Fernanda Yasmin Garcia de Faria
eng.fernandagarcia490@gmail.com
Kaís Oliveira de Souza
kaisoliveira.souza@gmail.com
Roberto Gomes Alencar
roberto.gomes.027@ufrn.edu.br
Mestrandos em Ciências Florestais – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
A vaquinha é conhecida como larva-alfinete durante sua fase larval, e como vaquinha ou patriota quando atinge a fase adulta. Essa espécie é uma das principais pragas da cultura da batata.
As fêmeas depositam, em média, 400 ovos em fissuras no solo próximas às plantas. Após a eclosão, as larvas começam a se alimentar dos estolões e escavar tubérculos, o que compromete sua qualidade para consumo e para a indústria. Essa praga causa danos tanto na parte aérea quanto nos tubérculos da batata.
Origem e prejuízos
Os adultos migram para as lavouras de batata vindos de cultivos como milho, feijão e soja, alimentando-se dos folíolos. No entanto, esse consumo não compromete significativamente a produção, pois as infestações ocorrem quando a planta já desenvolveu uma boa quantidade de massa foliar.
Os prejuízos mais expressivos são provocados pelas larvas, que atacam diretamente os tubérculos, reduzindo seu valor comercial.
Condições que favorecem a infestação da praga
A infestação da vaquinha ocorre principalmente em solos escuros, ricos em matéria orgânica e com umidade entre 26 e 63%, já que esses são os ambientes ideais para a oviposição.
Além disso, a presença da praga está diretamente relacionada à temperatura e à precipitação, permitindo que ela se desenvolva em diferentes condições climáticas e complete de cinco a seis gerações por ano.
Essas características tornam seu controle mais desafiador, especialmente em regiões com alta umidade e temperaturas amenas.
Métodos de monitoramento
O monitoramento eficiente da vaquinha é essencial para um controle mais preciso e eficaz. Para detectar os adultos, as armadilhas luminosas com lâmpadas UV (BLB, BL e B) e iscas atrativas feitas com partes do fruto de abóbora amarga são amplamente utilizadas, podendo ser tratadas ou não com inseticidas.
Já o monitoramento das larvas é realizado por meio do peneiramento do solo sobre plásticos pretos, permitindo identificar e conter as larvas presentes. Além disso, a destruição de restos culturais e a dessecação antecipada das áreas contribuem para a redução da infestação, dificultando a alimentação e reprodução do inseto.
Métodos de controle
Embora os métodos de controle como o uso de inseticidas no sulco de plantio e o tratamento preventivo de larvas tenham se mostrado complicado, devido à baixa persistência dos produtos no solo e à dispersão fácil dos adultos, o monitoramento contínuo é crucial para um controle mais eficiente.
Outro método promissor é o uso de cultivares de batata resistentes, como aquelas derivadas de espécies silvestres de Solanum, que apresentam resistência natural à praga.
Manejo integrado
O manejo integrado de pragas (MIP) contribui para o controle de pragas ao combinar diferentes estratégias, como o controle biológico, cultural e químico, reduzindo a necessidade do uso excessivo de inseticidas.
Ele pode proporcionar ao produtor o momento ideal para aplicação de inseticidas, que de acordo com os manuais de entomologia agrícola é na fase inicial, nas primeiras fases de desenvolvimento das pragas que estas são mais suscetíveis ao controle.
Identificar o melhor período para aplicação certamente é a melhor forma de promover uma agricultura com poucas aplicações de inseticidas, garantindo maior eficiência e minimizando impactos ambientais.
Isso inclui a preservação da biodiversidade, a redução da contaminação do solo e da água, além da diminuição dos riscos à saúde humana e aos organismos benéficos.
Novas tecnologias
Nos últimos anos, bioprodutos têm se popularizado no manejo da vaquinha, destacando-se especialmente os fungos entomopatogênicos, como Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae.
