Carolina Cinto de Moraes
Doutoranda em Agricultura Tropical e Subtropical do Instituto Agronômico – IAC
Humberto Sampaio de Araújo
Pesquisador CientÃfico, Polo Extremo Oeste – APTA
Thiago Leandro Factor
Pesquisador CientÃfico, Polo Nordeste Paulista – APTA
Luis Felipe Villani Purquerio
Pesquisador CientÃfico, Instituto Agronômico – IAC
A cebola é uma das olerícolas de maior importância econômica no Brasil, ao lado do tomate e da batata. Em 2015 foram cultivados aproximadamente 57 mil hectares, cuja produção atingiu 1.461 toneladas, com produtividade média 26 t/ha. O Estado de Santa Catarina é o maior produtor, responsável por 37% da produção nacional. Na região Sudeste, o Estado de São Paulo é o principal produtor, com participação de 9% na produção nacional (IBGE, 2016).
Na cadeia produtiva da cebola há constante lançamento de híbridos por empresas públicas e privadas. Esses materiais apresentam resistência a pragas e doenças, são adaptados a diferentes condições climáticas e aproveitam melhor os insumos disponíveis, o que aumenta seu potencial produtivo.
Vantagens dos híbridos
Produtores que fazem uso de híbridos e das tecnologias de cultivo podem atingir 70 t/ha, produtividade muito acima da média nacional. Devido às suas vantagens, a tendência é que os híbridos substituam gradualmente as cultivares de polinização aberta. Porém, é importante ressaltar que os híbridos, por serem mais produtivos, apresentam necessidade nutricional diferenciada.
A nutrição adequada das plantas de cebola influencia diretamente na qualidade dos bulbos. Sabe-se ainda que a adição excessiva de fertilizantes, principalmente de nitrogênio, fósforo e potássio são práticas comuns em regiões produtoras de cebola, o que tem contribuÃdo para elevar os custos de produção e os desequilíbrios nutricionais.
Informações sobre a extração e exportação de nutrientes pelos novos híbridos disponíveis aos produtores devem ser tomadas como referência para definição do manejo nutricional, visando melhor explorar o potencial produtivo, minimizar custos, aumentar a rentabilidade e preservar a qualidade do solo.
Por meio de estudos de absorção de nutrientes ao longo do ciclo de cultivo é possível conhecer os períodos de maior exigência nutricional da planta e obter informações seguras quanto às épocas mais convenientes de aplicação de fertilizantes. Com a utilização das curvas de acúmulo geradas para novos genótipos é possível evitar uma possível deficiência ou consumo de luxo de algum nutriente pelas plantas.
Estudos
Recentemente, a aluna Carolina Cinto de Moraes, do Programa de Pós Graduação em Agricultura Tropical e Subtropical, do Instituto Agronômico – IAC, e o pesquisador Dr. Luis Felipe Villani Purquerio, do Centro de Horticultura do IAC, realizaram pesquisa com acúmulo de nutrientes ao longo do ciclo de cultivo por dois híbridos de cebola, ‘Aquarius’ e ‘Soberana’, da empresa Agristar, no município de Santo Antônio de Posse (SP).
Neste estudo, além dos teores e acúmulo de nutrientes pela planta, foi analisada a taxa de acúmulo diário de nutrientes (g/planta/dia) (Figuras 1 e 2). Com essa informação existe a possibilidade da elaboração de programas de fertilização em função do tempo. Somando-se as taxas diárias em períodos, pode-se distribuir a quantidade total de nutrientes de forma a disponibilizá-los nos momentos de maior demanda.
Como resultado, verificou-se que os períodos de maior demanda dos nutrientes foram diferentes entre os híbridos. Para ‘Aquarius’, a maior demanda dos macronutrientes ocorreu em um período menor (69 a 138 dias após a semeadura) em comparação com a ‘Soberana’ (61 a 148 dias após a semeadura).
Nas Figuras 1 e 2 observam-se picos mais acentuados das taxas de acúmulo diário para ‘Aquarius’ em relação à ‘Soberana’, que mostrou picos mais suaves.
Também é importante ressaltar que os períodos de maior demanda de cada nutriente não ocorreram no mesmo momento, pois a necessidade de cada nutriente durante o ciclo de cultivo ocorre em função do crescimento da planta e formação das suas partes.
Como exemplo citam-se os picos dos nutrientes nitrogênio e cálcio, que ocorreram com um intervalo de 10 dias para a ‘Aquarius’ e de 31 dias para a ‘Soberana’, sendo o nitrogênio mais exigido na fase de desenvolvimento vegetativo e cálcio durante o desenvolvimento do bulbo.
As quantidades de nutrientes absorvidas ao final do ciclo de cultivo foram distintas entre os híbridos (Tabela 1). A ‘Aquarius’ foi mais exigente que a ‘Soberana’ para a maioria dos macronutrientes, com exceção ao cálcio e magnésio.
Desta forma, a ordem de absorção dos nutrientes pela ‘Aquarius’ foi K > N > Ca > S > P > Mg, já pela ‘Soberana’ foi K > Ca > N > S > P > Mg. Para uma população de 320.000 plantas/ha, a ‘Aquarius’ apresentou produtividade de 78,9 t/ha e a ‘Soberana’ 72,2 t/ha. Estes valores podem ser considerados altos em relação à produtividade média de 37 t/ha verificada no Estado de São Paulo em 2015.
Tabela 1. Absorção dos nutrientes pelos híbridos de cebola ao final do ciclo de cultivo.
Para uma fertilização adequada, é importante respeitar os períodos de maior demanda de cada nutriente para cada genótipo durante o ciclo produtivo. Os resultados neste estudo podem auxiliar no manejo da fertilização, bem como na atualização da recomendação de adubação para a cultura da cebola no Estado de São Paulo, que pode ser refinada para híbridos com maior potencial produtivo, lançados no mercado nos últimos anos.
Figura 1.Taxas de acúmulo diário e período de maior demanda de N, P, K, Ca, Mg e S pela planta de ‘Aquarius’, em função de dias após a semeadura.
Figura 2. Taxas de acúmulo diário e período de maior demanda de N, P, K, Ca, Mg e S pela planta de ‘Soberana’, em função de dias após a semeadura.