Nair Helena Castro Arriel
D.Sc em Produção Vegetal e pesquisadora da Embrapa Algodão, responsável pelo Programa de Melhoramento Genético
A adoção de boas práticas agrícolas é essencial para o crescimento e desenvolvimento pleno da planta de gergelim. Porém, as condições edafoclimáticas ideais, preparo do solo, a escolha da cultivar, a época de semeadura, o manejo cultural e fitossanitários, a determinação da época da colheita são fundamentais para garantir uma excelente produção.
O gergelim é uma planta de ampla adaptabilidade, porém atinge sua plenitude em condições edafoclimáticas ideais. Ou seja, solo e clima ideal permitem que a planta externe todo o seu potencial de rendimento. Para produzir bem, há necessidade de estar no seu ótimo ecológico em termos de clima e de solo.
Solos adequados
Em relação ao solo, são indicados solos arejados, franco-argilosos, ricos em matéria orgânica, bem drenados e com boa capacidade de retenção de umidade. É importante determinar as condições físicas e químicas do solo, a fim de se corrigi-lo e suprir as necessidades nutricionais da planta
O gergelim pode ser cultivado em diversos tipos de solo, porém prefere solos profundos, pelo menos 60 cm, bem drenados e de boa fertilidade natural, desde franco-arenosos até franco-argilosos, descartando-se as texturas extremas.
A planta tem preferências por solos de reação neutra, pH próximo de 7,0, não tolera acidez elevada, abaixo de pH 5,5, nem alcalinidade excessiva, acima de pH 8,0 e ainda é à salinidade, especialmente a alcalinidade, devido, no caso, o sódio trocável que dependendo da concentração pode se tornar tóxico ao metabolismo da planta.
Adubação
A cultura do gergelim é responsiva à adubação e necessita de solo fértil e, ou, fertilizado adequadamente para expressar sua máxima produtividade. O gergelim extrai do solo, em termos relativos, quantidades elevadas de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), que variam em função da produção, do estado nutricional, da variedade utilizada e da parte da planta colhida. Em geral, o gergelim precisa de 50 – 14 – 60 kg/ha de N-P2O5 – K2O para produzir 1.000 kg/ha de sementes por hectare.
As recomendações para correção de acidez e adubação devem ser feitas com base em resultados de análise química e física do solo, retirando as amostras da camada arável que, normalmente, é a mais intensamente alterada, seja por arações e gradagens, seja pela adição de corretivos, fertilizantes e restos culturais e seguir as recomendações de adubação, evidenciando sempre a relação custo/benefício que poderão ser obtidas com a prática da adubação.
Fatores climáticos
Em relação ao clima, os principais fatores climáticos que determinam o melhor crescimento e desenvolvimento do gergelim são: temperatura, precipitação, luminosidade e altitude.
Embora seja uma planta de grande adaptabilidade climática, o gergelim se desenvolve melhor em condições tropicais e subtropicais, exigindo umidade moderada, clima quente e temperaturas elevadas para se obter a máxima produção.
As temperaturas ideais para o crescimento e desenvolvimento da planta situam-se entre 25 e 30°C, inclusive para germinação das sementes. Temperaturas médias de 27°C favorecem o crescimento vegetativo e a maturação dos frutos.
Temperaturas abaixo de 20°C provocam atraso na germinação e no desenvolvimento da planta e abaixo de 10°C todo o metabolismo fica paralisado levando à morte da planta. Temperaturas acima de 40°C causam abortamento de flores, não enchimento de grãos e redução do número de frutos por planta. Em locais onde a temperatura do ambiente é elevada, entre 28 e 29 °C, o teor de óleo das sementes é maior, independente das cultivares.
Quedas de temperatura durante o período de maturação afetam a qualidade das sementes e do óleo, interferindo negativamente na composição química das sementes, como por exemplo, no conteúdo de sesamina e sesamolina.
Em relação à altitude a planta se desenvolve melhor em baixas altitudes e produz bem até 1250 metros de altitude. Acima disso, as plantas não se desenvolvem, ficam raquíticas, pouco ramificadas, a produtividade é bastante reduzida e as sementes são de baixa qualidade.
Planejamento estratégico
O planejamento deve ser feito em função do ciclo da cultivar, das necessidades hídricas da planta de gergelim e da umidade e capacidade de retenção de água no solo. Quanto ao ciclo as cultivares podem ser classificadas como: ciclo precoce, variando entre 70 a 99 dias do plantio à colheita, ciclo médio de 100 a 120 dias e ciclo tardio, acima de 120 dias de ciclo biológico.
