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Colheita de café e os fatores essenciais para garantir qualidade da produção

Mauro Scigliani Martini
Consultor chefe – AgriCaffè – Soluções em cafeicultura
maurosmartini@hotmail.com

Dentre todas as etapas relacionadas à produção do café, a colheita é responsável por grande parte dos custos, além de influenciar na produtividade. É, também, um dos fatores que mais interfere no sabor da bebida. Consequentemente, saber como realizar a colheita é primordial.

Diversos aspectos devem ser considerados, pois podem afetar diretamente toda a qualidade do café que foi construída durante a safra. Entre eles, devemos considerar o percentual de maturação dos frutos, a logística de transporte do café colhido, o tempo estimado de colheita, tipo de processamento pós-colheita, características específicas de cada talhão e variedade de café, como precocidade ou maturação tardia.

Também se deve levar em consideração a topografia da propriedade, equipamentos de secagem ou capacidade de terreiros, especificidades individuais de cada propriedade como, por exemplo, talhões muito próximos de grandes corpos d’água ou em áreas propícias de acúmulo de umidade, e até mesmo, previsão climatológica para os próximos dias e semanas.

Mais produtividade, menos custos

Uma colheita bem planejada, utilizando a técnica adequada e com atenção a todos os detalhes, garante uma maior quantidade de frutos no perfeito estágio de maturação, que leva à maior qualidade do grão, com maior tamanho e peso, resultando em rendimento superior para o produtor, aumentando seus ganhos e reduzindo os custos.

Soma-se a isso a atenção a qualidade do processamento pós-colheita e secagem, com equipamentos limpos e higienizados diariamente, separação de lotes, evitando fermentações indesejadas, etc.

Técnicas recomendadas

A técnica a ser utilizada na colheita depende de diversos fatores específicos de cada propriedade, sua topografia, tamanho, disponibilidade de mão de obra, variedades e idade dos cafezais e talhões.

Pode ser feita de forma totalmente mecanizada, semi-mecanizada ou manual, e também, muito comumente, com um misto desses três tipos de colheita dentro da mesma propriedade. Todas as formas de colheita têm capacidade de trazer excelentes resultados, tanto em relação à eficiência quanto à qualidade dos grãos.

Fundamentalmente, todo o processo de colheita deve ser planejado, determinando-se o tempo estimado para término, a logística do café colhido, evitando que este fique por longos períodos dentro de sacos ou em caçambas.

O planejamento também deve envolver o método a ser utilizado, o estágio de maturação dos frutos, tanto para iniciar quanto para o fim da colheita, o treinamento de todo o pessoal que estará diretamente ligado à colheita, a limpeza e higienização de todos o equipamento a ser utilizado, capacidade do processamento pós-colheita e tamanho e capacidade dos secadores e/ou terreiros de secagem.

Tudo deve ser voltado a evitar a contaminação da safra atual com frutos da safra passada. Todo esse planejamento deve ser minucioso, utilizando-se de experiência passadas e de estimativas de safras confiáveis, de modo a evitar surpresas desagradáveis quando do decorrer da colheita.

Qualidade sensorial e sabor final

Considerando que o fruto maduro está em seu ponto máximo de qualidade, a colheita tem papel fundamental de manter essa qualidade até a próxima fase de processamento pós-colheita e/ou secagem.

Quando ocorrem problemas ou é feita sem o planejamento adequado, essa qualidade começa a ser deteriorada e não é possível a recuperação nas fases posteriores.

Casos de fermentação indesejada dos frutos durante a colheita devido à falta de planejamento ou pela contaminação de frutos da safra passada são muito comuns e podem reduzir drasticamente a qualidade dos lotes.

O mesmo acontece com a grande quantidade de grãos verdes ou secos quando a colheita foi iniciada muito cedo ou tardiamente, perdendo o ponto ideal do café, trazendo sabores indesejados, além de baixo rendimento e defeitos.

Exigência do mercado consumidor

Pode ser presenciada uma maior preocupação dos produtores pela qualidade da colheita que estão realizando, principalmente quando busca atingir mercados específicos que exigem alta qualidade e excelência.

Colheitas profissionais, bem planejadas, com método e prazo adequados, além de equipamentos limpos e regulados, podem ser vistos em diversas regiões, independentemente do tamanho da propriedade.

Isso contribui para uma valorização dos cafés do Brasil, principalmente internacionalmente, que ainda é visto, principalmente, como apenas uma commodity.

Desafios

Geralmente, a ausência de mão de obra especializada é um grande desafio a ser vencido, além dos altos custos e da insegurança jurídica para contratação de pessoal temporário. Falta de treinamento ou manutenção de equipamentos são também muitos comuns e, obviamente, a falta de planejamento.

Quando possível, a colheita mecanizada é fator importante para superar o problema de mão de obra e insegurança jurídica, trazendo uma colheita com um número muito menor de pessoal e custos reduzidos.

Colheita manual ou mecanizada?

Em termos de qualidade do produto final, os dois métodos de colheita podem trazer excelentes resultados, quando utilizado da maneira correta. A colheita mecanizada tem a capacidade de alcançar áreas bem maiores e com maior rapidez, o que possibilita a colheita de grande quantidade de café no melhor estágio de maturação.

No caso da operação manual, quando possível, o produtor pode optar por uma colheita seletiva dos frutos maduros. Mesmo sendo esse processo bem mais lento, ele garantirá a maturação ideal do café colhido, com sua maior qualidade.

Independentemente do método de colheita, o importante é que esta deve ser feita de forma profissional, com planejamento e dentro da realidade das propriedades, não se esquecendo que todo o trabalho, valor e qualidade de uma safra está ali.

Construção da safra

A qualidade do café é construída durante toda a safra. Sendo assim, todos os aspectos do manejo agronômico são importantes para a qualidade do produto final.

As plantas devem estar adequadamente nutridas, com o correto manejo fitossanitário, de forma a evitar grãos mal formados, granados de forma inadequada ou com defeitos. Plantas não sadias não produzem grãos com qualidade.

O processamento pós-colheita é, também, peça-chave para a manutenção da qualidade do café, devendo-se ter atenção especial a todos os detalhes. A construção da qualidade é um processo longo e difícil, por isso, todos os aspectos devem ser planejados e considerados para evitar surpresas desagradáveis.

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