Autores
Bruna Cristina de Andrade – brunaandrade639@yahoo.com.br
Lucas Pereira da Silva – lucassilvapee@gmail.com
Engenheiros agrônomos e mestrandos em Proteção de Plantas – Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Carla Maria Cavalcanti Ribeiro – Bióloga e doutoranda em Fitopatologia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) – carla.ribeiro@estudante.ufla.br
Camila Primieri Nicolli Engenheira agrônoma, doutora em Fitopatologia e assistente de Pesquisa & Desenvolvimento camilaprimierinicolli@gmail.com
Com a alta do dólar no primeiro semestre, os preços dos químicos e fertilizantes dispararam no mercado internacional, atingindo quase 50% de aumento em relação ao mesmo período do ano passado. Com isso, os agricultores brasileiros que não tinham adquirido os insumos para a safra 2020/21, se optarem agora pelos mesmos produtos vão pagar muito mais caro.
Diante deste novo cenário, surge uma grande oportunidade para os insumos biológicos. Os produtores que já usam e os que ainda não utilizam a tecnologia de manejo com os biológicos terão a chance de aproveitar a melhor relação custo-benefício do mercado.
Brasil x biológicos
O Brasil ganha destaque como o “Celeiro do mundo”, por ser um País que lidera a cadeia produtiva de alimentos e, concomitantemente, contribui de forma significativa para alimentar a população mundial. Nosso país foi responsável pela produção de 240 milhões de toneladas de alimentos no último ano.
No entanto, os desafios no campo são diversos, uma vez que o clima tropical favorece o ataque de pragas e doenças nos cultivos. Diante desses desafios, sob a ótica de utilização de defensivos agrícolas, conseguimos enxergar um aumento de 7,3% da área tratada na proteção dos cultivos. Com isso, é notório que o incremento da produtividade total de alimentos, fibras e energia ocorre com a adoção de técnicas de manejo integrado.
A integração do controle biológico nesse sistema tem colaborado para o bom desempenho da agricultura nas últimas safras. A indústria de biodefensivos veio somar às alternativas e tecnologias já disponíveis no mercado, de modo que os produtores rurais tenham inúmeras formas eficientes para o controle de doenças e pragas que desafiam a produção agrícola.
Tendências
No cenário mundial, o uso de biológicos na agricultura cresce de forma acelerada. O Brasil trilha caminho no mesmo ritmo, pois a linha de bioinsumos está em crescente expansão no mercado. Nesse sentido, o incentivo governamental e medidas políticas de adesão a essas tecnologias é de suma importância para a implementação nas propriedades rurais e cooperativas.
Frente à era da sustentabilidade, a ministra da agricultura Tereza Cristina lançou o Programa Nacional de Bioinsumos em maio deste ano, que visa o desenvolvimento tecnológico, científico e bioeconômico da indústria de inoculantes, biofertilizantes, bioprodutos para nutrição animal e vegetal, biodefensivos no controle de pragas e doenças, entre outros.
O Programa Nacional de Bioinsumos visa ainda viabilizar recursos para o financiamento de biofábricas e investimentos em produção on farm. A proposta do projeto inclui reforçar as pesquisas nacionais de cunho ecologicamente sustentável na agricultura, em que órgãos de pesquisa pública, tais como Embrapa e universidades estarão inseridos nesse plano de desenvolvimento.
Em esfera mundial, com o Programa de Bioinsumos, o Brasil poderá ser altamente beneficiado, uma vez que o mercado internacional é exigente em produtos alimentícios de qualidade, portanto, empoderar a produção nacional agrícola de forma sustentável coloca o Brasil em patamares competitivos no mercado global.
Além disso, a alta variação do dólar ecoa positivamente no mercado de bioinsumos, uma vez que a oneração do preço de inseticidas, fungicidas e fertilizantes é uma realidade em função da pandemia da Covid-19. Assim, com a alta do preço dos defensivos químicos, torna-se uma oportunidade para a implantação dos bioinsumos no plano de safra 2020/21.
Todavia, essas medidas políticas que afirmam o uso de biológicos na agricultura sugerem difusão da tecnologia para pequenos, médios e grandes produtores, sendo eles orgânicos ou não. A adoção da técnica vem crescendo ano após ano, mas ainda há muito espaço para avançar.
Em campo
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No Brasil, podemos citar como um exemplo clássico de sucesso de controle biológico em pragas: a broca-da-cana (Diatraea saccharalis), principal praga desta cultura, que tem seu controle por meio de dois parasitoides atuando como agentes do controle biológico, a Cotesia flavipes, que age na fase larval da broca, e o Trichogramma galloi, que parasita ovos.
Na cultura da soja, destaca-se o uso do Trissolcus basalis no controle de percevejos fitófagos e de Baculovirus anticarsia para controle da lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), um dos produtos mais difundidos entre as lavouras.
Na vertente proteção de cultivos contra doenças, é importante ressaltar o controle biológico na cultura da soja. O uso de Trichoderma no controle do mofo branco destaca-se entre o manejo convencional da doença. Os casos de sucesso não se delimitam para doenças fúngicas, pois o êxito alcançado pela técnica também é comprovado no controle de nematoides.
