27.1 C
Uberlândia
quinta-feira, novembro 21, 2024
- Publicidade -spot_img
InícioArtigosFlorestasControle das Formigas cortadeiras na agricultura orgânica

Controle das Formigas cortadeiras na agricultura orgânica

Autora

Camila Rodrigues Alves Casarini
Engenheira agrônoma
casarini.ca@gmail.com
Crédito Shuttertock

No Brasil, as formigas cortadeiras do gênero Atta são conhecidas popularmente como saúvas e as Acromyrmex como quenquéns, totalizando cerca de 40 espécies, algumas das quais são sérias pragas para a agricultura brasileira, em especial para a agricultura orgânica.

Atualmente, cada vez mais se buscam alternativas biológicas de controle de pragas para evitar a exposição do aplicador e do ambiente a esses produtos. Nesse sentido, um insumo biológico para controle das formigas, associado a um método de fácil aplicação, pode ser uma importante proposta.

A Beauveria bassiana é um fungo entomopatógeno, ou seja, aquele que causa doença em um inseto. O mecanismo de ação desse fungo ocorre a partir do momento em que os esporos da Beauveria bassiana atingem o inseto, germinando e penetrando sua cutícula, colonizando os órgãos internos e liberando toxinas em seu interior, posteriormente causando sua morte.

Todo o processo ocorre entre dois a sete dias após o contato com o hospedeiro. O inseto infectado torna-se coberto por uma camada pulverulenta de cor branca. Eventualmente poderão ser utilizados outros fungos entomopatógenos em busca de maior eficiência e adaptação a condições ambientais diferenciadas.

O projeto em questão basicamente visa o controle dessas espécies de formigas cortadeiras, por meio da aplicação de fungos entomopatógenos, especialmente a Beauveria, diluído em substrato facilitador de sua multiplicação, o amido (de milho, de araruta e outros). Ainda como adjuvantes, poderão ser utilizados pós de rocha, como terra diatomácea, que causa abrasão nas articulações, facilitando a penetração no inseto. 

Todos esses materiais podem ser encontrados na forma de pó, e a mistura deles pode ser facilmente utilizada em aplicadores manuais ou mecanizados já existentes no mercado, com baixo custo.

Desafios

Resta, ainda, o desafio de testar diferentes formulações, além de determinar a quantidade necessária a ser aplicada em função da área ocupada pelo formigueiro. Nos testes iniciais conduzidos em diversos produtores, a utilização de uma mistura contendo 80% de amido e 20% de produto comercial com 1 x 108 de esporos viáveis de Beauveria bassiana mostraram-se promissores.

A grande vantagem de ter um produto que pode ser aplicado desta forma reside no fato do agricultor já dominar amplamente a tecnologia de aplicação. Assim, esta combinação de produto mais meio de aplicação poderá ter sua difusão e comercialização muito facilitadas, ao contrário dos materiais existentes hoje para o controle biológico de formigas cortadeiras.

Um grande desafio para o uso de agentes biológicos a campo é o estabelecimento rápido de uma grande população destes agentes no ambiente, de forma a se contrapor a população da praga ou doença-alvo do controle de maneira efetiva. Nem sempre o ambiente oferece condições favoráveis.

Na tentativa de mudar o meio ambiente para proporcionar melhores condições de multiplicação do agente biológico, também se busca, quando possível, realizar a aplicação durante o período do dia mais favorável (normalmente a noite), ou após irrigação ou chuva.

Em condições de campo, os produtores e técnicos procuram contornar o problema aumentando a dose de produto comercial e/ou a frequência de aplicação, ampliando a probabilidade de o agente biológico encontrar o alvo. Nesta direção de raciocínio ocorre cada vez mais a multiplicação de agentes biológicos a nível de fazenda, com o objetivo de diminuir os custos, apesar da dificuldade de se manter o mesmo nível de qualidade do insumo comercial.

Estratégias contra ácaros

Para uso de ácaros predadores, entretanto, que têm pouca mobilidade quando comparado a outros insetos-predadores alados, se utiliza uma outra estratégia. Identificam-se as reboleiras onde ocorre a praga em maior intensidade e neste local a aplicação do predador é feita em maior número.

