Autor
Luíz Paulo Figueredo Benício
Doutor em Solos e Nutrição de Plantas
luizpaulo.figueredo@gmail.com
Dentre os elementos minerais às plantas, o N é o mais consumido pela maioria das espécies vegetais, existindo raras exceções a esta regra. As plantas absorvem este elemento tanto na forma catiônica NH4+ (amônio), quanto na forma aniônica NO3- (nitrato), sendo o solo o principal provedor deste nutriente para as plantas, com exceção de algumas leguminosas que obtêm o N em sua maioria da atmosfera, por meio da associação simbiótica com microrganismos que conseguem converter N2 em amônio, e em seguida ser assimilado no metabolismo da planta.
Aplicação foliar de N
No ano de 2018 o Brasil consumiu cerca de 35,5 milhões de toneladas de fertilizantes, em que cerca de 30% deste volume correspondeu aos fertilizantes nitrogenados. Com a constante mudança na agricultura e aparecimento de novas práticas, uma nova forma de utilização de N vem ganhando espaço ao lado da aplicação via solo – a aplicação foliar de N, inclusive nas lavouras de milho e soja.
O uso de fertilizantes foliares não é uma prática nova, no entanto, sua utilização é, em sua maioria, para o fornecimento de micronutrientes os quais apresentam grandes problemas de disponibilidade nos solos do Brasil. Mesmo assim, nada impede que nutrientes aplicados via solo em grandes quantidades, a exemplo do N, sejam supridos via foliar, principalmente em momentos de grande demanda pela planta.
Aplicação foliar de N em Soja
A soja obtém mais de 80% de seu N pela fixação biológica. A complementação de N, seja via solo via foliar, se feita de forma inadequada e no período inadequado, pode comprometer o processo de fixação e reduzir a produtividade das culturas. No entanto, têm surgido relatos de sucesso utilizando a complementação foliar de N em estádios pós-floração, onde a demanda por este nutriente se torna elevada.
Caso o produtor opte por aplicar N foliar na soja, o recomendado é que esta aplicação seja feita entre R1 e R5, momento no qual a planta exige grandes quantidades de N, com doses variando entre 2,0 e 4,0 L/ha de fontes com cerca de 30% de N. Em se tratando de aplicação foliar, é sempre bom lembrar que o ideal é que o produtor sempre associe as aplicações de nutrientes com outra operação que já está prevista, o que otimiza os custos da lavoura.
Produtividade
Quanto ao aumento de produtividade, ainda é bem controverso o incremento médio obtido, mas alguns casos são bem interessantes, como um trabalho conduzido em Ubiratã (PR), onde os produtores chegaram a aumentar 11 sc/ha com a aplicação de 2,0 L/ha de uma fonte contendo 32% de N, conforme a figura a seguir.
Produção de soja em função da aplicação de N foliar em diferentes estádios fenológicos. Adaptado de: Influência da aplicação de nitrogênio via foliar em diferentes estágios fenológicos da soja. Revista Cultivando o Saber (2015).
Vale relatar que este resultado não reflete a realidade do dia-a-dia, mas mostra que a prática pode trazer incrementos, em alguns casos bem expressivos.
Aplicação foliar de N em milho
O milho é uma cultura bastante exigente em N, e diferente da soja, sua obtenção é exclusivamente via solo, por isto a demanda da utilização de fertilizantes nitrogenados é elevada, e neste cenário a substituição de parte da adubação via solo por adubação foliar pode ser uma ferramenta para diminuição dos custos da lavoura.
Assim como na soja, o importante é posicionar a aplicação no momento adequado para obter melhores resultados. No milho, a janela de aplicação e as doses a serem utilizadas são maiores. Vários trabalhos utilizando doses entre 5,0 e 15 L/ha de fontes com cerca de 30% de N, como substituição de 1/3 da adubação nitrogenada, têm mostrado bons resultados.