Os bionematicidas estão sendo aderidos pelos produtores e têm proporcionado resultados satisfatórios no controle de nematoides das galhas, cisto, entre outros. A tabela 1 apresenta alguns agentes de controle biológico utilizados no Brasil.
Tabela 1: Agentes de controle biológico, seus alvos e culturas recomendadas
Agente de controle biológico | Alvo biológico | Cultura Recomendada |
Bacillus subtilis | Podridão-radicular (Rhizoctonia solani) Podridão de esclerotinia (Sclerotinia sclerotiorum) | Soja |
Baculovirus anticarsia | Lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis) | Soja |
Beauveria bassiana | Ácaro-rajado (Tetranychus urticae), gorgulho-do-eucalipto (Gonipterus scutellatus), broca-do-café (Hypothenemus hampei) e mosca-branca (Bemisia tabaci) | Todas as culturas com ocorrência do alvo biológico. |
Metarhizium anisopliae | Cigarrinha-da-raiz (Mahanarva fimbriolata) | Cana-de-açúcar |
Bacillus amyloliquefaciens | Nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) | Todas as culturas com ocorrência do alvo biológico. |
Biológicos x químicos
Na agricultura, o uso do controle biológico apresenta diversas vantagens, principalmente em relação aos produtos químicos, por não apresentar toxicidade ao meio ambiente, aos manipuladores e consumidores do produto. No entanto, para que o biodefensivo possa ser eficaz, é necessário que o produtor siga as recomendações de um especialista no assunto, como por exemplo, quanto às questões relacionadas ao transporte, armazenamento e a aplicação.
Alguns produtores, visando economia e lucro, acabam utilizando produtos biológicos sem o devido registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), órgão responsável por conferir a eficiência do produto para determinado alvo, o que claramente pode interferir nos resultados esperados.
Por conter organismos vivos, os produtos biológicos são sensíveis, e cuidados tomados na sua produção e formulação visam garantir um maior tempo de vida útil. Mas o transporte e armazenamento realizados em condições adversas podem comprometer a eficiência dos biodefensivos. Por isso, é importante estar sempre atento às recomendações específicas do produto.
Uma outra situação que merece destaque se refere à aplicação do produto, pois a aplicação de forma incorreta pode trazer como consequência uma menor produtividade e comprometimento no lucro final.
É preciso atentar à dose indicada pelo fabricante, uma vez que alguns produtores, objetivando economia, aplicam uma dose menor do que a recomendada, o que acarreta menor eficiência do produto. Por outro lado, doses maiores que a prescrição não garantem um melhor resultado no controle do alvo biológico e, por conseguinte, implicam em um maior custo para o produtor.
Além disso, características climáticas, como temperatura, velocidade do vento, umidade relativa do ar (URA) e luminosidade, influenciam na aplicação por pulverização. É preciso considerar o melhor momento para aplicação do produto.
O ideal é proceder as aplicações no final da tarde, durante a noite ou ao amanhecer, quando a temperatura está mais amena e com menor incidência solar. Esta prática é recomendada já que os biodefensivos, na sua maioria, são sensíveis à radiação UV, elevadas temperaturas e necessitam de boas condições de URA.
Como agregar à técnica
Uma maneira de agregar à técnica do controle biológico pode ser aderir ao nicho do mercado da agricultura orgânica. Na agricultura orgânica, o sistema de produção é livre de produtos químicos, consolidando-se como uma ótima alternativa para agricultura familiar, pois o custo de produção orgânica comparado à produção convencional é menor.
O uso exclusivo de produtos biológicos no manejo de grandes culturas vem possibilitando o cultivo de soja orgânica para atender à crescente demanda do mercado consumidor no Brasil, que deve crescer entre 30 e 35% este ano. As projeções mostram um faturamento acima dos R$ 3 bilhões (Organics Brasil).
Com o intuito de reduzir a dependência dos produtores rurais em relação aos insumos importados, o Programa Nacional de Bioinsumos desenvolveu uma ferramenta afim de auxiliar os produtores, o aplicativo chamado Bioinsumos, disponível nas versões para IOS e Android, que fornece uma relação com 580 produtos biológicos disponíveis no Brasil, registrados no Mapa, e que são destinados à nutrição e ao combate de pragas e doenças.
Uma vantagem apresentada pelo produto biológico se deve ao fato de o microrganismo aplicado ter a capacidade de se multiplicar no meio ambiente. Em consequência do seu efeito duradouro, a frequência das aplicações pode ser reduzida, quando comparado, por exemplo, a um produto químico de curta duração e efeito de choque, em que se faz necessário um maior número de entradas na lavoura.
O controle biológico tem grande potencial para aplicações a campo em larga escala, pois esses produtos apresentam complexos mecanismos de ação, fazendo com o que o tempo estimado para que o alvo apresente resistência ou o ingrediente ativo perca eficácia no controle.