Paula Almeida Nascimento
Engenheira agrônoma e doutora em Fitotecnia/Produção Vegetal – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
paula.alna@yahoo.com.br
O cacaueiro, Theobroma cacao, é a planta da qual se origina o cacau, fruto de grande importância econômica. Pertence à família Malvaceae e gênero Theobroma, e ocorre em nosso país na região norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará e Rondônia), nordeste (Bahia, Maranhão e Sergipe) e sudeste (Espírito Santo).
O cacau é o fruto do cacaueiro (Theobroma cacao), uma planta originada da floresta tropical úmida americana. No Brasil, ele está localizado na Amazônia e atualmente pode ser encontrado crescendo nas florestas da Mata Atlântica, principalmente nos estados da Bahia e Espírito Santo.
Essa planta tem um valor comercial enorme e é muito explorada economicamente, uma vez que suas sementes, após secas e processadas, são usadas na fabricação do chocolate.
Utilização
O cacau pode ser inserido na alimentação de diversas formas. A fruta é versátil e pode ser transformada em sementes, mel, geleias, vinagre, bebidas destiladas, polpa, suco e sorvete.
Outro uso é na indústria de cosméticos. O principal produto comercializado do cacaueiro é a semente. Podem ser retirados da semente do cacau a manteiga de cacau, a massa de cacau e o cacau em pó.
A polpa do cacau é também apreciada, sendo utilizada para fabricar, por exemplo, licores e geleias, além da manteiga de cacau, muito utilizada na indústria cosmética e farmacêutica.
É um fruto com importante valor nutricional, apresentando grande quantidade de compostos fenólicos, os quais ajudam na diminuição do colesterol LDL e reduzem a incidência de doenças cardiovasculares, por exemplo, com a redução da formação de coágulos (diminuem a tendência de agregação das plaquetas).
Além disso, o cacau apresenta propriedade anti-inflamatória e antioxidante.
Fonte de renda
O cacau é fruto de renda para agricultores e proporciona diversos benefícios à saúde. Os produtores brasileiros de cacau estão entusiasmados com os preços recordes da arroba que sendo pagos pelas indústrias neste início de 2024, porém, sabem que não têm muito cacau para oferecer como matéria-prima neste período de entressafra e safra temporã.
Os países Costa do Marfim e Gana, grandes produtores mundiais de cacau, enfrentaram problemas climáticos e envelhecimento das lavouras. Assim, houve interferência no preço da tonelada, que subiu.
Enquanto os cacauicultores brasileiros comemoram, os produtores de chocolates especiais estão preocupados com a possibilidade de ficar sem a matéria-prima. O mercado global de cacau está muito promissor, com o preço de US$ 9.000,00 sendo pago por tonelada.
A tonelada do cacau atingiu um preço histórico em 25/03/2024, valendo US$ 9.660,00 na Bolsa de Nova Iorque. Ela serve de parâmetro para os valores praticados no Brasil. Foi confirmada a escassez de oferta do cacau, a matéria-prima do chocolate no mercado comercial. A demanda está maior do que a oferta e os preços estão bem altos.
Condições para o plantio
O cacaueiro (Theobroma cacao, L.) é uma planta utilizada para a alimentação humana, adaptada ao clima tropical úmido, com temperaturas superiores a 21°C e precipitação pluviométrica anual superior a 1.300 mm.
A colheita dos frutos se inicia a partir do segundo ano, e eles podem ser colhidos durante praticamente o ano todo. O cacaueiro é uma planta que se desenvolve sob sombreamento, tanto na fase de estabelecimento como na fase produtiva.
O cacau, no Sul da Bahia, tem sido plantado no sistema agroflorestal, possibilitando maior sustentabilidade ambiental. Na região norte do país, também tem sido adotado o plantio sob sombreamento em sistemas agroflorestais em associação com outras espécies, como bananeiras (Musa spp.), macaxeira (Manihot esculenta), feijão-guandu (Cajanus cajan) e mamona (Ricinus communis) e com espécies arbóreas diferentes no sombreamento definitivo, como mogno (Swietenia macrophylla King).
Daninhas
A vassoura-de-bruxa é uma doença que afeta as plantas de cacau, causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa. Essa praga devastou os cacaueiros do Brasil na década de 90 e derrubou a produção de 400 mil toneladas para 120 mil toneladas.
A vassoura-de-bruxa, nome temido, se justifica pelos sintomas característicos que provocam nas plantas de cacau, como o crescimento anormal de brotos na parte afetada da árvore, que se assemelham a vassouras.
Hoje o Brasil convive com a vassoura-de-bruxa, mas a doença ainda traz perdas importantes e, portanto, precisa continuar com máxima atenção aos produtores rurais e toda cadeia produtiva do cacau.
Desenvolvimento
A árvore pode atingir entre 20 e 25 metros de altura, quando em condições naturais nas florestas nativas, enquanto que a árvore proveniente de sementes pode atingir cerca de 5,0 a 8,0 metros de altura. Prefere solos profundos, permeáveis e férteis e necessita de sombra para crescer.
