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Como realizar o manejo do Bicudo da cana-de-açúcar

Devido à importância dessa praga, deve-se considerar o estágio de desenvolvimento da cultura e o seu histórico de incidência nas áreas cultivadas.

Alessandra Marieli Vacari
Doutora em Entomologia, professora e pesquisadora nos Programas de Pós-graduação em Ciência Animal e Ciências – Universidade de Franca (Unifran)
alessandra.vacari@unifran.edu.br

Josy Aparecida dos Santos
Graduada em Ciências Biológicas e mestranda em Ciências – Unifran
josysantoscosta15@gmail.com

Enes Pereira Barbosa
Engenheiro Agrônomo – Emater-MG
enes.organicos@gmail.com

O besouro bicudo, Sphenophorus levis (Coleoptera: Curculionidae), é uma figura preeminente e destrutiva praga de solo da cultura da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) no território brasileiro, notadamente no estado de São Paulo.

Esses insetos atacam perfilhos e colmos sadios
Créditos: Ana Maria Diniz

Sua ocorrência inicial foi na região de Piracicaba (SP), e posteriormente, se disseminou de forma substancial até 2006, tendo então atingido 53 municípios nos estados de São Paulo e Minas Gerais.

Danos visíveis

Sua classificação como praga-chave é fundamentada nos danos diretos causados pelas larvas nos tecidos caulinares, preponderantemente durante a estação seca (junho a agosto).

Os danos estão relacionados à morte das soqueiras, conduzindo a deficiências no rebrotamento, o que, por sua vez, fomenta o aumento na prevalência de plantas invasoras, e por consequência, uma competição indesejada com a cultura principal.

Prejuízos no bolso

As altas infestações da praga podem resultar na antecipação da renovação dos canaviais, promovendo um impacto direto na produtividade e longevidade da lavoura. Estudos têm denotado incidências onde 50 a 60% dos perfilhos foram afetados, culminando em perdas médias de 20 a 30 toneladas por hectare por ano, com uma subsequente redução na vitalidade das plantas de cana-de-açúcar.

Em cada 1% de rizomas atacados pelo S. levis, há uma diminuição de 0,32% no peso dos colmos, e de 0,68% no número total, culminando em uma perda total de 0,92% a partir da primeira colheita.

O ataque

Esses insetos atacam perfilhos e colmos sadios e preferem solos argilosos e úmidos. Possuem capacidade de voo restrita, sugerindo que a dispersão do inseto a longa distância ocorre por meio de mudas retiradas de um local infestado.

Os adultos caminham lentamente, permitindo a dispersão de um campo para outro vizinho, mas a fase larval é a que causa maiores danos à cultura. Os danos às plantas são observados no rizoma abaixo do solo, onde a larva se alimenta e se abriga, abrindo galerias circulares e longitudinais na base do broto. Esse ataque resulta em amarelecimento das folhas e morte dos perfilhos.

De olho na praga

A distribuição espacial de S. levis ocorre de forma agregada, ou seja, em reboleiras. Para monitoramento de larvas, podem ser feitas duas trincheiras (0,5 m × 0,5 m × 0,3 m) por hectare.

Em áreas com baixas infestações pode-se aumentar o número de pontos para seis por hectare. As touceiras são analisadas para registro das formas imaturas e os danos ocasionados pela praga.

O monitoramento de larvas deve ocorrer de maio a setembro, após a colheita ou antes da reforma do canavial. Para o monitoramento de adultos de S. levis, iscas devem ser elaboradas a partir de toletes de cana-de-açúcar, utilizando tamanho de 30 cm, embebidos em solução de inseticida com melaço.

Devem ser distribuídas dez iscas por hectare, sendo colocadas junto à base das touceiras, viradas para baixo e cobertas com palha. As iscas devem ser renovadas a cada 15 dias. O monitoramento de adultos deve ocorrer de outubro a março. Estudo recente determinou que o nível de dano econômico é cerca de 5% de tocos atacados.

Ações imediatas

Para reduzir os impactos desta praga na lavoura, são necessárias ações como manejo integrado de pragas, mantendo monitoramento adequado. O método mais utilizado para o controle de S. levis é a destruição mecânica da soqueira durante o plantio (época da reforma da cana), tentando expor as larvas a seus predadores e aos rizomas secos.

Entretanto, essa prática apresenta resultados satisfatórios apenas na primeira colheita, pois muitas larvas conseguem sobreviver alimentando-se da matéria orgânica deixada no campo após a destruição das soqueiras, não afetando as formas adultas desse inseto.

Também é recomendado eliminar plantas daninhas que possam servir de abrigo para os adultos, como grama-seda (Cynodon dactylon L.), capim-colchão (Digitaria horizontalis Willd.) e capim-marmelada (Brachiaria plantaginea).

Produtos registrados

Com relação à utilização de controle químico, existem 19 produtos registrados no MAPA para S. levis, que pertencem a grupos químicos como pirazol, antranilamida, piretroide, neonicotinoide, estrobilurina e metilcarbamato de benzofuranila.

Em cana planta, na operação de plantio, deve-se fazer a aplicação sobre os toletes da cana no interior do sulco de plantio, fechando o sulco imediatamente após o tratamento. Nesse caso, deve-se aplicar nas áreas onde a amostragem prévia identificar a presença da praga.

Nas soqueiras da cana, quando constatada a presença da praga em nível de dano econômico (5% de tocos atacados), deve-se realizar uma aplicação a partir de 30 dias após o corte, abrindo os sulcos laterais e procurando sempre colocar o produto abaixo do nível do solo, utilizando equipamentos pulverizadores adaptados para tal função, na dose de 100 – 200 litros calda/ha em aplicação jato dirigido.

O uso de biológicos apresenta eficiência no controle do bicudo
Crédito: Netafim

Alternativas

Outras estratégias utilizadas contra pragas de solo partem da utilização de fungos entomopatogênicos e nematoides para controle desses besouros. No Brasil, alguns estudos têm testado a eficiência de nematoides, bactérias e fungos entomopatogênicos no controle de S. levis no campo.

Estudos recentes indicam que o fungo Metarhizium anisopliae pode ser eficiente no controle de larvas e adultos de S. levis quando aplicado na soqueira, proporcionando redução de 80% dos danos.

Estudos em campo indicaram até 92% de mortalidade de adultos utilizando iscas com toletes de cana inoculados com Beauveria bassiana. Atualmente, existem no MAPA 53 produtos registrados a base do fungo B. bassiana para o controle de S. levis.

O nematoide entomopatogênico Steinernema carpocapsae foi encontrado naturalmente em S. levis, provocando até 60% de mortalidade de pupas. As espécies de nematoides entomopatogênicos S. carpocapsae e Heterorhabditis bacteriophora são registradas no MAPA, o que permite sua utilização para o controle de S. levis.

Recomenda-se a aplicação de nematoides entomopatogênicos logo após a colheita da cana para reduzir a população da praga na próxima geração. Além disso, nos últimos anos, estudos têm investigado plantas transgênicas que expressam inibidores de peptidase como uma alternativa no controle de S. levis.

Atenção

Devido à importância dessa praga, deve-se considerar o estágio de desenvolvimento da cultura e o seu histórico de incidência nas áreas cultivadas.

Outro fator importante é a implementação de estratégias que possam evitar a entrada do inseto nas áreas cultivadas, como a utilização de mudas pré-brotadas (MPB). Devido à dificuldade de controle desse inseto, é fundamental a utilização de diferentes estratégias dentro de um programa de manejo integrado de pragas, proporcionando maior eficiência de controle aliado à maior sustentabilidade. 

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