Â
Andrés da Silva
Engenheiro agrícola, M.Sc. e consultor em cultivo protegido
Apesar da grande importância do tomate no Brasil, esta sofre prejuízos enormes devido às pragas, em especial a broca pequena e grande do tomate, ambas lagartas da ordem Lepdoptera, conhecidas por danificarem diretamente os frutos das plantas, reduzindo a disponibilidade deles para a comercialização.
A broca pequena é uma praga tida pelos produtores como muito difícil de se controlar, pois após a eclosão dos ovos da larva, a broca pequena não demora mais que duas horas para penetrar nos frutos dificultando, desta maneira, o uso de inseticidas e agentes biológicos.
É comum os produtores terem perdas de mais de 50% da produção, chegando a até 90%, em determinadas situações. A broca grande, por sua vez, é uma praga importante nas culturas de milho e algodão, mas nos últimos anos, dado o seu caráter de alta polifagia (encontrada em mais de 180 espécies cultivadas e nativas) e grande capacidade de migração (pode voar 1.000 km em dois a três dias), tem tido importância em outras culturas, especialmente no tomate.
Hoje, em muitas lavouras mais de 60% das aplicações de inseticidas são feitas para o controle de lagartas.
Medidas para conter a praga
Por se tratar de pragas que atacam os frutos principalmente no início de seu desenvolvimento, devemos tomar medidas preventivas, desde o planejamento até o plantio da lavoura.
Um programa integrado de pragas é fundamental para o controle destes insetos. Recomenda-se a utilização do MIP (Manejo Integrado Pragas). De maneira simplificada, podemos definir o MIP em ações culturais, físicas, biológicas e químicas, que devem ser utilizadas de maneira racional e integrada para se obter resultados ótimos no controle das pragas em geral.
As ações ditas culturais vão desde a escolha do local de cultivo (clima x períodos de maiores incidências), das variedades escolhidas, da qualidade e sanidade das mudas, do uso da rotação de cultivos, adoção de vazio sanitário, o uso de barreiras vivas (1 m de altura, no mÃnimo), e cuidados no preparo do solo, assim como a imediata disposição final dos restos de cultura, a fim de diminuir as chances de autocontaminação e de infestação da lavoura.
As ações culturais devem favorecer o estabelecimento de plantas generativas, vigorosas e saudáveis. Deficiências nutricionais, estratégias de irrigação incorretas e/ou tratos culturais indevidos (ou atrasados) debilitam as plantas, tornando-as mais suscetíveis às pragas em geral.
Barreiras físicas
O uso de telados ou de estufas agrícolas são uma excelente barreira física no controle da broca. O cultivo em estufas permite, entre outros, a intensificação e alongamento do ciclo de cultivo, melhor uso da mão de obra e maior produtividade (de cinco a 10 vezes maior que o campo aberto), além de facilitar amplamente o monitoramento e a implantação de um MIP.
Seguindo uma tendência mundial, estimamos que dentro de cinco a 10 anos mais de 30% da produção atual de cultivo de tomate de mesa no Brasil seja feita na forma de cultivo protegido devido, sobretudo, Ã eficiência no controle de pragas e na redução do uso de água.
Outra técnica de barreira física que pode ser utilizada com eficiência é o ensacamento dos frutos (a mesma técnica utilizada na produção de goiaba). Para mais detalhes ver a Circular Técnica 33 da Embrapa Solos (Projeto Tomatec).
Biológicos
Para a aplicação dos controles biológicos e químicos é importante ter em mãos uma metodologia de monitoramento das pragas simples e eficaz. Para tanto, é preciso conhecer bem os hábitos e o ciclo de vida de cada praga para estabelecer uma estratégia eficaz de controle com o menor custo.
No caso das brocas do tomate, podemos fazer um monitoramento tanto observando a infestação nas plantas como em armadilhas especialmente desenvolvidas para este fim. Apesar de seu custo, o uso de armadilhas para monitoramento dos adultos facilita muito o trabalho do produtor.
Gravena & Benvenga (2010), em seu estudo de Monitoramento da broca-pequena-do-fruto para tomada de decisão de controle em tomateiro estaqueado, sugerem a inspeção de 12 amostragens com cinco plantas cada por talhões de um ha a cada duas semanas.
Para a broca-pequena deve-se avaliar visualmente uma penca por planta contendo frutos com diâmetro médio de 2 cm. O nível de ação é dado quando tivermos ao menos 5% das pencas com ovos ou com sinais de perfurações. No caso do monitoramento dos adultos, utilizam-se armadilhas do tipo Delta contendo feromônio sexual sintético.
Ainda Segundo Gravena & Bevenga, o nível de ação, no caso do monitoramento em armadilhas, é de 0,24 e 0,23 adultos na armadilha por dia, para os cultivos em ciclo de verão e inverno, respectivamente.