Gisele Elisa Cossa – giselecossa@gmail.com
Maria Juliana Ferreira Perciani – julianaperciani@hotmail.com
Engenheiras agrônomas
Patrick Oliveira Silva – patrick.oliveira.silva@usp.br
Victória Chaves Valdovino – victoria.valdovino@hotmail.com
Graduandos em Agronomia – USP
A alface (Lactuca sativa) é uma hortaliça folhosa pertencente ao gênero Lactuca L., da família Asteraceae, sendo uma das principais espécies de folhosas comercializadas e consumidas no Brasil devido a ser fonte de vitaminas, como a do tipo A, sais minerais e ter boa digestibilidade e baixo teor calórico.
Os grupos mais consumidos no Brasil são as de folhas tipo lisa, com formação ou não de cabeça, crespa, americana e mimosa. A alface é uma espécie com origem em regiões de clima temperado, sendo influenciada por temperaturas elevadas.
Temperaturas superiores a 20ºC induzem seu pendoamento, comprometendo sua produção, tornando as folhas mais rígidas, amargas e impróprias para consumo devido à produção de látex. Com isso, a alface tem melhor produção nas épocas mais frias.
Fitossanidade
Em relação ao desenvolvimento da cultura, um dos fatores que afeta a produtividade e a qualidade do produto final é a grande suscetibilidade e incidência de doenças. Existem aproximadamente 75 tipos de doenças que afetam a alface, acarretando na aplicação de uma grande quantidade defensivos agrícolas.
A mancha foliar de Stemphylium, causada pelo fungo Stemphylium spp., é uma das doenças de hortaliças que atacam os frutos, caule e folhagem, sendo mais comum e severa em vegetais como tomate, pimentão, cebola, alho, aspargos e alface.
Na cultura da alface, os danos podem comprometer até 100% da produção, quando não realizado o controle da doença. O gênero Stemphylium pertence ao reino Fungi e família Pleosporaceae, tendo como telemorfo o ascomiceto Pleospora.
A maioria das espécies são saprófitas, sobrevivendo em restos culturais, sendo as espécies mais comuns S. botryosum, S. solani e S. lycopersici, sendo estas duas últimas as que mais prevalecem no Brasil devido a sua adaptação a regiões tropicais com temperaturas elevadas.
Condições para a infecção
A temperatura e a umidade são fatores ambientais de grande importância para a infecção do patógeno e seu desenvolvimento. Para a germinação e alongamento do tubo germinativo é necessário a presença de água livre sobre a superfície da folha e temperaturas entre 24 a 27°C.
Os sintomas do patógeno aparecem dentro de três a cinco dias após infecção e são caracterizados, principalmente, nas folhas novas de plantas adultas, com a formação de lesões foliares pequenas na coloração marrom-escura, de formato irregular.
Inicialmente, as lesões possuem pequeno diâmetro, são encharcadas e visíveis na parte abaxial das folhas, podendo evoluir para manchas maiores, que podem coalescer e se desprendendo na parte central do restante do tecido foliar, conferindo um aspecto rasgado na região da lesão.
Controle
A utilização de cultivares resistentes e controle químico são as principais medidas de controle. Entretanto, o uso de defensivos agrícolas, além de gerar alto custo de produção e seleção de patógenos resistentes, pode apresentar riscos ao produtor e consumidor final, devido ao consumo da hortaliça ser in natura.
Com isso, a adoção do sistema orgânico tem sido amplamente difundida, e assim a busca por alternativas de controle tem se tornado constante.
Mulching
O mulching é uma técnica utilizada na produção de hortaliças devido aos seus grandes benefícios e consiste na aplicação ao solo de um material orgânico, como exemplo de uma cobertura morta, ou inorgânico, como o plástico de polietileno.
O plástico é o método mais utilizado devido ao baixo custo, podendo ser de diferentes cores, sendo a preta a mais comum, devido à sua maior resistência e eficiência, com durabilidade de até três anos.
Essa técnica foi desenvolvida para conferir vários efeitos benéficos, como por exemplo, para controlar o ambiente do solo, protegendo o solo contra impactos das gotas de chuva, com redução na concentração média de sedimentos, perda de solo e volume de escoação e, consequentemente, aumentar o rendimento das culturas.
Possibilita, ainda, ter colheitas antecipadas e melhor qualidade dos produtos em diferentes contextos, como terras agrícolas, áreas afetadas por incêndios e pastagens, uma vez que os produtos ficam mais limpos e sadios.
