Ricardo Ferreira Garcia
Engenheiro agrícola, doutor em Mecanização Agrícola e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF
O Brasil é, atualmente, um dos maiores produtores mundiais de feijão, ocupando a terceira posição mundial, segundo relatório estatÃstico de 2012 da FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations, atingindo, naquele ano, 2,8 milhões de toneladas, ficando atrás de Myanmar (3,7 milhões de toneladas) e Índia (3,6 milhões de toneladas).
Segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica, a estimativa de produção de feijão em 2014, somada as três safras do produto, é de 3,4 milhões de toneladas, aumento de 14,8% em relação ao ano anterior, mostrando, portanto, uma recuperação depois de dois anos consecutivos de estiagem, notadamente na região Nordeste. Nesta estimativa de safra, os maiores produtores são Paraná, com 28,7% da produção nacional, seguido de Minas Gerais, com 13,8%, e Ceará, com 9,0%.
A baixa oferta do produto em 2013 elevou o preço do feijão, que estimulou o plantio em 2014. O aumento na produção segue as variações positivas nas estimativas de área plantada (9,3%), área colhida (12,2%) e de rendimento médio (2,3%).
No ano passado, a cultura atingiu os valores de 2.936.444 T, 2.831.008 ha, e 1.037 kg ha-1, respectivamente. Em 2014, a estimativa de produção é de 3.371.288 T, em área de 3.176.012 ha, com produtividade de 1.061 kg ha-1.
Mais produtividade com menos mão de obra
Com a necessidade de aumentar a produção de alimentos com menos pessoas empregadas na agricultura, surgiram as grandes lavouras e algumas práticas mecanizadas passaram a fazer parte deste processo evolutivo da agricultura.
Com o surgimento de grandes lavouras de feijão, na década de 70, principalmente as irrigadas, a colheita mecanizada passou a ser uma tendência imperativa à expansão das áreas de cultivo do feijoeiro e à sua transformação de simples exploração de subsistência em atividade empresarial.
Pelas dificuldades da colheita direta com colhedoras de grãos automotrizes adaptadas, e pelo fato de a cultura ser muito sensÃvel a danos durante a manipulação, o arranquio e enleiramento manuais e o recolhimento e trilha mecanizados passaram a ser, até o momento, o método mais empregado de colheita.
Foi assim que, a partir daquela época, a pesquisa e a indústria iniciaram um grande trabalho para desenvolver e aprimorar equipamentos de recolhimento e trilha da cultura. Atualmente, já são comuns indústrias de máquinas agrícolas aperfeiçoarem seus produtos por meio de testes em parceria com a pesquisa biológica, que buscam variedades mais adequadas a esse tipo de cultivo.
Busca-se, desta forma, com a mecanização, reduzir o tempo necessário para executar as operações de campo visando menor custo operacional e melhor qualidade das tarefas e produto final, além de reduzir o esforço humano e as condições insalubres de trabalho de campo. Outro objetivo é minimizar os riscos de perdas com a mecanização da lavoura.
Mecanização
No Brasil, a região que mais investe na mecanização da cultura do feijão é o sudoeste paulista, onde já se atingiu 100% de manejo mecanizado, desde as operações iniciais de preparo do solo até a fase de colheita.
Do preparo do solo, passando pelo plantio, tratos culturais até a colheita, a mecanização da cultura do feijão pode estar presente em todas as etapas do processo produtivo e é uma importante aliada do produtor que quer mais produtividade, melhor qualidade e menores custos.
Além da escolha do maquinário adequado, em função do tamanho da área e estimativa de horas anuais de utilização, deve-se atentar para a correta escolha da variedade, que deve ser apropriada para o cultivo mecanizado. O uso de uma variedade de feijão não adequada ao sistema mecanizado pode anular os benefícios esperados pela mecanização.
Apesar dos benefícios apontados, é importante o correto dimensionamento do conjunto de maquinário visando atender a demanda do produtor. Deve-se considerar, principalmente, o tamanho da área para a escolha dos tratores e implementos de acordo com a previsão de horas de utilização por ano, evitando-se, assim, máquinas sub ou superdimensionadas.
Entre um e outro
Um sistema subdimensionado levará prejuízos ao produtor, uma vez que não conseguirá realizar suas operações dentro dos prazos, perdendo a oportunidade de ofertar seu produto num prazo ótimo no mercado.
Da mesma forma, o sistema superdimensionado também trará prejuízos financeiros, uma vez que o produtor estará investindo mais do que o necessário em maquinários e sua manutenção, tornando o sistema caro e muitas vezes ocioso, podendo inviabilizar seu projeto.
A adequada manutenção preventiva também é um fator de extrema importância na condução de práticas mecanizadas. É importante a gestão das horas trabalhadas de cada máquina para realizar as devidas manutenções dentro de um cronograma planejado de acordo com a recomendação dos fabricantes de tratores e máquinas.
O preparo do solo, plantio e tratos culturais não diferem quando comparados os sistemas semimecanizados e os mecanizados. No sistema semimecanizado, a colheita diferencia-se por ter o arranquio e enleiramento de forma manual, enquanto que no sistema mecanizado a colheita é realizada por máquinas de forma direta ou indireta.
No sistema direto, uma colhedora equipada com uma plataforma própria com barra tipo segadora, molinete e kit de peças para adaptação, numa única passada, realiza as etapas de corte, trilha, separação e limpeza do feijão. Antes do corte, o feijão é normalmente dessecado com produtos químicos, como o glifosato, visando a uniformização da maturação.
Â