Agnaldo Donizete Ferreira de Carvalho
Engenheiro agrônomo da Embrapa Hortaliças
Embora difundida há bastante tempo na Europa e nos Estados Unidos, a colheita mecanizada de cenoura é recente no Brasil. A adaptação à colheita mecânica em nosso país foi demorada porque nossos solos não a permitiam em condições de excesso de chuva ou encharcamento.
Além disso, outros fatores, como custo de aquisição da colhedora, disponibilidade de mão de obra e cultivares adaptadas à colheita mecânica foram entraves que protelaram esse tipo de tecnologia no Brasil.
As cultivares indicadas para colheita mecânica precisam apresentar rama suficientemente forte para suportar o “puxão“ e recolhimento das raízes para dentro da máquina, a qual faz a retirada da parte área da planta da cenoura. Ainda, as raízes precisam apresentar uma maior tolerância ao quebramento, já que são carregadas a granel e sofrem maiores injúrias no carregamento, no transporte e no descarregamento na lavadora/classificadora, se comparada à colheita manual ou semi-mecanizada.
A diferença
O sistema de plantio para colheita mecanizada é diferente do sistema tradicional, no qual se faz a colheita manual ou semi-mecanizada. Enquanto nos tradicionais faz-se a distribuição a lanço ou em linhas distribuídas uniformemente em cima da superfície do canteiro, no sistema de colheita mecanizada as linhas são concentradas em fileiras duplas ou triplas que, no Brasil, são semeadas quase sempre em canteiros. Nesse caso, o espaçamento mínimo entre fileiras duplas ou triplas é de 40 cm e entre linhas simples de 7,5 cm.
Semelhante ao sistema de colheita semi-mecanizada, para se obter cenouras com boa qualidade o produtor precisa escolher um solo adequado, livre de patógenos ou torrões que possam comprometer a qualidade das raízes. O preparo do solo deve ser bem feito e bem profundo (aproximadamente a 30 cm).
Detalhes
O semeio deve ser feito com máquinas que permitam alta precisão, com boa distribuição de sementes, garantindo alta germinação e estande uniforme. No momento da colheita, a cultivar deve estar em seu ciclo completo, livre de injúrias na parte área, como ataque de pragas e doenças, e as plantas devem estar uniformes.
Para a colheita mecanizada, a parte aérea da planta é de fundamental importância, pois a colhedora recolhe a planta puxando-a pela folhagem e, caso não tenha boa qualidade, perdem-se raízes no campo. Assim, quanto mais desenvolvida, uniforme e saudável a parte aérea, maior facilidade a colhedora terá em carregar a planta para a retirada da rama.
Além disso, a inserção da parte aérea na raiz precisa ser suficientemente forte para suportar o arranquio e o transporte. A maioria dos novos híbridos de cenoura está sendo desenvolvida para esse propósito.
A evolução
A colheita mecanizada surgiu nos países desenvolvidos para suprir a demanda de mão de obra, que era escassa e cara. No Brasil, estabeleceu-se pelos mesmos motivos. Nos últimos anos, não só a colheita mecanizada da cenoura, mas de muitas outras hortaliças, vem sendo modificada em função da escassez de mão de obra no meio rural, das dificuldades dos produtores atenderem todas as leis trabalhistas ou pela elevação dos preços da mão de obra rural.
Vantagens
As principais vantagens da colheita mecanizada são a redução do custo de produção e o maior controle de colheita, pois necessita de poucos funcionários para executar a tarefa. Por exemplo, com a máquina é possível colher, com apenas duas pessoas, até 0,8 a 1,0 ha por oito horas de trabalho na colhedeira de uma linha, ou até 03 ha na colhedeira de três linhas.
Investimento x retorno
O investimento gira em torno de R$ 180 mil e R$ 800 mil para aquisição de uma máquina rebocada por trator de uma ou três linhas, respectivamente. A estimativa dos produtores é que o retorno com a aquisição dessas máquinas venha entre três a cinco anos de operação.
A viabilidade de retorno do investimento, além do mencionado, varia conforme o tamanho do produtor, ou seja, do nível de utilização da máquina, que por sinal permite o crescimento da área do produtor, por vezes limitada à mão de obra braçal.
E quando o preço do produto está bom, é possível trabalhar além das oito horas por dia, colher mais cenouras e, assim, aproveitar o bom preço, que é bastante variável de um dia para outro na comercialização na cultura da cenoura.