O mulching também está associado à redução das taxas e velocidade de geração do fluxo terrestre, aumentando a rugosidade. Aumenta a atividade de algumas espécies de minhocas, assim como favorece a interação com nutrientes, estrutura do solo e conteúdo de matéria orgânica.
Atua, ainda, sobre a redução na incidência de plantas daninhas e de organismos patogênicos. A prática, realizada com cobertura morta, proporciona uma significativa redução na temperatura do solo, beneficiando a germinação das sementes e o desenvolvimento de raízes, assim como diminui a evaporação.
Contra doenças
Em relação ao manejo de doenças, o mulching tem grande importância devido a proporcionar um ambiente favorável à planta e menos favorável ao desenvolvimento do patógeno, como em relação à umidade do solo, criando uma proteção da parte aérea da planta a patógenos que ficam em restos culturais, como no caso do Stemphylium.
Outro ponto é a maior absorção de água e nutrientes, possibilitando um maior vigor e tolerância à doença.
O mulching pode ser implementado de duas formas distintas, sendo a primeira com a utilização de cobertura morta ou com o uso de plástico de polietileno. Essa prática é implantada nos canteiros juntamente com as fitas de gotejamento utilizadas na irrigação da cultura.
O primeiro passo para instalação é o preparo das laterais do canteiro, retirando aproximadamente 10 cm de solo, que servirá para cobertura das extremidades do plástico. Em seguida o material deve ser esticado e fixado. Para isso, devem ser feitas perfurações na lona conforme o espaçamento da cultura.
Benefícios
No que diz respeito à produtividade da cultura, o uso do mulching oferece vários benefícios. Como citado, no produto final o mesmo tem um grande papel, pois proporciona uma maior qualidade, visto que o mesmo não terá contato direto com solo, permanecendo mais limpo e evitando doenças de solo.
O mulching, tanto sintético como orgânico, favorece o aumento na produtividade das culturas devido à retenção de água que o mesmo proporciona no solo, pela redução da evaporação.
Também auxilia no aquecimento do solo, favorecendo o cultivo em regiões mais frias, e até mesmo a redução na temperatura do solo, como é o caso dos mulchings vegetais para locais mais quentes.
Alguns resultados observados por produtores foram em relação à maior agilidade para cultivo da alface, permitindo o aumento de produção e a implantação de novas culturas, aumentando a rentabilidade.
Outro fator é em relação às cores do mulching. As mais escuras aumentam a temperatura do solo, estimulando o florescimento precoce e o alongamento do caule, sendo uma das características indesejáveis. Já cores mais claras refletem uma maior radiação solar, resultando em menores temperaturas, aumentando o seu metabolismo e fazendo com que os vegetais tenham um maior crescimento.
O mulching permite o plantio em épocas que normalmente não seriam escolhidas para a produção ao ar livre. Esse sistema também auxilia na redução das necessidades hídricas (irrigação), pelo uso mais eficiente da água pelas plantas.
Outro resultado a ser ressaltado é no que se refere à produção em ambientes protegidos. Foi observado um melhor aproveitamento dos nutrientes, luz solar e CO2, resultando na redução do ciclo da cultura.
Atenção!
Entretanto, durante a execução da prática, alguns erros podem ser cometidos, sendo um dos mais comuns em relação à instalação do plástico, principalmente a má colocação da cobertura e a realização incorreta da perfuração.
Outro problema está relacionado à irrigação, pois os canteiros ficam totalmente cobertos, dificultando o manejo, em caso de entupimentos. É preciso ter atenção, ainda, quanto ao descarte correto do material, já que o plástico não se degrada facilmente. Consequentemente, descartes em locais inapropriados causam grande impacto ambiental.
Há estudos para a redução desse problema a partir da substituição do filme de polietileno por plástico biodegradável.
Viabilidade
Já em relação ao custo para aplicação da técnica, é relativamente baixo, pois dependerá do tamanho da área cultivada e da qualidade do material utilizado. Sendo assim, apresenta um valor médio de R$ 1,00 por metro quadrado.
Considerando que as perdas pela doença ocorrem majoritariamente na fase inicial do desenvolvimento da cultura, maior será o custo-benefício de produtores que visam a produção de sementes e mudas, pois diminuirá a incidência da doença na área com um baixo custo, salientando a necessidade de adaptação da irrigação, caso seja necessário.
Para produtores que visam o varejo, a técnica permite facilidade no manejo, controle de pragas e outras doenças de importância agronômica.