Os números oficiais das exportações brasileiras, divulgados mensalmente pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) comprovam: anualmente mais de 120 países recebem cafés provenientes do Brasil. Mesmo com mercados consolidados e líder absoluto na produção e exportação de café do mundo, nos últimos meses, o setor tem ouvido muito sobre a “promoção de imagem” do produto brasileiro no exterior.
O termo, que chamou atenção dos produtores nos últimos meses, tem como base o trabalho que o setor exportador de café do mundo tem feito para manter a confiança em parceiros comerciais tradicionais, mas também para abertura de novos mercados potenciais para consumo do café brasileiro.
Diante deste cenário, o diretor geral do Cecafé, Eduardo Heron explica que as ações de promoção de imagem estão sendo feitas com bases em duas vertentes. O primeiro trabalho, nos países já consolidados como parceiros comerciais do Brasil como por exemplo na Europa, está sendo feito de forma educativa com o foco em além de contar a tradição e histórias por traz do produto brasileiro, mas principalmente para apresentar a produção sustentável que o cafeicultor já pratica, atendendo assim as demandas de um mercado cada vez mais exigente.
Os dados do Cecafé mostram que atualmente 53% dos cafés brasileiros são destinados à Europa, espaço conquistado pelo país que apresenta um café de qualidade, com muitos atributos e características sensoriais únicas. “Temos diversidade de origem, variedades diversas, cafés com características sensoriais bem distintas e um tema que entendemos que é tão importante quanto a qualidade da bebida, que é a sustentabilidade”, afirma em entrevista ao Notícias Agrícolas.
O agronegócio brasileiro viu nos últimos anos severas críticas em relação à produção agropecuária como um todo e o agronegócio café não ficou de fora das mais variadas análises e discussões dentro e fora do setor. Heron explica que a sustentabilidade tem grande relevância no mercado Europeu, onde se concentram as principais discussões sobre clima e sustentabilidade.
“Nós entendemos que quando se fala em Brasil ainda tem uma grande dificuldade das pessoas associarem que a agropecuária é sustentável. Não se pode pegar casos pontuais e dizer isso é uma realidade da produção. Se tem hoje no Brasil pequenos, médios e grandes produtores que são altamente avançados, que adotam boas práticas e isso faz com que se tenha desempenho não só em volume, mas também em qualidade”, complementa.
Heron acrescenta que as discussões, muitas vezes apresentadas no exterior, são rasas e não levam em consideração os números reais da cafeicultura. Segundo ele, o que se percebe lá fora é que se procura uma narrativa do Brasil para retardar o ímpeto do Brasil no agronegócio, que tem atualmente uma estrutura de pesquisa agrícola excepcional. “
“Querem os fazer como colônia e o Brasil tem crescido, os números da agricultura têm crescido, os números do café são excepcionais. Então a nossa missão como representante do comércio exportador é levar o conhecimento ao europeu que nós produzimos sim, somos o maior produtor de café sim, mas nós temos 20% de reserva legal porque é lei, nós temos hoje iniciativa do carbono neutro que demonstra que o café não poluí, nós temos a redução de área e são elementos que nós temos levar a repercussão da opinião pública que principalmente o café do Brasil está disposto a trabalhar em conjunto com os exportadores para que o país tenha uma agricultura sustentável. Esse é o eixo que nós temos que levar para países consolidados como por exemplo Europa, Estados Unidos, Canadá”, afirma.
Neste sentido, uma parceira entre o Cecafé, Embaixada do Brasil, cooperativa Cooxupé e Exportadora Guaxupé levou recentemente uma exposição com informações da cafeicultura nacional na Itália, levantando pautas como a história da produção, consumo da bebida e principalmente a sustentabilidade.
“Esses cuidados de nossos cafeicultores, embasados por trabalhos das instituições de pesquisa e entidades de classe, como o Cecafé, salientam que os cafés do Brasil, ano a ano, ampliam o respeito aos critérios ESG, da governança socioambiental, e estão preparados para atender à crescente demanda global por qualidade em quantidade, características intrínsecas, por exemplo, aos consumidores italianos, que são os terceiros principais importadores do nosso produto”, destacou Marcos Matos, diretor geral do Cecafé.
MERCADOS EM DESENVOLVIMENTO
Já para os países onde o mercado de café está se consolidando, além de apresentar todas as características básicas de produção, o setor exportador também focado em apresentar a diversidade e a qualidade que o café brasileiro tem, um produto que atende todos os gostos e faixas etárias, independente da região em que está inserido.
Se falou muitos nos últimos meses no potencial de consumo de café no Oriente Médio. Os números do Cecafé mostram que, por exemplo, em Dubai – que vem se destacado na mídia, o mercado vem de fato se expandindo. Em 2020 a participação na importação do café brasileiro foi de 4,8%, crescimento de 19% em relação ao ano de 2019. No ano passado, diante dos problemas de oferta e de logística observado pelo setor, foi registrada queda, mas ainda assim com embarque de 1.6 milhões de sacas.
Eduardo chama atenção que o maior mercado comprador dentro dos países arábes, há alguns anos se trata no entanto da Síria. “Bem antes da guerra era classificada como um dos principais países compradores deste complexo. Passou um longo período com o consumo menor, mas em 2020 foi o primeiro país da lista a se destacar nas compras do café brasileiro. Em segundo vem Líbano e Jordânia”, afirma.
A leitura que Heroz faz desses mercados é de potencial significativo para novos negócios com o Brasil, sobretudo por se tratar de uma região próspera e com uma economia baseada no petróleo, o que traz uma renda per capita interessante. O Cecafé também participou recentemente de feiras no Oriente Médio com a proposta de levar a diversidade da cafeicultura brasileira.
CHINA
Outro potencial mercado para o café brasileiro e que vem recebendo as ações de promoção de imagem é o mercado chinês. Em termos de volume, a China foi o segundo maior destaque nas compras de 2021, ficando atrás apenas da Colômbia. Segundo o Cecafé, houve um incremento de 65% na comparação com 2020, com incremento de 132.003 sacas. Até 2021, a China ocupava a 36ª posição no ranking, passando para 24ª posição em 2021. Nos 12 meses do ano passado, os chineses adquiriram 333.648 sacas do produto nacional.
Segundo dados levantados por Marcos Matos, na China há atualmente 330 milhões de consumidores de café, ou seja, cerca de 1/4 da população. Também em debate no Notícias Agrícolas, Matos destacou que os “chineses apaixonados por café são, em sua maioria, jovens, que trabalham em escritórios e, predominantemente, mulheres”. O perfil consumidor tem entre 20 e 34 anos, 90% possui ensino superior e 44% trabalham em escritórios de indústrias estratégicas, como por exemplo, mídia, publicidade e propaganda.
Para a China, o Cecafé enviou previamente amostras de café de diversas regiões produtoras, que foram avaliadas pela rede de cafeterias Mellower Coffee, a qual, junto com a Embaixada do Brasil em Pequim, será parceira da ação “Mês dos Cafés do Brasil”. Com a seleção dos grãos cultivados no Sul de Minas, na Chapada Diamantina (BA) e na Alta Mogiana (SP).