Autores
Mariane Gonçalves Ferreira Copati – marianegonferreira@gmail.com
Herika Paula Pessoa – herikapaulapessoa@gmail.com
Françoise Dalprá Dariva – fran_dariva@hotmail.com
Engenheiras agrônomas e doutorandas em Fitotecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)

A calagem é a etapa do preparo do solo destinada à aplicação do calcário, e tem como objetivo neutralizar a acidez e os efeitos nocivos do alumínio e do manganês no solo e, também, fornecer cálcio e magnésio para as plantas.
Além disso, a calagem promove a elevação do pH do solo, o qual deve estar dentro dos limites estabelecidos para o desenvolvimento de cada cultura. O maior aproveitamento dos benefícios oferecidos pela calagem ocorre quando realizada com antecedência, situação em que há tempo suficiente para a reação do corretivo no solo.
Dessa forma, é possível garantir que, no momento do plantio, a acidez e os elementos tóxicos, alumínio e manganês já estejam neutralizados e os elementos cálcio e magnésio prontamente disponíveis para utilização pelas culturas.
Benefícios
Os benefícios da calagem nas plantas podem ser observados, principalmente, no aumento do crescimento radicular e na absorção dos nutrientes essenciais para o desenvolvimento e crescimento das plantas.
A absorção dos nutrientes é dependente do pH do solo, dessa forma, à medida que o pH aumenta, até certo limite ocorre o aumento na absorção dos nutrientes. A correção do pH do solo também cria condições adequadas para o crescimento de microrganismos benéficos, os quais podem atuar na degradação da matéria orgânica e liberação de nutrientes como nitrogênio, fósforo e enxofre para as plantas, favorecendo a nutrição adequada e, consequentemente, maximizando a produtividade.
Dessa forma, sem uma calagem adequada a nutrição das plantas é prejudicada e, consequentemente, são observadas reduções drásticas no rendimento das lavouras.
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Comece pela análise
A recomendação geral da época para realizar a calagem é de pelo menos três meses antes do plantio da cultura. No entanto, os principais fatores determinantes para escolha da época de aplicação são a disponibilidade hídrica do local e a qualidade física e química do calcário, uma vez que esses aspectos determinam o poder de reação do calcário no solo. A qualidade do calcário pode ser medida pelo seu poder relativo de neutralização total (PRNT).
O primeiro passo para uma boa recomendação da calagem é a realização da amostragem do solo e o envio para análise química. Uma boa análise de solo começa com a coleta adequada das amostras. O recomendado é dividir a área em talhões de no máximo 10 hectares, que sejam homogêneos quanto à vegetação, topografia, tipo de solo, tempo de uso, produtividade e aplicação de fertilizantes.
Áreas com manchas de solo e declividade acentuada devem ser amostradas separadamente. Para a maioria das culturas, a retirada das amostras é feita na profundidade de 0 a 20 cm (“camada arável”) caminhando em zigue-zague ao longo do talhão.
Nos sistemas de cultivo convencional, quando se deseja obter informações sobre a fertilidade de camadas mais profundas, recomenda-se coletar uma amostra composta para cada 20 cm de profundidade do solo, ou seja, uma amostra para a camada de 0 a 20 cm, outra para a camada de 20 a 40 cm, e assim por diante.
Em sistemas de plantio direto, o ideal é que esse intervalo seja menor (em torno de 10 cm). O número de amostras simples, coletadas em pontos ao acaso, varia entre 15 e 20 amostras por talhão, que deverão ser misturadas formando a amostra composta, que será enviada ao laboratório, pesando aproximadamente 500 g.
Quando se pensa na recomendação da calagem, o ideal é que a análise química do solo seja feita antes da implantação de qualquer cultura ou, pelo menos, uma vez ao ano. É importante ressaltar que as amostras devem ser encaminhadas para laboratórios certificados e com rigoroso controle de qualidade.
A partir dos resultados da análise do solo, o engenheiro agrônomo poderá verificar a necessidade e a quantidade de calcário que deverá ser aplicada, bem como definir o tipo de calcário e método de aplicação. A aplicação do calcário é, normalmente, realizada a lanço, com ou sem a incorporação, dependendo do sistema de cultivo adotado.
Fique de olho
O manejo incorreto da calagem nas diferentes áreas de cultivo culmina no insucesso da técnica, fazendo com que produtores duvidem de seus benefícios, o que gera uma certa resistência para sua adoção.
Dos erros mais frequentes, destacam-se, principalmente, a negligência da análise química de solo, ou mesmo erros de amostragem, o que acaba resultando na aplicação de doses equivocadas de calcário na área. Para o cálculo da necessidade de calagem é imprescindível que o técnico tenha à sua disposição a análise química do solo e que esta represente o mais fielmente possível as condições de campo.
Outra dúvida frequente dos produtores é quanto à incorporação ou não do calcário nos diferentes sistemas de cultivo. A incorporação do calcário na camada de 0 a 20 cm por meio da aração ou da gradagem da área é recomendada no cultivo convencional, uma vez que o revolvimento do solo após a distribuição do calcário a lanço amplia a superfície de contato entre o corretivo e os coloides do solo, favorecendo as reações de neutralização da acidez.
No caso de sistemas de plantio direto, contudo, a incorporação do calcário não é recomendada. Existem trabalhos mostrando que a aplicação de calcário em superfície, nos sistemas de plantio direto, já é suficiente para elevar o pH e os teores de cálcio e magnésio, bem como para diminuir os teores de alumínio trocável, especialmente nas primeiras camadas de solo.
Vale ressaltar que o produtor deve tomar cuidado para não ocorrer problemas com supercalagem, que é a aplicação de doses de calcário acima das recomendáveis. A supercalagem traz diversas desvantagens para os sistemas agrícolas, como a maior dispersão da fração argila do solo, mineralização excessiva da matéria orgânica do solo e redução da disponibilidade dos nutrientes para as plantas.
Custos
De forma geral, os custos com a calagem correspondem a uma pequena fatia do custo total de produção. Trabalhos recentes mostram que essa representatividade fica em torno de 2,65% para a cebola, 4,78% para o amendoim, 1,73% para a uva e 2% para a goiaba.
Além do custo baixo, o emprego dessa técnica tem demonstrado ganhos significativos em produção, o que justifica ainda mais o seu uso.
Essencialidade
O Brasil é hoje um grande produtor e exportador de alimentos. A calagem exerce um papel fundamental para que isso seja possível. Uma parcela significativa dos solos brasileiros é bastante ácida e apresenta altos teores de alumínio, como por exemplo, os solos das áreas de Cerrado.
Esses solos, que hoje correspondem a grande parte das áreas agricultáveis do País, eram inaptos para agricultura até o surgimento e implementação da calagem. O fornecimento de cálcio e magnésio proporcionado pela calagem faz com que essa prática também seja benéfica nos solos com acidez e teores de alumínio e manganês menos extremos, maximizando os lucros nessas áreas.