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Calagem favorece aproveitamento de nutrientes

Paulo Ricardo de Jesus Rizzotto Júnior

Luiza Elena Ferrari

Engenheiros agrônomos e mestrandos em Fitotecnia – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Gerarda Beatriz Pinto da Silva

Pós-doutoranda em Fitotecnia ” UFRGS

gerardabeatriz@gmail.com

Crédito Shutterstock
Crédito Shutterstock

A calagem é uma prática de manejo de solo que visa a obtenção de maiores e melhores produções agrícolas. Possui grande relevância pelo fato de que grande parte dos solos brasileiros apresenta limitações ao estabelecimento e desenvolvimento de culturas agrícolas, em decorrência dos efeitos da acidez. Para solos com pH abaixo de 5, característica presente na maioria dos solos cultiváveis no País, considera-se que a faixa ideal de pH para as culturas esteja entre 5,7 e 6,3.

A aplicação de calcário favorece o aproveitamento de nutrientes, diminuindo a acidez do solo e neutralizando o íon H+. Com a elevação do pH do solo, aumenta-se a absorção de água e insolubilizam-se elementos tóxicos como alumínio (Al) e manganês (Mn).

Ocorre o aumento da disponibilidade de macronutrientes como o fósforo (P), devido à redução da acidez e aumento do íon OH na solução do solo, além de elevar a disponibilidade de nitrogênio (N), pois favorece a mineralização da matéria orgânica.

O elemento enxofre (S) também sofre influência, sendo liberado para absorção das plantas pela decomposição da matéria orgânica quando o pH é elevado. Os micronutrientes boro (Bo) e molibdênio (Mo) têm disponibilidade promovida no solo devido à elevação do pH, além do fornecimento de cálcio (Ca2+) e magnésio (Mg2+) contidos no próprio corretivo.

Deve-se salientar que com a elevação excessiva do pH, principalmente acima de 6,5, ocorre a diminuição da disponibilidade de micronutrientes, como zinco (Zn), manganês (Mn), cobre (Cu) e ferro (Fe). Desta forma, há de se cuidar com aplicações excessivas de calcário (supercalagem), que podem levar à ocorrência de precipitações de P e à mineralização da matéria orgânica.

Aproveitamento

Devido à calagem, ocorrem trocas catiônicas desencadeadas pela aplicação dos corretivos. Por meio das reações químicas geradas no solo, formando íons OH-, a acidez ativa (H+) é neutralizada, causando a elevação do pH. Devido a esses processos, há a precipitação de elementos tóxicos como Al3+ e Mn2+. Também podem ocorrer a precipitação de outros micronutrientes metálicos, como Cu2+, Fe2+, Fe3+ e Zn2+, diminuindo a disponibilidade destes.

Outro fator de extrema relevância é que a calagem gera cargas negativas no solo, aumentando a capacidade de troca de cátions (CTC). Consequentemente, a retenção de cátions sofre aumento, principalmente para os macronutrientes de grande importância, e reduz a lixiviação de bases. Esta prática de manejo também favorece o aproveitamento de nutrientes no solo pelo fenômeno de troca catiônica, pelo fato dos corretivos possuírem Ca2+ e Mg2+, ocupando o lugar dos cátions de caráter ácido.

 A calagem tem efeito sobre microrganismos benéficos, que aumentam sua atividade no solo - Crédito Ana Maria Diniz
A calagem tem efeito sobre microrganismos benéficos, que aumentam sua atividade no solo – Crédito Ana Maria Diniz

Disponibilidade de fósforo

Com a elevação da CTC do solo, através da calagem, o principal nutriente disponível é o P, especialmente pela formação de fosfatos de cálcio. O fósforo tem grande importância, visto que está associado ao desenvolvimento e crescimento das raízes.

A calagem também tem um efeito sobre microrganismos benéficos, os quais aumentam sua atividade no solo, principalmente na presença de matéria orgânica. Desta forma, disponibiliza nutrientes essenciais, tais como o N e S, ambos de extrema relevância no processo de fotossíntese das plantas.

Critérios para uma calagem bem feita

A fim de se determinar a quantidade de calcário ou corretivo, com o objetivo de diminuir a acidez do solo e alcançar uma condição desejada, deve-se levar em consideração o tipo de solo, o sistema de produção a ser empregado (plantio convencional ou plantio direto) e as culturas que serão utilizadas. É de fundamental importância saber a sensibilidade da espécie a ser cultivada, visto que a maioria das plantas de interesse agropecuário já possui seu pH de referência definido.

Em relação ao tipo de solo e ao manejo empregado, há diversos métodos quepodem ser utilizados para definição da dose de calcário adequada. Salienta-se que esses métodos somente serão eficientes a partir de uma análise química prévia do solo, para que a recomendação seja baseada nos valores indicados na análise.

A recomendação de calagem também pode ser realizada com base no índice SMP, utilizado oficialmente nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O mesmo fundamenta-se no decréscimo de pH de soluções-tampão em laboratórios, cujos valores de necessidade de calcário já estão determinados, com PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total) a 100%.

Já nas regiões sudeste e centro-oeste, principalmente o Estado de Minas Gerais e o Cerrado, utilizam o método da saturação por bases, com recomendações entre 30 e 70%, o qual leva em consideração o pH e a saturação por bases do solo.

Manejo da calagem

Recomenda-se aplicar calcário de três ou mais meses antes da semeadura da cultura, visando-se obter os efeitos esperados. Normalmente os corretivos de acidez do solo são aplicados de modo uniforme na superfície e incorporados.

Para cultivos anuais, o corretivo deve ser incorporado na camada de 0 a 20 cm, com posterior aração e gradagem. Já em cultivos permanentes (frutíferas e florestais), recomenda-se incorporar o calcário, preferencialmente, nas camadas mais profundas do solo.

No caso de áreas com plantio direto consolidado, a correção ocorre em camadas de 0 a 10 centímetros, pois presume-se que a área já tenha sido corrigida nas camadas mais profundas. Nesses casos, a aplicação do calcário ocorre de modo superficial ao solo.

Em ocasiões onde as doses de calcário necessárias são acima de cinco toneladas por hectare, recomenda-se o fracionamento da aplicação. Sugere-se que a metade da dose seja aplicada na superfície do solo e incorporada com uma grade pesada ou com aração após aplicação da segunda metade, que deve ser incorporada da mesma forma que a primeira, seguida de uma grade niveladora para melhor uniformizar a incorporação e o nivelamento do solo.

Essa matéria completa você encontra na edição de março/abril 2018  da revista Campo & Negócios Floresta. Adquira já a sua para leitura integral.

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