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Biológico: Eficiência superior a 80% no manejo de nematoides

Autores

Vanessa Alves GomesEngenheira agrônoma, mestre em Fitopatologia e doutoranda em Proteção de Plantas – UNESP/Botucatuvavvgomes@gmail.com

Fabíola de Jesus SilvaEngenheira agrônoma, mestre em Produção Vegetal e doutora em Fitopatologia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)fa.agronomia@gmail.com

Carolina Alves GomesGraduanda em Agronomia – Universidade Federal de Viçosa (UFV/CRP)carol.agomes11@gmail.com

Broto – Fotos: Shutterstock

Os nematoides parasitas de plantas são responsáveis pela redução de cerca de 10% da produção agrícola mundial. O elevado número de casos evidenciados em diversas culturas alerta a capacidade desses patógenos em causar grandes prejuízos econômicos.

Uma vez estabelecido no campo, a erradicação dos nematoides é praticamente impossível. Deste modo, além do manejo ser oneroso, ele requer medidas combinadas. O manejo dos nematoides fitoparasitas visa uma redução da população em níveis abaixo do limiar de dano econômico.

Diante da necessidade de sistemas mais sustentáveis e alimentos mais saudáveis, o Brasil e outros países sentem a necessidade de implantar o manejo integrado dos fitonematoides onde o controle biológico é uma ferramenta indispensável, principalmente por apresentar os seguintes benefícios: não prejudicar o meio ambiente; não deixar resíduos nos produtos colhidos; não favorecer a seleção de populações resistentes dos nematoides, não causar desequilíbrio na biota do solo e ser de fácil aplicação.

Entenda melhor

Assim, entende-se por controle biológico o controle de um microrganismo por meio da ação direta de outro microrganismo, denominado antagonista, o qual pode atuar por competição por espaço e nutrientes, parasitismo, predação e produção de compostos tóxicos.

Do ponto de vista nematológico, o controle biológico é a redução da densidade populacional do nematoide pela ação de um organismo vivo, ou a manipulação do ambiente com a introdução de antagonistas.

Segundo o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), os agentes de controle biológico podem ocorrer de forma natural ou podem ser obtidos por manipulação genética e serem introduzidos no ambiente. Vários organismos são considerados inimigos naturais de fitonematoides, tais como bactérias, fungos, nematoides predadores e ácaros.

Entretanto, apenas algumas espécies de fungos e bactérias podem ser utilizadas racionalmente no controle de nematoides. Os fungos têm se destacado como agentes potenciais para controle biológico, seguidos das bactérias. 

Cerca de 75% dos antagonistas já identificados são fungos e outros 7% são bactérias, encontrados normalmente nos solos e inofensivos às culturas. É possível observar parasitismos de ovos, predação de juvenis, adultos ou cistos, ou ainda produção de substâncias tóxicas aos nematoides.

Pesquisas

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Estudos com bactérias no controle biológico de nematoides têm crescido cada vez mais. Bactérias dos gêneros Pasteuria, Pseudomonas e Bacillus têm mostrado grande potencial para o biocontrole de nematoides. Podemos encontrar rizobactérias, bactérias nematófagas e bactérias endofíticas atuando no controle biológico dos fitonematoides.

As espécies de Bacillus são muito estudadas por apresentarem a facilidade de produção massal, além da produção de endósporos resistentes ao calor (característica desejável para a formulação de bionematicidas a partir de isolados com ação antagônica).

Podemos encontrar o uso do controle biológico com Bacillus em diversas culturas, tais como hortifrútis, cereais, algodão, café, florestais, dentre outras. No geral, o controle é mais lento, quando comparado com o controle químico, e deve ser utilizado de forma associada com outros métodos de controle. Deste modo, é possível obter reduções significativas da população do nematoide.

Pesquisas com experimentos em campo atestam que o uso da bactéria Bacillus spp. para combate de fitonematoides apresenta resultados eficientes, semelhantes muitas vezes ao tratamento químico.

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Resultados

– Café –  Em áreas infestadas com M. exigua, o uso de Bacillus potencializou o efeito do tratamento químico. Dose do nematicida microbiológico Quartzo® (B. subtilis e B. licheniformis) a partir de 300 g ha-1 atua no controle de nematoides de forma semelhante ao nematicida químico (Lima et al., 2018).

A redução da população de nematoides, com o uso de produtos biológicos, acontece de forma lenta e, geralmente, os resultados são vistos após 180 dias da aplicação, com reduções de até 90% da população de J2.

Doses maiores e parceladas dos produtos biológicos (intervalo de 30 dias) reduzem o nematoide no solo e raízes.

– Seringueira – Outro estudo revelou que Bacillus licheniformis + Bacillus subtilis (Nemix® – 1,5 kg ha-1) conseguiram reduzir o fator de reprodução (FR) de M. exigua em seringueiras em torno de 80% (Souza et al., 2019).

– Algodão – Na cultura do algodão, é possível perceber efeito positivo no controle de M. incognita com a utilização de Bacillus firmus via tratamento de sementes (Mattos et al., 2015). Os resultados mostraram que aos 60 dias após a inoculação do nematoide, houve redução de pelo menos 60% do fator do FR na cultivar FM 966.  Em outro estudo, foi possível observar que B. subtilis promoveu o crescimento do tomateiro e a diminuição da reprodução de Meloidogyne spp., (Araújo et al, 2009). 

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Biológico x químico

O controle biológico possui inúmeras vantagens em relação ao químico, por não desequilibrar o meio ambiente e nem deixar resíduos, sendo então uma medida mais sustentável. É um método que apresenta grande potencial de utilização, uma vez que os resultados publicados mostram sua eficiência por meio de vários microrganismos. Portanto, o produtor deve adotar uma série de ferramentas complementares de manejo, de modo a criar condições favoráveis para que o microrganismo seja efetivo.

Um agente de controle biológico aplicado em solo extremamente pobre, degradado, sob condições climáticas adversas, provavelmente não conseguirá atuar de maneira adequada no controle de nematoides.

Inovações

Algumas empresas vêm focando suas pesquisas no desenvolvimento de formulações com organismos que sejam antagonistas dos fitonematoides. Ainda existem limitações técnicas e comerciais que precisam ser superadas para que os produtos biológicos possam conquistar ainda mais o mercado de nematicidas no Brasil.

Uma alternativa que pode ser utilizada pelos produtores é o uso da técnica “on farm”, em que o produtor realiza todo o processo de multiplicação dos microrganismos em sua própria propriedade, reduzindo bastante os custos. Neste caso, é importante seguir todas as recomendações para garantir que o microrganismo aplicado está vivo e em boas condições para atuar no controle do patógeno.

É muito importante, inicialmente, reduzir a população do nematoide na área, para depois entrar com o controle biológico. Assim, o controle biológico atua mantendo a população do nematoide baixa por mais tempo na área (por um ou mais dos diversos mecanismos mencionados acima).

Porém, ele não consegue agir sozinho no controle dos fitonematoides. Todos estes fatores são de suma importância para a obtenção do sucesso no manejo dos nematoides.

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