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Como definir o potencial produtivo do milho?

Espigas de milho no campo de plantação de milho.

Walleska Silva Torsian
Engenheira agrônoma e doutoranda em Fitotecnia – ESALQ/USP
walleskatorsian@usp.br

O milho (Zea mays) é uma gramínea originária da América Central, domesticada há milhares de anos pelos povos nativos, que o consideravam sagrado e essencial na alimentação.

Com as grandes navegações, o milho se espalhou globalmente e hoje é o cereal mais produzido no mundo. A produção mundial para a safra 2023/2024 é estimada em 1.227,9 milhões de toneladas, um aumento de 6,1% em relação à safra 2022/2023.

Os maiores produtores de milho do mundo são os Estados Unidos, a China e o Brasil. A China é o segundo maior produtor, com 24% da produção mundial, enquanto os Estados Unidos são os maiores produtores, com 30,3% da produção.

Além de sua relevância histórica, o milho é fundamental na produção de rações para animais, silagem e sistemas integrados de produção agropecuária (ILPF). Seu cultivo envolve cerca de cinco milhões de produtores no Brasil, abrangendo desde pequenos agricultores até grandes empresários.

O milho tem grande importância socioeconômica, mas também desempenha um papel crucial na conservação dos recursos naturais, tornando-se um pilar da agricultura brasileira devido à sua versatilidade e valor nutritivo.

Produtividade

Alinhado com as características citadas anteriormente, o milho também se destaca pelo seu elevado potencial produtivo, o qual sustenta diferentes segmentos agropecuários e também impulsiona a economia agrícola do Brasil.

A produção de grandes volumes em diferentes condições climáticas no Brasil e no mundo reforça a cultura do milho como um pilar da agricultura, sustentabilidade e competitividade do setor.

Dentre os cereais mais cultivados no Brasil, o milho se destaca com mais de 75 milhões de toneladas produzidas em uma área de 16 milhões de hectares, entre safra e safrinha. Devido às características fisiológicas, o milho possui alto potencial produtivo e, portanto, o plantio deve ser bem planejado, pois inicia um período entre 120 e 130 dias com várias operações para determinar o sucesso da lavoura.

No plantio, define-se o espaçamento entre linhas e a densidade de plantio, visando uma boa produtividade. Portanto, é importante o cuidado com as máquinas de plantio e sua regulagem com relação à distribuição do adubo e das sementes nas fileiras de plantio.

Fatores importantes

Os principais fatores que influenciam o potencial produtivo do milho nos primeiros dias após o plantio são as condições climáticas e do solo, a disponibilidade de nutrientes, a qualidade das sementes, o manejo de plantio e o controle de pragas e doenças.

A umidade, temperatura, textura e estrutura adequada do solo são importantes para garantir a germinação das sementes e o desenvolvimento inicial das raízes, por meio de solos bem estruturados, com boa aeração e drenagem e temperatura do solo entre 18 e 25°C. As condições climáticas também influenciam no crescimento inicial das plântulas, na fotossíntese e vigor inicial.

Nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio são essenciais para o desenvolvimento inicial, principalmente para o crescimento radicular. Já micronutrientes como zinco e manganês, que às vezes são negligenciados pelos produtores devido às baixas quantidades, auxiliam os macronutrientes no crescimento inicial e fortalecimento das raízes.

A qualidade das sementes, e aqui está o insumo mais importante e caro da produção do milho, garante bom poder germinativo, com estabelecimento uniforme. O tratamento de sementes com fungicidas e inseticidas também garante a proteção contra doenças e pragas nas fases de germinação e emergência.

O controle de pragas e doenças é importante, pois na fase de estabelecimento inicial das plântulas, insetos, nematoides e fungos que causam tombamento das plântulas, como exemplo, o damping-off, comprometem o desenvolvimento vegetal e causam prejuízos econômicos e devastadores, se não forem controlados.

Genética

A genética da planta de milho pode afetar seu potencial produtivo, já que influencia características como resistência a pragas e doenças, tolerância a estresses causados pelas condições climáticas e melhor absorção de água e nutrientes.

A genética do milho afeta o potencial produtivo quando seleciona variedades resistentes a pragas e doenças, como a lagarta-do- cartucho e podridão da espiga e, com isso, minimiza o uso de inseticidas e fungicidas, melhorando a produtividade.

A genética do milho também é utilizada para tolerância à seca e sob condições climáticas adversas.

Algumas variedades de milho também são mais eficientes na absorção de macro e micronutrientes, o que gera melhores resultados em solos pouco férteis. O ciclo de desenvolvimento e o potencial de rendimento também são afetados pela genética. Existem variedades de ciclo curto mais adequadas para certas regiões, dependendo do clima.

E há variedades com maior potencial de rendimento, proporcionando espigas maiores, com melhor formação de grãos tanto em número quanto em peso.

Objetivo definido

As variedades de milho podem variar, dependendo da região de cultivo e do objetivo da produção, por exemplo, se o milho será para produção de grãos, silagem e alimentação humana.

Porém, as variedades mais destacadas são os híbridos comerciais, as variedades adaptadas localmente e as variedades de alto potencial genético. Os híbridos comerciais são divididos em transgênicos e não-transgênicos.

Os primeiros incorporam genes resistentes a pragas (milho BT) e tolerantes ao herbicida (milho RR), demonstrando rendimentos elevados e redução no uso de defensivos agrícolas. Os híbridos não-transgênicos também são altamente produtivos e utilizados para sistemas orgânicos.