Mesmo tendo uma exigência elevada no N, é importante salientar que doses muito elevadas de uma única vez podem causar fitotoxidade, por isso, é importante, em doses elevadas, realizar o parcelamento, assim como adubação via solo.
Quanto à época de aplicação, esta varia entre V6 e pré-pendoamento, apresentando bons resultados principalmente em mais de uma aplicação dentro desta janela. Outro ponto importante a se observar para a cultura do milho é que não se deve substituir 100% a adubação de cobertura pela aplicação foliar, pois mesmo esta apresentando resultados positivos, nunca irá substituir a adubação via solo, pois a prática da adubação foliar funciona apenas como complementação.
Trabalhos conduzidos na região de Jataí (GO), em milho safrinha, utilizando uma adubação de cobertura de 120 kg/ha de N e mais uma complementação de 10 L/ha de uma fonte com 30% de N, mostram que o produtor vem obtendo um incremento médio de 10 sc/ha, mostrando que a prática pode trazer resultados interessantes a um excelente custo/benefício.
No Estado do Sergipe, onde a principal cultura é o milho, boa parte dos produtores tem implementado o uso de N foliar como parte da adubação nitrogenada. Nessa região tem-se usado em torno de 6 L/ha de fontes comerciais contendo 23% de N dividida em duas aplicações V8 e pré-pendoamento. Os resultados obtidos são equiparáveis ao uso de ureia em cobertura.
Relação custo/benefício
Toda prática a ser implementada em uma lavoura precisa ter uma boa relação custo-benefício. Hoje, no mercado, existem diversas empresas que fornecem formulações concentradas em N para serem aplicadas via foliar. Em média, estes produtos variam entre R$ 7,00 e R$ 10,00.
Pensando na soja com preço médio de R$ 75,00, o uso de uma dose de 2,0 L/ha representa um custo de cerca de 0,25 sc, o incremento médio pelo uso da aplicação gira em torno de 3,0 sc, desta forma, o benefício seria de 2,75 sc, ou seja, um lucro de R$ 206,00.
Para milho, a relação custo/benefício é bem semelhante à da soja. Considerando o preço da saca de milho a R$ 30,00, o uso de 10 L/ha gera um custo de 3,3 sc, com um incremento médio girando em torno de 10 sc. Assim, o benefício seria de 6,6 sc, constituindo um lucro de R$ 200,00.
Principais erros
Em toda adubação foliar o principal fator de erro consiste no posicionamento da aplicação – caso a aplicação seja feita em um momento indevido, a planta não irá responder. Outro erro bastante comum encontrado no dia-a-dia é o uso de doses erradas.
Para soja, doses muito elevadas acabam prejudicando a fixação biológica e, desta forma, também a produção. Já em milho, doses muito baixas não surtem o efeito, e doses muito altas feitas de uma única vez podem promover redução de produtividade pelo efeito fitotóxico.
É importante se atentar para a fonte também. Muitos produtores, buscando reduzir os custos, optam por diluir ureia ou usam um famoso aditivo catalizador de caminhões (ARLA). Apesar de parecerem alternativas de baixo custo, geralmente não são eficientes como formulações comerciais.
As empresas comerciais acrescentam em seus produtos substâncias que melhoram a estabilidade do produto, a absorção e translocação na planta, sendo bem mais eficiente que apenas ureia diluída. Portanto, o uso de substâncias “grosseiras” pode não trazer os efeitos desejados, e constituir-se apenas um custo a mais para o produtor.
Perspectivas para o cenário
Os resultados obtidos pela prática do uso do N foliar em soja e milho têm sido satisfatórios em muitos casos, o que faz com que esta prática aumente nos próximos anos. No entanto, ainda é preciso aperfeiçoar esta técnica, entender melhor as doses, o melhor momento de aplicação e, talvez, até a associação com micronutrientes, o que pode trazer melhores resultados do que já é obtido.