Pode viver até mais de 100 anos. O fruto do cacauzeiro, o cacau, é encontrado sustentado por pedúnculos lenhosos, apresenta cerca de 20 cm, é sulcado e possui uma coloração que varia, dependendo da variedade, do verde ao roxo e do amarelo ao laranja, à medida que vai amadurecendo.
A semente de cacau apresenta formato elipsoide a ovoide e é recoberta por poupa branca, a qual apresenta sabor adocicado.
Você sabia que existem três tipos de cacau?
• O tipo criollo é conhecido pelos frutos grandes e de casca fina e rugosa. Além disso, a coloração é amarela ou alaranjada quando amadurece e também possui sementes grandes e cotilédones com coloração branca ou violeta-clara. Produz um chocolate frutado e suave, sendo considerado um produto de qualidade superior;
• O tipo forasteiro apresenta frutos arredondados e sementes achatadas. É a variedade mais conhecida que domina a produção na Bahia e na Amazônia, o tipo de cacau mais comercializado, com cerca de 80% da produção mundial. Esta variedade apresenta cotilédones de cor violeta e grande quantidade de compostos fenólicos, o que resulta em um sabor mais amargo;
• O tipo trinitário, cacau resultante do cruzamento de criollo e forasteiro, tem sementes roxas e amarelas. Apresenta sementes que variam desde amarelo pálido até o roxo-escuro.
Em destaque
A Costa do Marfim, país da África, com mais de 2,18 milhões de toneladas por ano, é o maior produtor mundial e destaca-se na exportação de cacau em amêndoas, pasta de cacau e manteiga de cacau.
Em segundo lugar o país de Gana, com mais de 680 mil toneladas. O Brasil está na 6º posição, com uma produção de mais de 273 mil toneladas. Os estados da Bahia e do Pará são os maiores produtores de cacau no território brasileiro, totalizando 95% da produção nacional.
Em seguida, aparecem Espírito Santo, Rondônia, Amazonas e Mato Grosso. Ao todo, o cultivo abrange uma área de 700 mil hectares e deixa o Brasil em sexto lugar no ranking mundial.
Os maiores produtores mundiais de cacau são:
1. Costa do Marfim,
2. Gana;
3. Equador;
4. Camarões;
5. Nigéria;
6. Brasil;
7. Indonésia;
8. Papua Nova Guiné;
Produção nacional
Os estados do Pará e da Bahia são os principais produtores de amêndoa de cacau do Brasil, responsáveis por aproximadamente 96% de toda a produção nacional. Os brasileiros são grandes consumidores de chocolate e contribuem para manter mercado em constante fomento.
A produção nacional de cacau é beneficiada com sistemas que evitam o desmatamento da vegetação nativa, e a preocupação com a sustentabilidade. Os sistemas agroflorestais (SAF) com cacaueiro são a forma mais comum de produção do fruto no Brasil, com destaque para a produção do Pará, onde áreas de pastagens degradadas estão sendo substituídas por áreas de SAF com cacaueiros, em diferentes modelos, que diversificam a renda do produtor, além de promover vários benefícios ambientais, como o sequestro de carbono da atmosfera, manutenção da biodiversidade, proteção do solo contra erosão, eliminação das queimadas e recomposição de matas ciliares.
Além disso, a cadeia produtiva do cacau no Brasil gera quase 300 mil empregos diretos, do cultivo à produção do chocolate.
O Brasil já foi considerado um dos três maiores produtores mundiais de cacau, mas pelo motivo do ataque da vassoura-de-bruxa, a praga que destruiu fazendas inteiras, a produção despencou nos últimos anos.
Inovação genética
Desta forma, o investimento em pesquisas em melhoramento genético com o desenvolvimento de variedades mais resistentes permitiu recuperar a produtividade nas lavouras.
As pesquisas brasileiras para desenvolvimento e inovação da cacauicultura visam ao programa de melhoramento genético para obter variedades mais produtivas e resistentes à praga vassoura-de-bruxa.
Várias variedades clonais de cacau são lançadas no mercado, dentre as quais se destacam: PH 16, CP 49, CCN 51, CCN 10, PS 13.19, SJ 02, BN 34, FA 13, Cepec 2002, Cepec 2003, Cepec 2004, Cepec 2005, Cepec 2204 e Cepec 2176.
A qualidade do cacau brasileiro tem melhorado a cada ano, mas o grande desafio é tornar o país autossuficiente na produção, que passa pelo aumento da produtividade das lavouras e da área de produção para alcançar o equilíbrio entre oferta e demanda no Brasil, evitando a importação de cacau, como acontece hoje.
Assim, os pesquisadores brasileiros, juntamente com parcerias técnicas, têm incentivado a expansão da cacauicultura nos diversos estados produtores tradicionais e outros novos estados, como São Paulo, Minas Gerais, Tocantins e Ceará.