Vista de linhas de brotos de milho jovem no campo com céu azul

As variedades adaptadas localmente são aquelas que foram feitas para determinadas condições de solo, clima e região. As variedades de alto potencial genético são aquelas que respondem com altas produtividades respostas relacionadas à adubação e irrigação.

Condições ideais para o milho

As condições ambientais ideais para o desenvolvimento do milho são temperatura, altitude, umidade do solo, fotoperíodo, radiação solar, época de semeadura, profundidade da semeadura, densidade de plantio e espaçamento entre fileiras.

A temperatura varia de acordo com os diferentes estádios de crescimento da planta. Mas, basicamente, para cultivo do milho é entre 25 e 30°C, sendo que abaixo de 10°C e acima de 40°C ocasionam prejuízos à germinação e produtividade.

O milho semeado em elevadas altitudes apresenta maior número de dias até que se atinja o pendoamento e, com isso, aumenta o ciclo de produção, apresentando maior rendimento de grãos. É importante destacar que temperaturas noturnas muito baixas reduzem a taxa de respiração, implicando na produtividade final.

O milho é uma cultura exigente em água, sendo a quantidade consumida de  aproximadamente 600 mm durante todo o ciclo de cultivo. O consumo é maior nas fases iniciais de germinação e emergência e de reprodução (florescimento e enchimento dos grãos nas espigas).

O milho é caracterizado como planta de dia curto, o que significa que o efeito do fotoperíodo na produtividade é pequeno no Brasil, uma vez que temos luz solar praticamente durante todo o ano, garantindo a fotossíntese da planta.

Também pode-se destacar que o milho é uma planta C4, o que significa que é uma planta altamente eficiente na utilização da luz.

Rumo à produtividade

As práticas de manejo agronômico essenciais para garantir um bom desenvolvimento inicial do milho são:

Escolha da variedade: deve-se optar por variedades que são adaptadas às regiões onde se quer cultivar, para que apresentem genes responsáveis pela resistência de pragas e doenças, e claro, que sejam altamente produtivas;

Preparo do solo: fazer a análise de solo da forma correta garantirá que o pH esteja adequado e verificará se é necessário ajuste tanto de pH, quanto de adubação, aplicação de calcário ou até mesmo cultivo de cobertura para melhorar a estrutura do solo;

Plantio: deve-se ficar atento à época, profundidade e densidade de plantio, evitando períodos de seca ou temperaturas muito baixas, garantir que as sementes caiam na profundidade adequada entre 3,0 e 5,0 cm e que a densidade de plantio seja conforme a variedade e o sistema de cultivo, para evitar competição entre plantas;

Irrigação: a planta de milho, por consumir grandes quantidades de água, deve receber irrigação com água de qualidade, conforme as condições climáticas e, observar, principalmente, a quantidade para cada estádio da cultura. Lembrando que a germinação e emergência são fases de cultivo de extrema importância e necessitam de água. A falta nessa fase inicial prejudicará os níveis de produtividade do milho;

Adubação: adubação de base e de cobertura são extremamente importantes, pois garantem altos níveis de produtividade, destacando também a importância dos micronutrientes, mesmo colocando em poucas quantidades;

Controle de pragas e doenças: o uso de sementes tratadas e o monitoramento constante garantem o controle antecipado e a redução de inseticidas, além de proteger as plântulas nos estádios iniciais;

Controle de plantas daninhas: o espaçamento e a densidade de plantio podem ser uma forma de evitar a população de plantas daninhas que estão competindo por água, luz e nutrientes;

Rotação de culturas: tem a capacidade de melhorar a saúde do solo e também reduzir os níveis de pragas e doenças nas lavouras, auxiliando no monitoramento de pragas e doenças e também, na redução do uso de fungicidas e herbicidas.

Adubação de qualidade

A cultura do milho necessita de nutrientes em todos os estádios de desenvolvimento, especialmente nitrogênio, fósforo e potássio, após a germinação. A deficiência de nutrientes na fase de germinação e emergência das plântulas podem resultar numa germinação desuniforme e lenta, comprometendo a produtividade final.

Durante o desenvolvimento radicular, o fósforo é o mais solicitado, pois permite que as raízes fiquem mais bem desenvolvidas, garantindo maior absorção de água e nutrientes. A falta de fósforo deixa as raízes finas e com pouca profundidade, impedindo a absorção de água e nutrientes.

Despejando grãos de soja no caminhão-trailer após a colheita no campo.

Para o crescimento vegetativo e o estabelecimento e vigor das plantas, além do nitrogênio, o potássio também é essencial para a fotossíntese, pois ajuda a regulação da abertura e fechamento dos estômatos, contribuindo para a transpiração e a eficiência no uso da água.

Os micronutrientes, como zinco, manganês e boro são essenciais mesmo que seja em pequenas quantidades para várias funções, como a resistência a estresses bióticos e abióticos.

Fitossanidade

As estratégias de controle de pragas e doenças garantem a minimização de riscos nas lavouras e, consequentemente, o desenvolvimento saudável das plantas. O uso de sementes tratadas, a rotação de culturas, o monitoramento constante, o controle biológico e a aplicação de defensivos químicos contribuem para o controle de pragas e doenças.

Porém, sempre é importante lembrar que o monitoramento constante e regular feito por profissionais qualificados garantirá quando e como utilizar as estratégias de controle.

Sendo assim, a proteção das lavouras de milho no período inicial da cultura, ou seja, na germinação e crescimento das plantas, requer uma atenção especial, combinando as medidas preventivas para minimizar impactos severos.

Não só no início da cultura, mas durante todo o desenvolvimento da planta, isso garantirá um bom potencial produtivo, altas produtividades, além de proteger e conservar o solo para que novos plantios sejam realizados.

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