg ha-1 de P2O5.
Em alguns trabalhos pode-se observar incrementos lineares de produtividade até a dose máxima anual de 400 kg ha-1 de P2O5 em sistemas irrigados e 600 kg ha-1 de P2O5 em sequeiro no Sul de Minas.
Nutrição x surgimento de doenças
O surgimento de doenças no cafeeiro é favorecido quando as condições ambientais são adequadas à disseminação das mesmas. Sobretudo, a propagação é maior quando a planta se encontra em algum tipo de estresse, seja ele nutricional ou hídrico.
Nesse sentido, a nutrição do cafeeiro é de grande importância para o manejo fitossanitário da lavoura, onde a correta e equilibrada nutrição faz com que ocorra redução nas chances de incidência de doenças na lavoura.
A relação entre as quantidades dos nutrientes na planta também possui relação direta com a incidência de doenças, principalmente a relação K:Ca, na incidência de cercosporiose no cafeeiro.
Portanto, o manejo correto dos fertilizantes no cafeeiro garante menores custos no controle de doenças nas plantas, onde as plantas equilibradas e bem nutridas terão maiores condições de evitar a disseminação das mesmas.
Silicatos substituem a calagem?
Atualmente, tem se discutido muito a respeito do uso de silicatos na agricultura, em que os mesmos são utilizados na correção de solos, e também no controle de patógenos, atuando como fungicidas na aplicação via foliar e nematicidas via solo.
A correção dos solos por meio do uso de silicatos é realizada, porém, sua eficiência é muito baixa, visto que a reatividade destes é muito reduzida no solo, pois sua granulometria, na maioria das vezes, é muito grosseira.
Sobretudo, a correção do solo deve ser feita com a aplicação de calcário, pois sua solubilidade é muito alta, com preço reduzido. Assim, seu custo-benefício se torna mais atrativo que a utilização de silicatos para estes fins.
Ademais, seu uso via foliar tem se mostrado muito eficiente no controle de doenças no cafeeiro, onde, por meio da interação das barreiras físicas e químicas que o silicato promove nas folhas, a disseminação dos fungos é muito reduzida.
Adubações de inverno
A realização de adubações de inverno ainda é pouco disseminada entre os cafeicultores, sendo mais comum o parcelamento das adubações entre os meses de outubro e março. No entanto, alguns trabalhos evidenciam que a realização de adubações de inverno, principalmente utilizando o nitrogênio (N), apresentam ganhos no início da vegetação na safra seguinte, garantindo assim maior crescimento e desenvolvimento do cafeeiro.
No Sul de Minas foram feitos ensaios parcelando a recomendação total da adubação da lavoura em 12 vezes, um a cada mês. Os resultados foram representativos, quando a absorção de nutrientes pelo cafeeiro foi feita de maneira gradual e pontual, assegurando assim ótimo vigor na planta, pela não ocorrência de deficiências.
O crescimento vegetativo se mostrou superior, quando comparado ao parcelamento tradicional entre os meses de outubro a março.
Macronutrientes via foliar
Muito se discute a respeito de aplicações via foliar de macronutrientes no cafeeiro, no entanto, o fornecimento de N, P, K, Ca, Mg e S, na maioria das vezes, são suplementados via solo. Geralmente as quantidades requeridas por esses nutrientes são elevadas, inviabilizando o fornecimento via foliar.
Sabe-se que os micronutrientes são fornecidos via foliar, por serem requeridos em menores quantidades. Sobretudo, cabe atenção por parte dos cafeicultores para que não ocorra falta de nenhum dos micronutrientes, pois se somente um deles estiver deficiente, a produção da planta estará comprometida (Lei do Mínimo).
Tabela 4. Recomendação de macro e micronutrientes em aplicações via foliar.