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Broca-do-café: O pequeno grande destruidor

Autor

Marcelo de Melo LinharesEngenheiro agrônomo, especialista em Proteção de Plantas e consultor Sagra Insumos Agropecuários Ltda marcelo.de.linhares@terra.com.br

Broca – Crédito: Marcelo Linhares

A broca-do-café é um inseto pequeno, mas que pode causar prejuízos gigantes ao cafeicultor. Ela impacta diretamente a qualidade dos grãos e, consequentemente, o valor do café na hora da comercialização. Seu manejo passa por monitoramento, controle cultural adequado e aplicação correta de inseticidas.

A broca-do-café é o nome popular do besouro que ataca os grãos do cafeeiro, cujo nome científico é Hypothenemus hampei, coleóptero da família dos escolitídeos. As fêmeas que atacam a coroa do fruto perfuram os grãos e ali depositam seus ovos. As larvas que nascem desses ovos se alimentam dos grãos do café.

Esta praga, originária da África, desde 1922 já contabilizou grandes prejuízos à cafeicultura brasileira e também ao mercado externo, já que os países importadores de café não aceitam nenhum café broqueado.

Além de provocar a queda prematura dos grãos, o ataque da broca traz perdas significativas ao peso dos grãos brocados. As perdas em peso podem chegar a 20% em momentos de alta infestação. Verifica-se, também, a perda qualitativa, devido ao aumento do número de grãos brocados, o que deprecia o produto durante a classificação física, além dos furos se tornarem porta de entrada para microrganismos, os quais, sob condições propícias, podem desenvolver-se, atingindo os grãos e alterando a qualidade da bebida do café.

Sintomas

A broca-do-cafeeiro atacará as sementes por meio das larvas nos frutos destruindo-os. A partir daí, completará o ciclo evolutivo pelas pupas brancas e pelos adultos que emergirão dessas pupas. A seguir, os adultos fêmeas atacarão frutos das demais floradas, emitidas depois, resultando em muitos prejuízos causados por suas larvas mastigadoras.

É importante informar que o ataque da broca, se não for controlado, continuará ocorrendo no interior das sementes, nos frutos, quando os prejuízos poderão ser muito significativos.

Regiões mais afetadas

A broca-do-cafeeiro ataca todo o Brasil, contudo, áreas de café com maior sombreamento e espaçamentos adensados podem favorecer a infestação da praga, pela redução da luminosidade e manutenção de maior umidade no cafeeiro.

Outra razão para o favorecimento da broca é que lavouras adensadas e fechadas facilitam a dispersão dos adultos da broca de uma planta à outra. Portanto, espaçamentos maiores e luminosidade são resultantes da ação de manejo do cafeeiro que objetivam diminuir a infestação da praga.

A altitude elevada paralisa a atividade do inseto, cujos adultos apresentam uma longevidade menor. As infestações nas altas altitudes tendem a ser menores. A taxa de multiplicação do inseto varia em razão inversa à altitude e, simultaneamente, o ciclo vital se alonga.

Causas

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 As chuvas podem influenciar na intensidade de infestações do inseto. Nos anos em que ocorrem maiores precipitações durante o período de frutificação e maturação dos frutos, a taxa de incremento de população da broca é menor. Ao contrário, a ocorrência de estiagens pode favorecer a infestação da broca do café.

A temperatura influi diretamente na duração do ciclo da broca. Altas temperaturas causam redução do ciclo de vida do inseto e, consequentemente, aumento do número de gerações e maiores prejuízos.

A umidade relativa do ar influi na infestação, principalmente durante o inverno, na entressafra. Assim, inverno seco com baixa umidade relativa do ar desfavorece a sobrevivência da broca, e inverno úmido com muito orvalho favorece a sua sobrevivência.

O rigor na colheita do café, ou seja, colheita bem-feita, influencia diretamente na infestação da broca da safra seguinte. Como os cafezais permanecem sem frutos durante alguns meses do ano após a colheita, a broca sobrevive nos frutos que caíram no solo, podendo causar uma infestação inicial alta, assim como uma alta taxa de incremento da população na colheita seguinte.

Uma boa colheita consiste em não deixar frutos na planta e no chão, o que impede a sobrevivência da broca. Logo, a colheita bem-feita se torna um dos melhores controles para a praga.

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Formas de controle

O monitoramento é essencial para um bom controle da broca do cafeeiro, pois permite identificar a real infestação da broca em cada talhão, para definir quais deles deverão receber o controle químico, evitando o uso desnecessário de inseticida. Recomendo o monitoramento com a planilha da Epamig, que deve ser feito mensalmente, com início entre 80 e 90 dias após a primeira grande florada, indo até o mês de abril.

O correto controle da broca deve ser realizado em sua “época de trânsito”, ou seja, quando seus adultos fêmeas abandonam os frutos secos não colhidos, nos cafeeiros e no chão, onde se criaram e se multiplicaram na entressafra, e procuram frutos chumbões verdes para perfurá-los na região da coroa.

