Daniel Lima
Daniele Jesus
Mestrandos em Agronomia – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
Daniele Sabino
Martha Cely
Professoras – UFMT
Anderson Ferreira
Pesquisador da Embrapa Trigo
A safra brasileira de grãos 2021/22 apresenta estimativa de crescimento em torno de 14,7%, o que representa um acréscimo de 37 milhões de toneladas em relação ao volume obtido no ciclo anterior, totalizando 289,8 milhões de toneladas de produtos como algodão, feijão, arroz, milho, trigo e soja, atingindo um novo recorde para a agricultura nacional (CONAB, 2021).
Apesar do crescimento constante, os custos de produção das safras estão mais elevados. Ao comparar o aumento no Custo Operacional Total (COT), consolidados entre as safras 20/21 e 21/22, com referência no estado do Mato Grasso (dados do IMEA), temos um aumento respectivamente de: 21,3% para a soja transgênica; 23,4% para soja convencional; 5,1% para milho de alta tecnologia; 3.5% para milho de média tecnologia; e 10,7% para a cultura do algodão. Os insumos que impulsionaram o aumento nos custos de produção se deram em especial às sementes, fertilizantes, corretivos de solo e defensivos.
O mercado de fertilizantes NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) passou por uma alta histórica desde o começo do ano, afetado principalmente por fatores como atrasos na cadeia logística com congestionamento de portos estratégicos que resultaram em atrasos de entrega, escassez de matérias-primas, questões políticas e alta demanda.
Outro ponto foi o aumento do dólar, uma vez que 70% dos fertilizantes utilizados na agricultura brasileira são importados (ANDA, 2021).
Preços nas alturas
O preço das matérias-primas utilizadas na produção de grãos como a ureia, que no início do ano era de U$ 271,00/t CFR (custo e frete), apresentou incremento de 74%, fechando outubro no valor de U$ 475,00/t.
O fosfato monoamônico também registrou aumento de 93% de janeiro à outubro, alavancado por fatores como a falta de enxofre e preços elevados das matérias-primas como a amônia e rocha fosfática. O preço do cloreto de potássio em outubro foi de U$ 483,00/t CFR, aumentando em 50% desde janeiro do mesmo ano (Globalfert, 2021).
Além dos fertilizantes, os defensivos agrícolas também apresentaram forte aumento nos preços nesta safra, principalmente devido à interrupção de operações de indústrias fabricantes do insumo na China e a baixa oferta de matéria-prima. Dados apontados pelo IMEA mostraram aumento significativo no valor dos defensivos da safra 2020/2021 para 2021/2022, no Mato Grosso.
A classe dos herbicidas na cultura da soja apresentou aumento de 19%, seguido dos fungicidas com 15% e inseticidas com 14%. A cultura do milho demonstrou aumento de 12% dos herbicidas, 11% dos fungicidas e 10% dos inseticidas.
A tendência no aumento dos custos com insumos para safras futuras se mantém, assim como a necessidade de satisfazer a demanda global por alimentos, que deve aumentar em 35 a 56% até 2050.
Porém, somente com o emprego das práticas agrícolas convencionais, este compromisso dificilmente será cumprido, frente à crescente degradação da qualidade e fertilidade dos solos, à resistência das pragas agrícolas aos defensivos tradicionais, além da maior frequência na ocorrência de eventos climáticos extremos.
Alternativas
A utilização de microrganismos associados a culturas agrícolas é uma das soluções de longo prazo mais promissoras para os desafios integrais de alcançar a segurança alimentar.
Quando associados às plantas, os microrganismos podem promover seu crescimento e uma série de outros benefícios no seu desenvolvimento, como a melhor absorção e acúmulo de nutrientes vegetais, solubilização de fosfatos, secreção de sideróforos e produção de fitormônios, assim como o biocontrole de pragas e doenças, indução de resistência das plantas aos estresses bióticos e abióticos.
Além disso, contribuem para redução no uso de insumos sintéticos na agricultura, representando assim alternativa estratégica para a intensificação sustentável de sistemas agrícolas.
Resultados
A utilização de bactérias do gênero Bacillus na solubilização de fosfatos tem mostrado bons resultados na redução de adubação, com incremento que pode chegar a 8,9% de produtividade na cultura do milho com a inoculação de Bacillus subtilis e Bacillus megaterium.
Outro microrganismo disponível no mercado é Azospirillum brasilense que promove, dentre outras funções, o aumento do crescimento de raízes e consequente uso mais eficiente dos fertilizantes utilizados na agropecuária.
Na soja, a inoculação com bactérias Bradyrhizobium pode reduzir em até 100% os custos com adubação nitrogenada. Além da inoculação, o uso de microrganismos para o controle de pragas e doenças vem ganhando bastante espaço no mercado.
Um estudo da eficiência do controle biológico no manejo de Spodoptera cosmioides na soja obteve resultados mostrando que bioinseticidas a base de Bacillus thuringiensis (Bt) apresentou controle de 80% das lagartas.
Já no controle de doenças, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, até o ano de 2021 temos mais de 80 produtos biológicos registrados, por diferentes empresas. Nesse caso, Bacillus sp e Trichoderma sp. são os microrganismos mais frequentemente empregados nas formulações disponibilizadas até o momento.
Registros
De 2000 a 2021, foram concedidos mais de 450 registros de produtos na categoria de biológicos ou orgânicos, sendo a maioria destes produzidos nos últimos seis anos. Globalmente, os produtos microbiológicos estão entre as indústrias de mais rápido crescimento, aumentando em 17% anualmente com um mercado previsto de U$ 12 bilhões até 2026.
Apesar da possibilidade de utilizar o biológico juntamente com algumas tecnologias químicas tradicionais, alguns países já estimulam seus produtores à realizarem sua substituição. O projeto da Comissão Europeia “Farm to Fork”, por exemplo, tem como meta a redução em 50% no uso de pesticidas até 2030, e as soluções biológicas são os principais substitutos.
Apesar de algumas inconsistências no desempenho dos produtos biológicos em condições de campo, muitas vezes devido ao uso incorreto do produto, os inoculantes microbianos têm se mostrado útil para enfrentar alguns desafios agronômicos apresentando resultados promissores com biofertilizantes, bioinseticidas, biofungicidas e bionematicidas.
É possível avaliar que os produtos microbiológicos podem contribuir substancialmente para maiores produtividades agrícolas, aumentando a eficiência na utilização dos fertilizantes e nutrientes do solo, resiliência aos eventos climáticos extremos, lucratividade e sustentabilidade, ao mesmo tempo reduzindo a necessidade dos insumos químicos, representando enorme potencial de comercialização na agricultura brasileira.