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Brássicas: Manejo de doenças é urgente

Autores

Carlos Antônio dos Santos
Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
carlosantoniods@ufrrj.br
Margarida Goréte Ferreira do Carmo
Engenheira agrônoma, doutora em Fitopatologia e professora – UFRRJ
gorete@ufrrj.br
Crédito: Shutterstock

As brássicas constituem um importante grupo de hortaliças de uma mesma família botânica – Brassicaceae, que tem como principais representantes as folhosas como a couve-comum, o repolho, a rúcula e a mostarda.

As que produzem inflorescências comestíveis como a  couve-flor e o brócolis; e as que produzem raízes tuberosas como o rabanete e o nabo, são atrativas pela beleza, sabor marcante e alto valor nutricional e nutracêutico. Seu cultivo sob manejo adequado pode garantir bom retorno financeiro, especialmente nos períodos de entressafra. 

Dentre os principais desafios no cultivo de brássicas estão a produção de hortaliças com padrão de qualidade compatível com os níveis de exigência dos consumidores, o escoamento da produção, a superação de problemas e limitações edafoclimáticas e o manejo fitossanitário.

As inflorescências e algumas folhosas são muito perecíveis, exigentes em fertilidade e clima frio e sujeitas ao ataque de diversas pragas e infecção por diferentes fitopatógenos. As pragas e as doenças podem causar danos diretos e indiretos à cultura e à qualidade da hortaliça colhida e, em alguns casos, inviabilizar áreas para o seu cultivo.

Alerta

Dentre as importantes doenças das brássicas estão podridão-negra das crucíferas e a podridão-mole, doenças bacterianas causadas por Xanthomonas campestris pv. campestris e por Pectobacterium carotovorum subsp. carovotovorum, respectivamente; a mancha-de-alternaria, doença fúngica causada por Alternaria spp., galhas radiculares causadas por nematoides como Meloidogyne spp., e as galhas radiculares causadas pelo protozoário Plasmodiophora brassicae, conhecida como hérnia das crucíferas ou batata da couve.

Sintomas

A podridão-negra é uma das doenças mais frequentes em lavouras de brássicas, e causa redução da produtividade e da qualidade, especialmente em folhas de couve, por serem muito frequentemente propagadas de forma vegetativa. 

A doença causa lesões foliares típicas, inicialmente amareladas, em forma de V, e que posteriormente progridem, podendo levar à queda da folha e infecção de vasos do xilema e interrupção do suprimento de seiva, o que leva à murcha. A doença é facilmente transmitida pelas sementes e estacas e favorecida pelo acúmulo de água nas folhas. 

De igual forma, a mancha-de-alternaria também provoca lesões foliares e nas inflorescências de couve-flor, caracterizadas por lesões necróticas pequenas, concêntricas e com halo necrótico. Pode ser observada desde a fase de produção das mudas até a fase adulta e causar sérios prejuízos indiretos e diretos, à medida que danifica o produto de interesse comercial, como as folhas de couve e as inflorescências de couve-flor.

A podridão-mole, que causa apodrecimento dos tecidos das plantas, pode ser um sério problema no campo e, principalmente, na fase de pós-colheita. Elevada umidade e ferimentos oriundos de capinas e na colheita facilitam as infecções e o aumento das perdas causadas. 

A hérnia das crucíferas, que se caracteriza pela formação de galhas ou tumores radiculares, resulta em sintomas indiretos, como amarelecimento foliar, murchas nas horas mais quentes do dia e subdesenvolvimento das plantas decorrente da menor absorção de água e de nutrientes pela planta, e assim limitação ao crescimento e produção.  

O patógeno, P. brassicae, forma esporos de resistência com longa persistência no solo e com meia-vida de aproximadamente 3,6 anos. A quantidade desses esporos no solo é aumentada em regiões de cultivo intensificado de brássicas, podendo chegar ao ponto de inviabilizar o cultivo em determinadas áreas. Além do potencial de inóculo do patógeno, fatores como baixo pH e baixos teores de cálcio no solo, altas temperaturas e umidade no solo favorecem a ocorrência das infecções nas plantas.

Com isso, a doença costuma ser mais agressiva no verão, quando os produtores podem obter os melhores preços de venda, especialmente no caso de couve-flor e brócolis.

Cuidados e controle

As principais medidas de controle destas doenças são de natureza preventiva e profilática, como o uso de sementes e mudas sadias e de maior tamanho, transplantio imediato ou não deposição prolongada das  bandejas no solo antes do transplantio, preferência por áreas livres de relatos de ocorrência recente das doenças, rotação de culturas com espécies não brássicas e não hospedeiras, manejo adequado da fertilidade, incluindo calagem e adubação equilibrada, irrigação bem planejada, evitando o acúmulo de água nos solos e nas plantas e destruição dos restos culturais.

Para alguma destas doenças, como a podridão negra das crucíferas, é possível o controle genético com o uso de cultivares resistentes.

Inovações

O uso de cultivares resistentes é a principal estratégia de controle de doenças de plantas. No entanto, seu uso ainda é limitado para a maioria das doenças das diferentes brássicas. O exemplo mais bem-sucedido e hoje mais facilmente disponível são as cultivares de repolho e couve-flor resistentes à podridão negra das crucíferas e algumas cultivares de couve-chinesa resistentes à hérnia das crucíferas.

A elevação do pH e dos níveis de Ca do solo, no entanto, é uma estratégia que contribui não só para o melhor desenvolvimento das plantas, visto serem bastante exigentes em fertilidade, como a redução das perdas causadas por estas doenças, inclusive as de pós-colheita.

A utilização de mudas maiores e mais bem desenvolvidas também pode contribuir para reduzir as perdas causadas por estas doenças. No caso da hérnia das crucíferas, existe apenas um princípio ativo registrado no MAPA, o Ciazofamida, que tem sido usado por alguns produtores.

Dentre os problemas mais frequentes no manejo das lavouras e que tem contribuído para as perdas causadas por estas doenças estão o manejo inadequado dos restos culturais, que deve ser removido das áreas e não incorporado ao solo, propagação vegetativa de couves utilizando estacas de plantas infectadas, cultivo intensificado de espécies hospedeiras, tráfego de máquinas e implementos entre propriedades sem uma limpeza prévia, irrigação por aspersão e excesso de adubação nitrogenada.

Com isso, é recomendado atenção quanto aos cuidados anteriormente citados visando a redução de perdas causadas por estas doenças e obtenção de índices satisfatórios de produtividade.

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