Claudia Adriana Görgen
Engenheira agrônoma e doutora em Geociências Aplicadas – Universidade de Brasília (UnB)
gorgenclaudia@gmail.com
Pós revolução verde podemos dizer que a cultura da soja, por ser a mais cultivada no Brasil (78,53 milhões de hectares, segundo a CONAB) é a que mais utiliza insumos biológicos.
A utilização e insumos biológicos na cultura da soja, no Brasil, iniciou por volta de 1960, quando a engenheira agrônoma Dra. Johanna Döbereiner canalizou para a prática de inoculação de bactérias fixadoras de nitrogênio no momento da semeadura da soja.
Os anos passaram e a “biotecnologia” introduziu microrganismos ou substâncias/estruturas originadas no DNA da planta, como por exemplo a tecnologia BT. Desta forma, seja na parte externa ou interna da planta podemos afirmar que, no caso da cultura da soja, 100% da área utiliza bioinsumos.
Infinitas possibilidades
Além da soja, todas as lavouras cultivadas (milho, trigo, feijão, arroz, pastagens, hortifrúti (incluindo hidroponia)) são beneficiadas com algum tipo de produto biológico. Estes bioprodutos podem ser comunidades de microrganismos (bactérias, fungos, etc.) ou microrganismos específicos, como o próprio Bradyrhizobium japonicum.
É sempre muito importante frisar que qualquer microrganismo específico multiplicado em condições controladas foi “isolado/retirado/extraído” da ampla multidão de microrganismos naturalmente presentes na natureza, onde encontravam-se vivendo e equilibrando o seu habitat em interações e integrações comunitárias e colaborativas.
Tendências
Sem dúvidas, chegaremos a 100% de produtos destinados a 100% das plantas cultivadas até 2030.
Lembrando que, antes da Revolução Verde, todas as plantações já eram de alguma forma cultivadas com bioinsumos. Não existe na face da terra, nem nunca existiu, plantas vivas sem sua coirmã, a comunidade biológica associada, seja qual for o método de cultivo.
Eficácia comprovada
O crescimento do uso de produtos biológicos é exponencial. A eficácia é outra história! O problema maior de qualquer tecnologia é a falta de conhecimento, eu chamo isso de “preguiça mental”. Utilizo sempre a seguinte frase: “Quem aprende, não depende e se defende”.
A eficácia de um produto, em razão do valor aplicado e pelo benefício gerado, serve até para um celular novo que tem inúmeras funcionalidades, mas nós utilizamos somente para enviar e receber mensagens.
A eficácia depende de:
– Crença/paradigma do dono da fazenda e seus funcionários: se não acreditar nunca vai funcionar mesmo!
– Da condução da lavoura! A. desde a implantação de plantas de cobertura, rotação de culturas e manutenção da palhada por maior tempo possível (SPD básico bem feito); B. reestabelecimento da comunidade microbiológica do solo; C. efetiva realização do manejo integrado de pragas e doenças durante todo o ano, não somente no ciclo da cultura principal.
– Controle de qualidade do produto biológico.
– Efetiva capacidade de o microrganismo específico parasitar e se estabelecer na lavoura.
Para testes agronômicos de eficácia de bioinsumos, a Terra Nova – Agricultura Planetária Sustentável organiza Treinamento presencias nas fazendas e via web conferências, ensinando e preparando técnicos qualificados com práticas simples, organizadas e de fácil execução nos campos de produção em larga escala.
Nova geração de bioinsumos
A Nova Geração sempre será a natural. As comunidades de microrganismos sempre terão o papel de “cura” do sistema produtivo. No entanto, no processo de transição dos sistemas sempre teremos algumas situações pontuais com uso de microrganismos específicos para controle de algum desequilíbrio.
Para fungo, as principais cepas de domínio público são:
Beauveria bassiana IBCB 66
Metarhizium anisopliae. IBCB 425
Trichoderma ESALQ 1306
Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium diazoefficiens SEMIAS 5079 e 5080
Bacillus subtilis – qst-713-01
Bacillus thuringiensis, var. kurstaki, linhagem HD-1 17.600
Bacillus subtilis subsp. spizizenii – B005
Prevenção sempre será o melhor caminho
No processo de regeneração de sistemas, sempre haverá métodos eficazes de prevenção de pragas e doenças por mecanismos de bioativação de solos e plantas.
No mais, partindo do princípio que toda praga e doença é resultado de um desequilíbrio desencadeado pela “desorganização biofisicoquímica”, podemos lançar mão de produtos biológicos para controle de todos os organismos considerados pragas e doenças.