Marcos Roberto Ribeiro Junior
Engenheiro agrônomo e doutorando em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP
marcos.ribeiro@unesp.br
Daniele Maria do Nascimento
Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP
donascimentodm@gmail.com
Adriana Zanin Kronka
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Fitopatologia e professora – UNESP
adriana.kronka@unesp.br
Essa última safra de milho tem desagradado os produtores de Santa Catarina em virtude das perdas causadas por cigarrinhas. Perdas em torno de 20% foram registradas, mas a pergunta que fica é: quais os problemas diretos e indiretos causados, e como manejar as cigarrinhas?
Cigarrinhas causam danos diretos às plantas de milho pela sucção de seiva, mas, o maior problema são os danos indiretos (transmissão de molicutes e vírus). A infestação de cigarrinhas em lavouras de milho vem aumentando a cada ano, em várias regiões do Brasil, e é preciso se atentar para o manejo desse importante vetor de doenças.
São dois os molicutes transmitidos: o fitoplasma Maize bushy stunt phytoplasma, que irá causar o enfezamento vermelho, e o espiroplasma Spiroplasma kunkelii, agente causal do enfezamento pálido. Nesse ponto, é importante lembrarmos que os molicutes se inserem no domínio das bactérias, distinguindo-se dessas por não apresentarem uma parede celular.
No enfezamento vermelho ocorrem estrias cloróticas que evoluem para estrias avermelhadas, enquanto que no enfezamento pálido são apenas estrias cloróticas mais acentuadas e claras. Os sintomas, assim como os patógenos, podem ocorrer simultaneamente na mesma planta.
Ambas as doenças levam a uma redução no porte das plantas; encurtamento de entrenódios e maior espigamento. No entanto, as espigas são improdutivas, com grãos mal formados e chochos. Os danos são expressivos, e em cultivares suscetíveis, até 70% da produção pode ser comprometida.
Além dos molicutes, cigarrinhas também transmitem o vírus da risca (Maize rayado fino virus – MRFV) e é comum em uma mesma planta encontrarmos ambos os molicutes e MRFV, causando a doença à qual nos referimos de “complexo de enfezamento”.
Essa virose é caracterizada por lesões foliares na forma de pequenos pontos cloróticos. Quanto mais cedo uma lavoura for infectada por esse complexo, maiores os danos, porque os patógenos terão mais tempo para se multiplicar dentro da planta.
Como ocorre a transmissão
A cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) se alimenta de plantas doentes, infectadas pelos patógenos, adquirindo-os. Esses patógenos atravessam as paredes intestinais e caem na hemolinfa, onde passam a se multiplicar e atingem diversos órgãos, como as glândulas salivares.
Quando essas cigarrinhas iniciam o processo alimentar em uma planta sadia, os molicutes ou o vírus são transmitidos. A esse tipo de transmissão denominamos de persistente-propagativa, ou seja, uma vez adquiridos os patógenos pelo vetor, este os transmite pelo resto de sua vida.
A “picada de prova”, portanto, não basta para o vetor adquirir e transmitir o complexo de enfezamento. A cigarrinha precisa de um período mínimo de alimentação na planta, para poder adquirir os patógenos. Esse tempo varia de uma a duas horas, para os molicutes, e seis horas para o vírus.
Após a aquisição, são necessários dias até o inseto estar apto a transmitir os patógenos (período de latência). Então, em até uma hora do vetor se alimentando na planta, os molicutes já são transmitidos. Para o vírus, demora um pouco mais, em torno de oito horas de alimentação.
Essa espécie de cigarrinha é facilmente distinguida de outras que ocorrem nessa cultura: a cigarrinha do milho tem uma coloração amarelo-palha, com duas manchas circulares negras e bem definidas no alto da cabeça e mede, aproximadamente 4,0 mm de comprimento.
O ciclo biológico do inseto, do ovo ao adulto, dura cerca de 23 a 27 dias, em uma temperatura média de 26ºC. Em regiões mais quentes, a cigarrinha consegue completar seu ciclo mais rapidamente, e várias gerações podem ocorrer ao longo do ano. A temperatura também influencia na multiplicação dos molicutes: em temperaturas inferiores a 27ºC esses patógenos tendem a se multiplicar mais lentamente.
Manejo
O manejo dos enfezamentos do milho, transmitidos pela cigarrinha, requer diferentes estratégias, dentre elas o uso de híbridos tolerantes. Esses híbridos são importantes principalmente em plantios tardios (safrinha), que coincidem com o período de maiores populações de cigarrinhas.
No entanto, essa não pode ser a única tática usada no combate aos enfezamentos, pois dependendo da população de cigarrinhas, tempo de alimentação e carga dos molicutes, um híbrido que apresentou bons resultados na safra anterior, quando submetido a uma pressão maior, pode não se sair tão bem.
O produtor deve evitar a semeadura próxima a lavouras mais velhas de milho e com incidência de enfezamentos. Recomenda-se realizar a eliminação de milho voluntário (tiguera), por atuar como reservatório do patógeno e da praga.
Em alguns casos, em lavouras com alta população de cigarrinha e alta incidência de enfezamento, o cultivo do milho precisa ser interrompido, para amenizar a ocorrência de ambos. Lembrando que esse inseto é específico dessa cultura, sendo incapaz de completar seu ciclo biológico em outros hospedeiros. Os molicutes também dependem exclusivamente de seus vetores para serem transmitidos.
Opções
Táticas visando o controle do inseto vetor deve ser incorporada ao manejo, começando pelo monitoramento da cigarrinha na lavoura. Para o controle químico, incluindo o tratamento de sementes, consultar os inseticidas registrados no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), mas ressalta-se que, devido à rapidez em que ocorre a transmissão, essa medida pode não ser tão eficiente. Além do mais, antes de se intoxicar com o inseticida, o inseto é capaz de infectar outras plantas com os patógenos.
Atualmente, 30 inseticidas estão registrados no controle químico da cigarrinha do milho, pertencentes aos grupos químicos dos neonicotinoide, piretroide, meticarbamato de oxima, fenilpirazol, organofosforado e metilcarbamato de benzofuranila. Geralmente, são realizadas pulverizações misturando-se classes de inseticidas, com uma eficiência de até 90% no controle da cigarrinha.
Em relação ao controle biológico do vetor, temos o fungo entomopatogênico Beauveria bassiana, que pode ser usado, e dois parasitoides de ovos. Também está disponível o fungo entomopatogênico Isaria fumosorosea.
Após a pulverização, os conídios aderem ao tegumento do inseto e começam a germinar, produzindo enzimas que degradam todo esse tegumento. Tanto ninfas quanto adultos são infectados e, ao final, o inseto fica totalmente recoberto pelo fungo. Já foi relatada até 85% de eficiência desse produto no controle da cigarrinha.