Por Gustavo Alves, CEO da Nagro*
Ao analisarmos o mercado de crédito agrícola brasileiro fica evidente que as fontes de financiamento de crédito alternativas são mais acessíveis para grandes produtores, enquanto os pequenos e médios ficam limitados às fontes de créditos convencionais disponibilizadas via grandes instituições financeiras.
Desta forma, há uma necessidade latente por soluções que facilitem a vida do produtor oferecendo uma melhor experiência na busca pelo crédito, uma constante para quem trabalha neste setor. Desta forma, o mercado precisa de novas opções para a oferta de crédito para produtores rurais, com uma plataforma de serviços mais ampla e acessível para essa cadeia produtiva.
Apesar desta dificuldade de acesso ao crédito que o produtor rural encontra, este é um dos setores que mais contribui para a economia brasileira, um grande paradoxo. Quando analisado o panorama econômico geral do País, é possível ver a influência do agronegócio na renda nacional e sua importância para a economia. Segundo o Censo Agropecuário de 2017, com território de 851,487 milhões de hectares (ha), o Brasil tem um total de 5.073.324 estabelecimentos agropecuários, que ocupam uma área total de 351,289 milhões de hectares, ou seja, quase a metade do Brasil, com cerca de 41% da área total do país, aumento de 5,8% na área ocupada quando comparado com o levantamento realizado em 2006.
O agronegócio tem sido reconhecido como um vetor crucial do crescimento econômico brasileiro. Conforme a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o PIB do Agronegócio alcançou a participação de 26,6% no PIB brasileiro em 2020.
No entanto, mesmo com os excelentes resultados e os avanços tecnológicos no sistema bancário nacional, a realidade é que muitos agricultores ainda têm dificuldade de acesso ao crédito. Segundo pesquisa da CNA, quase 40% dos produtores nunca acessaram crédito rural, o que representa mais de 4 mil produtores.
Por meio dos bancos, o setor financeiro consegue atender somente cerca de 55% desta demanda com iniciativas como o Plano Safra e recursos a taxas livres.
A tecnologia é neste caso, a melhor forma de resolver esta questão para auxiliar a diminuir a lacuna de acesso ao crédito pelos produtores rurais, principalmente com o uso e a popularização dos smartphones. Estes equipamentos são amplamente utilizados não só nas cidades, mas também no campo. De acordo com dados da Pesquisa Hábitos do Produtor Rural, da Informa Economics, em parceria com a Associação Brasileira de Marketing Rural & Agronegócio (ABMRA) de 2021, 67% dos produtores rurais brasileiros têm celular com acesso à internet.
Soluções em apps que permitam o acesso com baixa qualidade da rede, uma realidade ainda no campo brasileiro, podem ampliar o alcance do crédito ao produtor, diminuindo a burocracia no momento de solicitar recursos para a sua atividade, além de promover um atendimento consultivo voltado para esse público, que apresenta uma demanda latente na área financeira em diversos aspectos, incluindo o educativo.
O cenário de alta da taxa básica de juros (julho/2021) deve reduzir a oferta de linhas de financiamento agropecuário privadas tradicionais no ano-safra 2021/2022, o que intensifica a necessidade de iniciativas de crédito para o produtor, como alternativa viável, segura e eficiente ao processo de tomada de crédito rural junto aos bancos.
Neste sentido, as agrifintechs podem preencher esta lacuna, oferecendo auxílio expressivo ao setor, além de modernizar as operações do mercado financeiro agro e auxiliar no desenvolvimento e crescimento de todo o setor agro.
*Gustavo Alves é CEO e fundador da Nagro.