O gergelim é uma planta com razoável nível de tolerância à seca e por ser adaptada às condições de baixa pluviosidade tendo sido cultivada em condições de segunda safra, ou safrinha.
Porém, para o pleno crescimento e desenvolvimento da cultura no campo é importante considerar o limite de suas necessidades hídricas. Para produzir razoavelmente bem, entre 350 e 600 kg ha-1 de grãos, é necessário precipitações acima dos 350 mm, sendo mais indicado para o seu cultivo, locais com 450 mm a 600 mm de chuvas durante o ciclo.
A planta requer no primeiro mês de vida em torno de 160 a 180 mm e um acúmulo superior a 250 mm até o final dos primeiros 60 dias após o plantio. Do total de chuvas durante o ciclo da cultura, cerca de 80% devem ocorrer até o florescimento e menos de 20% durante o período de maturação dos frutos.
A umidade do ar ideal para o gergelim é em torno de 60%. Em seca mais severa, ocorre paralisação do crescimento até que o agente estressor (estiagem) volte à normalidade. As cultivares de hábito de crescimento ramificado de ciclo médio apresentam, em geral, maior estabilidade e maior adaptabilidade em locais com problemas de deficiência de umidade no ambiente edáfico.
Regiões produtoras
No Brasil, o gergelim, é cultivado tradicionalmente, em especial na região semiárida do Brasil, no Centro-Oeste no Vale do Araguaia e em alguns locais da região Sul e Sudeste. Além do cultivo tradicional na maioria dos estados nordestinos, o gergelim é cultivado em Mato Grosso, Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pará, Tocantins, Rondônia, Roraima e Minas Gerais.
A expansão do gergelim ocorreu pelo interesse de produtores e empresas pelo cultivo do gergelim como cultura alternativa para diversificação agrícola em grande escala nas regiões centro-oeste, sul e sudeste, que pode ser usada em rotação após as culturas da soja, algodão ou milho ou cultivo de segunda safra devido a sua tolerância ao estresse hídrico e altas temperaturas, aliado aos preços praticados no mercado nacional e internacional configuram esta oleaginosa como excelente alternativa de exploração agrícola.
Abre-se uma excelente oportunidade de divisas a partir para exploração da cultura do gergelim, corroborado ainda pelo fato do crescimento da demanda mundial por produtos a base de gergelim.
Até o ano de 2015, o estado de Goiás respondia por, aproximadamente, 60% da produção nacional e 50% de área cultivada. Nesse mesmo ano, Mato Grosso registrou um total de 20 mil hectares implantados com a cultura. Já nos estados do nordeste, a exploração ainda permanece, em sua maioria, em âmbito de subsistência, com poucos excedentes comercializáveis em feiras locais, panificadoras e casas de produtos naturais.
Volume de produção
Conforme o 8º Levantamento da Safra de Grão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a área cultivada no Brasil é estimada em aproximadamente 584 mil hectares, com uma produção de 288,9 mil toneladas, em que os estados do Mato Grosso, Pará e Tocantins, respondem por 99% da área plantada e produção.
Atualmente, a maior área cultivada encontra-se no Estado de Mato Grosso, com mais de 65% do País, onde os municípios da região do Vale do Araguaia, com destaques para os municípios de Canarana, Água Boa e Querência, na região leste do Estado, concentram a maior parte da área cultivada e produção no País.
A área plantada e produção de gergelim em Mato Grosso deve aumentar em 106,0% e 110, 7%, atingindo 382,1 mil hectares e 191,1 mil toneladas, respectivamente na safra 2023/2024. Os estados do Pará e Tocantins respondem por aproximadamente 33,5%.
No Pará, a área plantada se concentra, no sudeste paraense e baixo Amazonas com destaques para os municípios de Paragominas, Ulianópolis e Santarém. No Tocantins, a área plantada se concentra nas regiões sudeste e central do estado com destaque para os municípios de São Valério, Santa Rosa e Paraíso do Tocantins.
Ciclo produtivo
A variação do ciclo é uma condição genética. As cultivares podem ser classificadas como: ciclo precoce, variando entre 70 a 99 dias do plantio à colheita, ciclo médio de 100 a 120 dias e ciclo tardio, acima de 120 dias de ciclo biológico. Em condições de menor precipitação, baixa umidade, baixas temperaturas e altitude acima de 1.250 metros as plantas ficam raquíticas e de ciclo reduzido.
Inovações
Atualmente, a disponibilidade de diferentes cultivares à disposição dos produtores rurais e a tecnificação do plantio a colheita têm sido fundamentais para o crescimento do cultivo do gergelim.