Esses fungos têm sido utilizados para infectar e reduzir as populações da vaquinha de maneira natural e eficaz. Além disso, a legislação sobre bioprodutos tem avançado no Brasil. Em 2024, o governo sancionou uma lei que regulamenta a produção e o uso desses produtos, trazendo maior segurança jurídica aos produtores que adotam essas tecnologias em suas propriedades.
Esse marco legal tem contribuído para a expansão do mercado de bioprodutos, oferecendo mais opções sustentáveis para o controle da vaquinha e outras pragas agrícolas.
Estratégias
O controle cultural, como a rotação de culturas e o manejo adequado do solo, desempenha um papel fundamental na redução da incidência da vaquinha nas lavouras de batata.
A rotação de culturas, que consiste em alternar o cultivo de diferentes espécies vegetais, é uma estratégia eficaz para interromper o ciclo de vida da vaquinha. Isso ocorre porque muitas pragas, incluindo a vaquinha, são adaptadas a se alimentar de determinadas plantas hospedeiras.
Ao cultivar culturas que não são atraentes para a praga, reduz-se a disponibilidade de alimento e, consequentemente, a população da vaquinha. Além disso, o manejo do solo, incluindo práticas como o controle da umidade e a melhoria da estrutura do solo, pode dificultar o desenvolvimento das larvas da vaquinha, que se alimentam das raízes das plantas.
Manejo de irrigação
Técnicas de irrigação bem controladas e o uso de cobertura do solo também ajudam a prevenir o ambiente propício para a praga. Ao combinar essas estratégias culturais com o uso de bioprodutos ou outros métodos de controle integrado de pragas, é possível diminuir significativamente a pressão de ataque da vaquinha, aumentando a eficiência e a sustentabilidade da produção de batata.
Contudo, essas práticas não só reduzem a dependência de produtos químicos, mas também contribuem para a sustentabilidade da produção agrícola, promovendo uma abordagem mais ecológica e de baixo impacto ambiental.
Casos de sucesso
A vaquinha é uma praga frequente nas plantações de batata, causando prejuízos às raízes e aos tubérculos. Controlá-la de maneira eficaz é fundamental para assegurar uma boa colheita.
Há vários exemplos de estratégias bem-sucedidas no controle dessa praga, especialmente por meio de práticas de manejo integradas. No sul do Brasil, a rotação de culturas tem se revelado uma estratégia eficaz no controle da vaquinha.
A prática de alternar o cultivo de batata com outras culturas, como milho e soja, tem mostrado bons resultados na redução das populações de vaquinha. A vaquinha tem uma forte preferência por determinados tipos de plantas como hospedeiros, e, ao mudar de cultura, cria-se um ambiente menos favorável à sua reprodução e desenvolvimento.
Alternância de cultivo
A alternância dificulta o estabelecimento e a proliferação da praga, já que ela não consegue se adaptar facilmente aos novos cultivos. Além disso, a rotação contribui para a melhora da saúde do solo, reduzindo a pressão das pragas ao longo dos ciclos de cultivo e promovendo uma produção mais sustentável.
A alternância com milho ou soja diminuiu consideravelmente a população da praga, o que resultou em uma menor necessidade de tratamentos químicos e em um aumento na produtividade das plantações de batata.
Biológicos
O uso de inseticidas biológicos, como o Bacillus thuringiensis (Bt), tem demonstrado eficácia no controle da vaquinha, sem prejudicar o meio ambiente ou afetar espécies benéficas. Em várias áreas de cultivo de batata, essa solução foi aplicada com sucesso, ajudando a reduzir a população da praga durante o ciclo da cultura.
A utilização do Bacillus thuringiensis resultou em uma redução eficaz na população da vaquinha, sem causar o desenvolvimento de resistência por parte dos insetos. Além disso, esse inseticida biológico não teve efeitos adversos sobre outros insetos benéficos ao ecossistema, como as abelhas e os predadores naturais da praga, preservando o equilíbrio ecológico.