Assim é maior a chance de o ácaro predador encontrar seu alvo, utilizá-lo como alimento e, desta forma, multiplicar-se, estabelecendo uma população cada vez maior.  Quando naturalmente a população da praga diminuir, ocorrerá redução dos predadores, caso não haja alimento alternativo.

Outras alternativas utilizadas para diminuir o custo de tratamento biológico estão voltadas para métodos e equipamentos para dispersão do agente biológico de maneira a obter os melhores resultados de controle com o uso de georreferenciamento e monitoramento.

Possibilidades de uso deste protocolo

Sem prejuízo das abordagens até aqui utilizadas para uso do controle biológico, este protocolo busca explorar uma nova abordagem para aumentar a eficácia da utilização de agentes de controle biológico, especialmente os microbiológicos, que dependem de métodos efetivos e equipamentos adequados para sua dispersão a campo.

A intenção é aproveitar a capacidade destes agentes de controle de colonizarem o ambiente pelo aporte intencional de substrato para sua multiplicação. Esta pode ser uma forma mais adequada de trabalhar com pragas como formigas cortadeiras, cupins, nematoides, larva alfinete, tripes, bicudo-da-cana e outras pragas de solo. Mesmo para algumas doenças de solo, esta também pode ser uma abordagem viável.

Tradicionalmente se buscou aumentar a dose e/ou a frequência de aplicação de produto comercial para conseguir um nível de controle desejado das pragas e doenças, semelhante à forma de utilização de controladores químicos.

Talvez a possibilidade de o agente biológico ter a capacidade de se multiplicar a campo tenha sido negligenciada nos protocolos hoje em utilização. Esta pode ser uma variável interessante de ser explorada, principalmente se apoiada por métodos e equipamentos que possibilitem a aplicação econômica do agente controlador e do substrato facilitador de sua multiplicação.

Em situações específicas, como colônias de formigas e cupins, até mesmo outros adjuvantes, como terra diatomácea, que podem aumentar a ação do agente biológico, podem ser testados.

O desafio é estabelecer uma interação viável entre:

ð As necessidades do agente biológico para se manter e multiplicar em determinada condição ambiental;

ð A disponibilidade de um substrato que possibilite a multiplicação do agente biológico a um custo adequado;

ð Um equipamento que consiga aplicar de forma adequada e no momento mais correto o agente biológico e seu meio de multiplicação, e

ð A capacitação efetiva das pessoas, para entenderem a proposta de estabelecimento de uma dinâmica de populações entre as pragas/doenças e os agentes biológicos de controle.

Viabilidade para agricultura orgânica

A operacionalização deste protocolo em propriedades com certificação orgânica é bastante viável, uma vez que utiliza agentes biológicos para controle de pragas e doenças que são autorizados pelas normas vigentes.

Um complicador no processo pode ser a exigência quanto à autorização prévia pelo organismo de certificação dos substratos facilitadores de multiplicação. São substâncias encontradas no mercado e destinadas a consumo humano, mas nem sempre tem informações específicas sobre transgenias ou possui ficha de segurança.

Se o procedimento para autorização exigir toda essa documentação, provavelmente o produtor, principalmente o pequeno, não irá adotar o protocolo, pois são diversas marcas e fontes (milho, batata, mandioca, araruta, etc.) que necessitariam de autorização.

ARTIGOS RELACIONADOS

Boro líquido proporciona mais produtividade para a batata?

AutoresArnon Higor Leitão Graduando em Engenharia Agronômica - Centro Universitário Sudoeste Paulista (UNIFSP) arnonhigorleitao2@gmail.com Bruno Novaes Menezes Martins Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Horticultura -...

LNF inova com desmucilagem enzimática

  Este foi o segundo ano emque a LNF participou do Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras. "A razão de estarmos aqui é divulgar nossos produtos...

Erros comuns na pulverização da batata

  Douglas José Marques Professor de Olericultura e Melhoramento Vegetal da Universidade José do Rosário Vellano - UNIFENAS douglas.marques@unifenas.br Hudson Carvalho Bianchini Professor de Fertilidade do Solo...

Feijão – Um fosfito para cada etapa

Patrícia de Oliveira Piacentini Sandra Dalla Pasqua sandra-dalla-pasqua@hotmail.com Engenheiras agrônomas e mestres em Agronomia Para não errar, o produtor deve saber que, de acordo com seu objetivo, há...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!