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Crotalária: redução de nematoides

Suzeth Carvalho SousaGraduanda em Agronomia – Unicerradosuzecarvalho10@gmail.com

Pauletti K. RochaEngenheira agrônoma, mestra em Agronomia e diretora do curso de Agronomia – Unicerrado paulettirocha@unicerrado.edu.br

Lavoura de soja atacada por nematoides – Crédito: Rosângela Silva

De acordo com a Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN), anualmente os danos causados por nematoides chegam a R$ 35 bilhões, sendo que só na cultura da soja as perdas estimadas giram em torno de R$ 16,2 bilhões. Na literatura já foram descritas mais de 15.000 espécies de nematoides, sendo 4.100 hospedeiros de plantas, os quais causam danos diretos e indiretos à diversas lavouras, podendo acarretar prejuízos significativos aos produtores de todas as partes do mundo.

É necessário uma atenção minuciosa quanto ao ataque desses parasitas, pois muitas vezes os sintomas não são percebidos ou, quando percebidos, são atribuídos a outras pragas ou doenças, visto que há espécies com capacidade de zerar a produção em uma lavoura, como o nematoide de galhas em soja (Meloidogyne sp.), considerado o mais importante no Brasil, devido a sua alta capacidade de dispersão no ambiente e sua presença ser facilmente detectada pela deformidade causada no sistema radicular.

Outros gêneros relacionados aos cultivos agrícolas também são responsáveis por prejuízos expressivos, sendo alguns capazes de viver em ambientes com excesso de água e outros resistentes a estresses hídricos por períodos de meses ou anos.

Causas

Os nematoides são introduzidos nas áreas de cultivo através da água de irrigação, mudas produzidas em substratos ou solos contaminados, máquinas e implementos agrícolas e movimentação de pessoas e animais no local. Esses parasitas possuem um estilete bucal que, ao ser introduzido na planta, retira os nutrientes e injeta toxinas no interior das células vegetais, provocando injúrias como o surgimento de estruturas irregulares, chamadas galhas e escurecimento de tecidos.

Habitualmente, eles estão presentes no solo e atacam as raízes das plantas, entretanto, recentemente foi identificada uma espécie que causa danos à parte aérea, sendo esse o Aphelenchoides besseyi, causador da doença soja louca II, que provoca retenção foliar e haste verde. A presença na lavoura pode ser notada através do surgimento de reboleiras, onde as plantas apresentam crescimento reduzido e amarelecimento foliar.

Alerta máximo

A veracidade dos nematoides como pragas se deve ao fato de que, uma vez presentes na área, é praticamente impossível extingui-los, porém, realizar um manejo integrado pode ser uma forma de minimizar os danos causados por esses parasitas por meio do uso de cultivares tolerantes ou resistentes, rotação ou sucessão de culturas, controle biológico e controle químico.

Mesmo com a possibilidade de não erradicar “totalmente” esses vermes, é necessário buscar estratégias para minimizar os prejuízos causados, sendo uma delas, manter a população abaixo do nível de dano econômico com o cultivo de plantas de cobertura (adubos verdes) que não são hospedeiras de nematoides.

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Em função disso, no ano de 2015 a Fundação MT realizou um estudo comprovando que a crotalária reduz em até 80% a incidência de nematoides se a leguminosa for bem formada. Além disso, ela ainda disponibiliza nitrogênio no solo, auxiliando na nutrição da cultura posterior.

Em destaque

De acordo com Souza Pires (2002), a crotalária é uma das espécies mais utilizadas para adubação verde no Brasil. Uma planta originária da Índia e Ásia tropical, com efeito alelopático e supressor de espécies invasoras, e ainda com alta eficiência na produção de massa vegetal e expressiva fixação de nitrogênio.

Quanto ao controle de nematoides, essa planta atua como armadilha, propiciando a penetração dos juvenis em suas raízes, porém, interrompendo seu desenvolvimento até a fase adulta. As espécies mais populares de crotalária são: breviflora, spectabilis, ochroleuca e juncea, todas com crescimento rápido. Para saber qual espécie deve ser utilizada, o produtor deve realizar um levantamento em sua área a fim de identificar quais nematoides estão presentes em sua propriedade, e assim utilizar o tipo de leguminosa mais eficiente no controle de cada fitonematoide.

Pesquisas

Estudo realizado em 2019 na cidade de Goiânia (GO) demostrou que C. ochroleuca reduziu 100% dos indivíduos de Pratylenchus brachyurus e Helicotylenchus, havendo também diminuição de 75,9% de Criconemella sp e 55,4% dos nematoides de vida livre, entretanto, houve aumento de 537% para a espécie Rotylenchulus reniformes, o que evidencia a necessidade do levantamento de informações quanto aos nematoides incidentes, para que não haja erros na recomendação da crotalária a ser plantada.

Em média, a estimativa anual dos custos de produção da leguminosa varia conforme a espécie. No caso de C. juncea, uma pesquisa obteve o valor de R$ 3.078, 09 por hectare, compreendendo as operações mecanizadas desde o preparo do solo, plantio até a colheita e os insumos utilizados, como adubo, defensivos agrícolas e sementes.

O objetivo foi a obtenção de sementes de C. juncea, o que não ocorreu, em consequência de dificuldades ocorridas no momento da colheita, em que foi possível constatar que a planta vegetou por um período maior que o esperado, ocasionando perdas no processo da colheita.

Obstáculos e soluções

Uma forma de evitar erros e minimizar as perdas seria a utilização de reguladores de crescimento, o que permitiria controlar o crescimento vegetativo da cultura, impedindo que as plantas atingissem tamanhos superiores à altura de corte.

Devido ao seu crescimento rápido, as plantas de crotalária podem atingir uma altura de 3,5 m, conforme a época do ano em que são cultivadas, o que dificulta a colheita, os tratos culturais e, consequentemente, a mecanização da lavoura, por isso a importância de se controlar o tamanho das plantas.

Em síntese, o principal mecanismo envolvido na supressão dos nematoides pelas crotalárias é a capacidade que estas plantas expressam ao atuar como armadilhas, ou seja, permitir a penetração nas suas raízes, nas fases juvenis, e atrapalhar o desenvolvimento da próxima fase do nematoide.

Além desse mecanismo, as plantas de crotalária concentram metabólitos secundários com ação nematicida nas raízes, parte aérea e sementes, fato que demonstra significância para implantar o cultivo dessas leguminosas no controle desses parasitas, garantindo menores perdas e maior aproveitamento dos benefícios oferecidos por essa leguminosa.

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