Isso torna o Bacillus thuringiensis uma opção vantajosa, pois permite o controle da praga de forma eficiente e sustentável, sem comprometer a biodiversidade local e a saúde do ambiente agrícola.
Armadilhas como opção sustentável
Em algumas áreas, especialmente em estados brasileiros produtores de batata, foi feita a utilização de feromônios sexuais em armadilhas para capturar os insetos adultos da vaquinha. Esse método contribui para reduzir a população inicial de adultos, aliviando a pressão da praga nas plantas de batata.
A captura de adultos usando armadilhas com feromônios tem se mostrado eficiente no controle da vaquinha, especialmente quando combinada com outras estratégias de manejo. Isso resultou em menor necessidade de aplicação de inseticidas, além de ajudar no aumento da produtividade das lavouras de batata.
Cobertura de solo
Em várias áreas de cultivo, a adoção de práticas como o adensamento do plantio e o uso de coberturas de solo (mulching) tem se mostrado eficaz na diminuição dos danos causados pela vaquinha.
A utilização de coberturas de solo impede que os insetos se desloquem facilmente, dificultando também a postura de ovos. Além disso, essas coberturas oferecem benefícios adicionais, como a manutenção de um nível adequado de umidade no solo e a proteção contra a exposição direta ao sol, criando condições mais favoráveis para as plantas e menos atraentes para as larvas da praga.
O solo coberto também ajuda a reduzir a temperatura e aumentar a retenção de água, o que favorece o desenvolvimento das plantas de batata. Quando essas técnicas culturais são combinadas com uma irrigação eficiente e bem planejada, observa-se uma redução significativa na infestação da vaquinha.
Isso não apenas resulta em um aumento na produtividade das lavouras, mas também diminui a dependência de tratamentos químicos, promovendo uma agricultura mais sustentável e ecologicamente responsável.
Plantas repelentes
O uso de plantas repelentes, como o tagetes (cravo-de-defunto), tem se destacado como uma abordagem eficaz para afastar a vaquinha das lavouras de batata. Essas plantas são naturalmente conhecidas por suas propriedades que dificultam a presença de várias pragas, incluindo a vaquinha, funcionando como um repelente biológico.
Quando integradas ao cultivo de batata, as plantas repelentes criam um ambiente menos atraente para os insetos, reduzindo a infestação da praga. Em áreas onde essa técnica foi aplicada, observou-se não apenas uma queda significativa na população de vaquinhas, mas também uma diminuição nas doenças associadas a elas, como aquelas provocadas pelas larvas que atacam as raízes.
Além disso, o uso dessas plantas contribui para a biodiversidade do sistema agrícola, oferecendo uma alternativa sustentável ao uso excessivo de pesticidas e promovendo um manejo mais equilibrado das pragas. Com a implementação de práticas como essa, os produtores têm conseguido aumentar a produtividade das lavouras de batata de forma mais ecológica e eficiente.
Genética
O desenvolvimento e a adoção de variedades de batata que sejam resistentes ou tolerantes à vaquinha têm se mostrado uma solução eficaz para o controle da praga. Pesquisas realizadas em várias regiões produtivas têm revelado a existência de cultivares de batata com características específicas que tornam as raízes menos atraentes para a vaquinha ou, até mesmo, mais resistentes à infestação.
Essas variedades possuem propriedades que dificultam a alimentação e a reprodução da praga, reduzindo significativamente os danos causados. Ao optar por essas variedades, os agricultores têm conseguido diminuir a necessidade de uso intensivo de pesticidas e inseticidas, o que não só reduz os custos com o controle químico, mas também contribui para uma produção mais sustentável e menos impactante ao meio ambiente.
Além disso, o cultivo dessas variedades tem levado a uma colheita de batatas de melhor qualidade, com menos danos às raízes e maior valor comercial, proporcionando benefícios tanto econômicos quanto ecológicos para os produtores.