Â
Dirceu Pratissoli
Doutor em Entomologia e professor da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES
A broca-do-café Hypothenemushampei disseminou-se por todas as regiões produtoras do Brasil. Essa é uma das pragas mais importantes da cultura cafeeira, sendo encontrada em quase todos os países produtores. Seu ataque causa prejuízos quanti e qualitativos. Quantitativos devido à perda de peso, queda dos frutos novos brocados e apodrecimento de sementes.
Em grandes infestações, a perda de peso pode ser superior a 20%, ou seja, mais de 12 quilos por saca de 60 quilos. Os qualitativos são devido à depreciação tanto no tipo dos grãos quanto na qualidade da bebida, e pelo aumento no número de defeitos, como: grãos brocados, quebrados, preto verde, preto ardido e contaminação por microrganismos.
Estima-se que a broca-do-café provoque prejuízos da ordem de US$ 500 milhões em todo o mundo.
Manejo da praga
Dentre os métodos utilizados no manejo fitossanitário da broca-do-café destacam-se o cultural, o químico e o biológico. O controle cultural deve sempre obedecer aos padrões técnicos recomendados para adubação, irrigação e tratos culturais, com o objetivo de criar condições para a cultura competir com os insetos-praga.
O controle cultural por meio do “repasse“, isto é, da catação que se faz dos grãos de café que ficam no solo ou retidos na planta após a colheita, é um dos métodos mais eficientes de combate à broca-do-café.
A retirada da fonte de alimento e dos insetos remanescentes da safra anterior favorece a redução da população da praga em lavouras comerciais. Lavouras abandonadas devem ser erradicadas para não servirem de foco de multiplicação e disseminação do inseto.
Controle químico
O controle químico baseia-se na utilização de agroquímicos sintéticos, produtos estes responsáveis pela revolução no controle dos insetos, que tem sido o meio mais eficiente e econômico de combatê-los, principalmente se o objetivo for amaximização da produtividade das culturas em grandes áreas.
Esse método é recomendado quando se observa de 3 a 5% de frutos brocados, no entanto, a maioria dos produtores não segue essa recomendação, fazendo aplicações sem nenhum critério. Normalmente, para o controle da broca-do-café são realizadas aplicações de inseticidas de largo espectro.
Do químico para o biológico
Apesar da eficiência desses inseticidas, eles podem apresentar uma série de problemas, como intoxicação aguda e crônica de aplicadores, trabalhadores rurais e até mesmo dos consumidores; a mortalidade de peixes, aves e outros animais selvagens; eliminação de inimigos naturais e polinizadores; contaminação das águas subterrâneas extensas, ameaçando potencialmente a saúde humana e ambiental e o surgimento de populações de pragas resistentes.
Diante do exposto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), por meio de Resolução-RDC Nº 28, de 9 de agosto de 2010, determinou a retirada programada do ingrediente ativo Endosulfan do mercado brasileiro no prazo de três anos contados a partir de 31 de julho de 2010 (ANVISA, 2010). Assim, a busca por novas alternativas de controle para essa praga, como a utilização de bioinseticidas, se torna indispensável.
Diferentemente do que muitos imaginam, a ideia de que insetos podem reduzir as populações de pragas não é recente. Todas as tentativas de controle biológico culminaram no primeiro caso de sucesso de controle biológico clássico que se tornou um marco da literatura mundial, obtido com a introdução na Califórnia de Rodoliacardinalis (Mulsant), trazida da Austrália em 1888 para controlar o pulgão branco, IceryapurchasiMaskell, e que em dois anos já havia exercido total controle da praga.
Â
A atualidade
Dentre os inimigos naturais, os mais empregados atualmente pertencem à ordem Hymenoptera e em menor grau à ordem Diptera. Das famílias de Hymenoptera, as mais frequentemente empregadas são representantes de Braconidae e Ichneumonidae em Ichneumonoidea e Eulophidae; Pteromalidae, Encyrtidae e Aphelinidae em Chalcidoidea.
Contudo, para o caso de pragas agrícolas, o ideal seria que os parasitoides empregados parasitassem a fase inicial de desenvolvimento, ou seja, a fase de ovo, impedindo que houvesse progressão da praga. Neste enfoque, destacam-se os parasitoidesde ovos das famílias Mymaridae, Eulophidae, Trichogrammatidae, Encyrtidae, Evaniidae e Scelionidae.
Dentre os dÃpteros, o grupo mais usado é o dos Tachinidae. Como exemplos podemos citar: Achaetoneuraarchppivora (Williston), Archytasincertus (Macquart), Archytasmarmoratus (Townsend), Archytaspiliventris van der Wulp, Eucelatoriaarmigera (Coquillet), EuphorocerafloridensisTownsend, Lixophagadiatraea (Towns) e Lespesiaarchippivora (Riley). Essas moscas parasitoides foram mencionadas na literatura sendo empregadas para manejo de Spodopterafrugiperda.