Paulo Ricardo de Jesus Rizzotto Júnior
Luiza Elena Ferrari
Engenheiros agrônomos e mestrandos em Fitotecnia – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Gerarda Beatriz Pinto da Silva
Pós-doutoranda em Fitotecnia ” UFRGS
A calagem é uma prática de manejo de solo que visa a obtenção de maiores e melhores produções agrícolas. Possui grande relevância pelo fato de que grande parte dos solos brasileiros apresenta limitações ao estabelecimento e desenvolvimento de culturas agrícolas, em decorrência dos efeitos da acidez. Para solos com pH abaixo de 5, característica presente na maioria dos solos cultiváveis no País, considera-se que a faixa ideal de pH para as culturas esteja entre 5,7 e 6,3.
A aplicação de calcário favorece o aproveitamento de nutrientes, diminuindo a acidez do solo e neutralizando o Ãon H+. Com a elevação do pH do solo, aumenta-se a absorção de água e insolubilizam-se elementos tóxicos como alumÃnio (Al) e manganês (Mn).
Ocorre o aumento da disponibilidade de macronutrientes como o fósforo (P), devido à redução da acidez e aumento do Ãon OH– na solução do solo, além de elevar a disponibilidade de nitrogênio (N), pois favorece a mineralização da matéria orgânica.
O elemento enxofre (S) também sofre influência, sendo liberado para absorção das plantas pela decomposição da matéria orgânica quando o pH é elevado. Os micronutrientes boro (Bo) e molibdênio (Mo) têm disponibilidade promovida no solo devido à elevação do pH, além do fornecimento de cálcio (Ca2+) e magnésio (Mg2+) contidos no próprio corretivo.
Deve-se salientar que com a elevação excessiva do pH, principalmente acima de 6,5, ocorre a diminuição da disponibilidade de micronutrientes, como zinco (Zn), manganês (Mn), cobre (Cu) e ferro (Fe). Desta forma, há de se cuidar com aplicações excessivas de calcário (supercalagem), que podem levar à ocorrência de precipitações de P e à mineralização da matéria orgânica.
Aproveitamento
Devido à calagem, ocorrem trocas catiônicas desencadeadas pela aplicação dos corretivos. Por meio das reações químicas geradas no solo, formando íons OH-, a acidez ativa (H+) é neutralizada, causando a elevação do pH. Devido a esses processos, há a precipitação de elementos tóxicos como Al3+ e Mn2+. Também podem ocorrer a precipitação de outros micronutrientes metálicos, como Cu2+, Fe2+, Fe3+ e Zn2+, diminuindo a disponibilidade destes.
Outro fator de extrema relevância é que a calagem gera cargas negativas no solo, aumentando a capacidade de troca de cátions (CTC). Consequentemente, a retenção de cátions sofre aumento, principalmente para os macronutrientes de grande importância, e reduz a lixiviação de bases. Esta prática de manejo também favorece o aproveitamento de nutrientes no solo pelo fenômeno de troca catiônica, pelo fato dos corretivos possuÃrem Ca2+ e Mg2+, ocupando o lugar dos cátions de caráter ácido.
Disponibilidade de fósforo
Com a elevação da CTC do solo, através da calagem, o principal nutriente disponível é o P, especialmente pela formação de fosfatos de cálcio. O fósforo tem grande importância, visto que está associado ao desenvolvimento e crescimento das raízes.
A calagem também tem um efeito sobre microrganismos benéficos, os quais aumentam sua atividade no solo, principalmente na presença de matéria orgânica. Desta forma, disponibiliza nutrientes essenciais, tais como o N e S, ambos de extrema relevância no processo de fotossíntese das plantas.
Critérios para uma calagem bem feita
A fim de se determinar a quantidade de calcário ou corretivo, com o objetivo de diminuir a acidez do solo e alcançar uma condição desejada, deve-se levar em consideração o tipo de solo, o sistema de produção a ser empregado (plantio convencional ou plantio direto) e as culturas que serão utilizadas. É de fundamental importância saber a sensibilidade da espécie a ser cultivada, visto que a maioria das plantas de interesse agropecuário já possui seu pH de referência definido.
Em relação ao tipo de solo e ao manejo empregado, há diversos métodos quepodem ser utilizados para definição da dose de calcário adequada. Salienta-se que esses métodos somente serão eficientes a partir de uma análise química prévia do solo, para que a recomendação seja baseada nos valores indicados na análise.
A recomendação de calagem também pode ser realizada com base no Ãndice SMP, utilizado oficialmente nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O mesmo fundamenta-se no decréscimo de pH de soluções-tampão em laboratórios, cujos valores de necessidade de calcário já estão determinados, com PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total) a 100%.
Já nas regiões sudeste e centro-oeste, principalmente o Estado de Minas Gerais e o Cerrado, utilizam o método da saturação por bases, com recomendações entre 30 e 70%, o qual leva em consideração o pH e a saturação por bases do solo.
Manejo da calagem
Recomenda-se aplicar calcário de três ou mais meses antes da semeadura da cultura, visando-se obter os efeitos esperados. Normalmente os corretivos de acidez do solo são aplicados de modo uniforme na superfície e incorporados.
Para cultivos anuais, o corretivo deve ser incorporado na camada de 0 a 20 cm, com posterior aração e gradagem. Já em cultivos permanentes (frutÃferas e florestais), recomenda-se incorporar o calcário, preferencialmente, nas camadas mais profundas do solo.
No caso de áreas com plantio direto consolidado, a correção ocorre em camadas de 0 a 10 centÃmetros, pois presume-se que a área já tenha sido corrigida nas camadas mais profundas. Nesses casos, a aplicação do calcário ocorre de modo superficial ao solo.
Em ocasiões onde as doses de calcário necessárias são acima de cinco toneladas por hectare, recomenda-se o fracionamento da aplicação. Sugere-se que a metade da dose seja aplicada na superfície do solo e incorporada com uma grade pesada ou com aração após aplicação da segunda metade, que deve ser incorporada da mesma forma que a primeira, seguida de uma grade niveladora para melhor uniformizar a incorporação e o nivelamento do solo.