Após a sua ‘época de trânsito’, a partir do mês de março, as fêmeas adultas da broca perfuram frutos verdes chumbões, verdes cana, cerejas, passas e secos, logo ovipositando neles. Assim, o controle químico da broca deve ser realizado em sua ‘época de trânsito’ visando matá-la nos frutos verdes chumbões aquosos, por ela perfurados, para evitar que ovipositem posteriormente e causem prejuízos pela ocorrência de seus ciclos evolutivos.

Este controle químico tem como objetivo matar as fêmeas adultas nos frutos verdes chumbões-aquosos nos talhões onde o resultado do monitoramento for de ≥ 3,0% de frutos broqueados, fazendo a primeira pulverização com um inseticida.

Nos talhões que não apresentaram índice, repetir a amostragem visual de frutos com planilha 30 dias após, para definição do controle a ser adotado.

Controle cultural

No meu ponto de vista, o controle cultural é um dos mais importantes, e será decisivo no sucesso do controle da broca durante a safra. O que seria este controle? Seria uma colheita bem realizada em que não são deixados frutos nos cafeeiros e no chão.

Esse procedimento reduz drasticamente o aparecimento da broca, que se aproveita dos frutos remanescentes das colheitas para sobreviver e se multiplicar, atacando os frutos da safra seguinte, logo, a colheita deve ser realizada com muita atenção e critério para diminuir a infestação da broca, evitando assim prejuízos ao cafeicultor.

Outra opção de controle da broca é o manejo de reforma de ‘safra zero’, que começa logo após uma grande colheita. Neste caso, o produtor, segundo orientação técnica, adota a poda do tipo ‘esqueletamento’. O sistema visa o aumento da produtividade depois de dois anos, quando volta a produzir sem broca nos frutos, uma vez que não restou nenhum café remanescente para atacar a nova frutificação.

Importante, também, eliminar os cafezais velhos e abandonados, nos quais a broca encontra abrigo e se multiplica livremente, e também alertar o vizinho para que controle a praga, evitando focos para outras lavouras.

DICAS PARA EFICIENTE CONTROLE

  • Monitoramento com a planilha da Epamig, que deve ser feito mensalmente, com início entre 80 e 90 dias após a primeira grande florada, indo até o mês de abril
  • O correto controle da broca deve ser realizado em sua “época de trânsito
  • Uma colheita bem realizada em que não são deixados frutos nos cafeeiros e no chão.
  • Manejo de reforma de ‘safra zero’, que começa logo após a colheita
  • Eliminar os cafezais velhos e abandonados

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Técnicas e produtos inovadores

Os produtores estão cada vez mais conscientes da importância do controle biológico, que é um método de combate às pragas agrícolas por meio de seus inimigos naturais, que podem ser insetos predadores, parasitoides e microrganismos (fungos, bactérias e vírus).

Tem-se observado a utilização do fungo Beauveria bassiana, fazendo assim o controle natural da broca. Na maioria dos casos, o fungo penetra nos insetos por contato, quando viável germina sobre o inseto e por ação química e física atravessa a cutícula e penetra na cavidade geral do corpo.

Posteriormente, com o objetivo de se reproduzir, o fungo atravessa o corpo do inseto e produz conídios em grande quantidade, que serão responsáveis pela disseminação e infecção, completando o ciclo. As brocas mortas pelo fungo que esporulou ficam geralmente na coroa do fruto e com o corpo branco.

Em relação ao controle químico, o novo inseticida à base de Metaflumizone tem mostrado excelente controle da broca do cafeeiro. Foi verificado, também, que onde ocorreu a aplicação de Metaflumizone o desequilíbrio foi menor do que o padrão, principalmente em relação à menor incidência das lagartas que atacam a lavoura cafeeira, facilitando assim seu controle.

Erros

É frequente o produtor realizar o controle da broca em momento equivocado. A época correta da aplicação do inseticida é muito importante – o controle químico deve ser feito antes que a praga oviposite no interior da semente, dentro do fruto.

Se já ocorrem fases da praga dentro da semente, nenhum inseticida é capaz de matá-la. Por isso é importante seguir todos os passos de monitoramento citados anteriormente. Outra situação que encontramos constantemente é em relação à pulverização ineficiente. Esta tem que ser bem realizada, ou seja, com a maior cobertura possível dos grãos, para atingir bem o alvo.

Tem-se observado que a utilização de óleo mineral em doses maiores tem auxiliado a melhorar o controle da broca do cafeeiro, pois, com isso, o espalhamento e cobertura dos frutos são melhorados.

Prevenção x combate

Deve-se manter atualizadas as informações de todos os talhões da propriedade por meio do monitoramento constante. O controle poderá ser feito talhão por talhão, ao passo que o ataque não ocorre de forma homogênea em toda a área, reduzindo assim os custos de controle.

A colheita bem-feita, com a retirada de todos frutos da planta e do chão, reduz a possibilidade de sobrevivência dessa praga para a próxima safra. Ao evitar que o ciclo se complete, consequentemente a população da praga na área será reduzida, e também os custos de produção.

O custo do controle químico é variado, porém, em média, fica em torno de uma saca de café por hectare. Contudo, se o controle não for realizado, o prejuízo é enorme, podendo chegar a 20% em peso do grão e ainda há perda do valor da saca, devido à baixa qualidade.

Custo do controle: 01 saca de café

Prejuízo da broca: 20% em peso do grão

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