Fábio Olivieri de Nobile
Professor titular do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB)
fabio.nobile@unifeb.edu.br
Maria Gabriela Anunciação
Engenheira agrônoma – UNIFEB
A cebola é uma das principais hortaliças difundidas no mundo inteiro, em função de sua versatilidade como condimento, saladas cruas e sua presença plural em pratos de diversas culturas. No Brasil, sua produção está mais concentrada na região sul, cerca de 30% da produção nacional está no Estado de Santa Catarina. Porém, outras regiões também possuem significativa participação – Estados como Bahia, Minas Gerais e São Paulo possuem altas produções.
A flexibilidade de ser produzida em diversos locais se dá em função dos ciclos variáveis da cultura, de 120 a 240 dias, e das horas-luz, de 12 a 14 horas. Dessa forma, considerando os grupos precoces, médios e tardios, é possível observar o motivo da difusão desta cultura no território nacional.
De maneira geral, as cultivares tardias são mais adaptadas à região sul e as médias e precoces a outros Estados.
Na dose certa
Considerando que o estabelecimento inicial é através de sementeiras com posterior transplante das mudas, devemos considerar alguns valores bases da nutrição com NPK (nitrogênio, fósforo e potássio).
No caso do nitrogênio, dependendo das condições do solo, têm-se recomendações de 80 a 120 kg/ha, fósforo 80 a 280 kg/ha e potássio 60 a 210 kg/ha. Em geral, o fertilizante é aplicado de maneira localizada, como nas linhas de semeadura.
Contudo, pode também ser aplicado a lanço, mas em se tratando do fósforo, é uma prática ainda controversa e as opiniões divergem.
Recomendações
O que devemos levar em consideração ao escolher o valor adequado da adubação? É claro que é imprescindível que seja feita uma análise de solo para saber qual nutriente deve ser reposto, mas também devemos considerar o tipo de solo e a produtividade esperada pelo produtor. Para o último item, é importante se atentar ao manejo e ao que o produtor pode fornecer em termos de tecnologia.
Em caso de propagação direta através de sementes, o fósforo deve ser aplicado na adubação de base, uma vez o papel que desempenha na formação inicial de raízes e desenvolvimento da planta.
As funções do fósforo nas plantas, em geral, estão relacionadas com a energia e sua distribuição, ou seja, o fósforo está presente na produção, armazenamento e transferência da energia gerada no processo de respiração.
Sendo assim, a adubação de base (junto da semeadura ou plantio) é fundamental para que a planta tenha condições de se estabelecer e desenvolver no solo. As limitações na oferta de P, no início do ciclo vegetativo, podem resultar em restrições no desenvolvimento, das quais a planta não se recupera posteriormente.
Limitações
A deficiência de fósforo é um fator extremamente limitante no ambiente de produção. Neste contexto, o P merece especial atenção por conta da sua grande adsorção à fase mineral do solo, predominantemente de baixa reversibilidade. Dessa maneira, o fósforo figura neste contexto como elemento essencial à produção agrícola, no entanto, finito e insubstituível.
Quando a disponibilidade de fósforo é limitada, o crescimento radicular e aéreo das plantas é reduzido. Isso porque o fósforo está diretamente relacionado com a síntese proteica e constitui nucleoproteínas necessárias à divisão celular, auxiliando no processo de absorção iônica, favorecendo assim o crescimento de tecidos vegetais, tal como o tecido radicular.
Apesar de o fósforo ser acumulado em pequena quantidade pela planta de cebola, de 31,23 a 33,35 mg, sua participação nos processos de absorção iônica, fotossíntese, respiração, síntese, multiplicação e diferenciação celular, denota que é um nutriente com expressiva ação na formação da quantidade e qualidade do bulbo, resultando não só em produtividade, mas também em produtos mais atrativos ao público.
Na cultura da cebola existem relatos de que a produtividade das plantas é limitada pela deficiência de fósforo na ordem de 30 a 40%, pois apesar de ser um nutriente pouco absorvido pelas plantas, é altamente responsivo. A necessidade de fósforo para um ótimo crescimento da cebola é de cerca de 3,0 g kg-1 da matéria seca da parte vegetativa da planta.
Sintomas de deficiência
Quando a planta apresenta deficiência de fósforo, suas folhas mais velhas mostram-se amarelecidas e secas e as intermediárias e mais novas apresentam coloração verde-escura e a produtividade diminui, pois os bulbos produzidos são menores que os de plantas provenientes de áreas com adubação adequada.
O fósforo deve estar disponibilizado no solo em níveis altos, uma vez que o sistema radicular da cebola é limitado, pois a profundidade efetiva do sistema radicular da cebola é em torno de 20-25 cm e a localização do fertilizante fosfatado pode influenciar mais do que a dose, sendo considerado como profundidade limite 7,5 cm abaixo do sulco de plantio das mudas ou da semeadura direta.
Importante também lembrar que somente em níveis adequados de fósforo é que a cebola conseguirá externar seu potencial produtivo por meio de características quantitativas, como diâmetro de bulbo. Essa característica é altamente responsável pelo retorno econômico, pois sabe-se que bulbos menores que 50 mm apresentam menor valor de mercado e não são os favoritos da população.
Manejo
De maneira geral, é importante contar com uma adubação fosfatada eficiente desde o início do ciclo, na emergência, germinação até o estabelecimento das plantas. Outros nutrientes podem ser parcelados, como nitrogênio (N) e potássio (K), mas o fósforo deve ser aplicado de maneira eficiente no início do ciclo, que é onde sua maior demanda, fisiologicamente falando, ocorre.
Portanto, suprir a necessidade de P da cebola é peça fundamental para elevação dos tetos produtivos esperados pelo produtor, de acordo com sua tecnologia.
Custo
O custo da aplicação vai variar em função, principalmente, da forma a ser adotada em termos de aplicação (manual, mecânica ou fertirrigação) e da fonte utilizada do nutriente. Quando pensamos, por exemplo, em fertirrigação, prática muito comum nos campos de cebola, devemos considerar que fontes comuns como superfosfato simples ou tripo e o monofosfato e amônio podem causar problemas referentes a obstruções das tubulações.
Para tanto, recomendam-se fontes como ácido fosfórico. Em termos de custo, o ácido fosfórico apresenta benefícios por ser mais barato e vantajoso economicamente, pois, em irrigação localizada, geralmente é utilizado o monofosfato de amônio purificado, que possui maior preço.