Busca-se, atualmente, o melhoramento genético da espécie, para aumentar a produtividade no campo. A Embrapa Algodão ao longo dos anos já disponibilizou oito cultivares e por meio da condução do seu programa de melhoramento do gergelim tem como foco a redução das perdas de grãos devido à abertura dos frutos/cápsulas após a maturação fisiológica por meio da identificação e seleção de genótipos deiscentes altamente produtivos com características de sementes fortemente aderidas à placenta e genótipos produtivos com indeiscência (frutos/cápsulas que não se abrem) ou semi-indeiscência dos frutos (abertura parcial dos frutos/cápsulas) para obtenção de cultivares de ampla adaptabilidade e de alto rendimento de grãos, acima de 1.500 kg por hectare.
O Estado de São Paulo, sempre foi importante na cadeia produtiva do gergelim, onde seus grãos são utilizados há mais de 75 anos para atender aos segmentos agroindustrial oleaginoso e de alimentos in natura.
Custo envolvido
Em função de sua adaptabilidade às condições edafoclimáticas do país, facilidade de manejo e viabilidade econômica, a exploração do gergelim constitui-se uma alternativa agrícola de grande potencial para a geração de emprego e renda, tanto no âmbito da agricultura familiar no Nordeste, como cultivo de segunda safra no cerrado brasileiro.
E para se alcançar altos rendimentos, como qualquer atividade agrícola, o produtor deve adotar sistematicamente o uso de boa semente (grão bem formado; sem doença; sem mistura de sementes de outras cultivares), complementado com o uso de boas tecnologias de cultivo como a mecanização da lavoura, a fertilização do solo quando necessária e o eficiente controle de plantas daninhas, de pragas e de doenças, ou seja, o agricultor deve usar tecnologias capazes de explorar o potencial de produção da cultura.
O custo de implantação do gergelim, se comparado a outras culturas, é relativamente baixo. Atualmente, a maioria dos produtores, gastam basicamente com a aquisição de sementes. Nas regiões produtoras o custo de um hectare tem variado de R$ 600 a R$ 800.
Demanda por alimentos saudáveis
A crescente demanda por produtos saudáveis, aliado ao aumento de consumo a base de gergelim impulsiona o aumento da área plantada. O gergelim é um produto extremamente nutritivo.
Suas sementes contêm em média 50 % de óleo de elevada qualidade nutricional e são muito apreciadas como tempero e alimento energético. Suas propriedades medicinais o tornam apto para uso nas indústrias óleo-química, fitoterapia, farmacológica, fitocosmética, principalmente relacionadas à sua constituição em antioxidantes naturais, como as ligninas, fitoesteróis e vários constituintes secundários que conferem ao óleo elevada resistência à oxidação e ainda pode ser usado na fabricação de lubrificantes, sabão, tintas e inseticidas.
A demanda pelos produtos dessa oleaginosa está em plena ascensão, constituindo-se ainda em opção viável para rotação e consórcio com outras culturas, e, pode ser utilizado em agricultura orgânica abrindo a possibilidade de uma maior inserção do agricultor familiar em diferentes nichos de mercado.
Com o crescimento do mercado produtor de pulses e cultivos especiais no Brasil, todos demandados e presentes nos mercados internacionais, em especial da China e da Índia, vislumbra-se um mercado potencial para o agronegócio do gergelim.
Opção de rotação
Além de ser uma alternativa de cultivo rentável com potencial para atender o mercado nacional e internacional, é uma cultura que pode ser usada em rotação e ou sucessão de culturas, como a soja.
No mercado brasileiro os agricultores comercializam gergelim em grãos, diretamente ou via intermediários, nas feiras e supermercados ou para as indústrias de extração de óleo, de panificação e de confeitos.
As indústrias de extração de óleo comercializam o óleo refinado e a torta. As indústrias de panificação e confeitos comercializam produtos processados na forma de balas, doces, pães, salgados, biscoitos e outros produtos alimentícios.
O óleo é comercializado, principalmente, no mercado de óleos comestíveis. No entanto, está crescendo o seu uso na composição de produtos medicinais e cosméticos.
Os principais compradores finais dos grãos de gergelim são as indústrias de extração de óleo, de panificação e de confeitos que recebem a maior parte do produto via atravessadores.
Na região centro-oeste, grande parte do que é produzido vai para o abastecimento das indústrias e para os mercados de produtos naturais, especialmente em São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro, e para exportação, principalmente para o Oriente Médio, países do norte da África e Sudeste Asiático.