Roberta Thiago
Graduanda em Engenharia Agronômica – UNESP
roberta.thiago@unesp.br
Thaís Cirino Bueno
Bióloga e doutora em Agronomia (FCA – UNESP)
tcscirino@hotmail.com
A broca-do-abacate, Stenoma catenifer (Walsingham, 1912) (Lepidoptera: Elachistidae), também conhecida como broca-do-fruto, lagarta-do-fruto ou lagarta- da-semente, é a principal praga na região neotropical para cultura do abacateiro [Persea americana Mill. (Lauraceae)].
No Brasil, ocorre nas principais regiões produtoras, incluindo os estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo.
Danos
O prejuízo é causado pela fase jovem, que ao eclodir perfura a casca e se alimenta inicialmente da polpa, podendo atingir o endocarpo e o caroço no último instar. Frutos infestados apresentam manchas brancas devido à exsudação de substâncias (perseitol), que solidificam quando em contato com o ar.
Além disso, no fruto há depósitos de excrementos, próximos aos orifícios de penetração das lagartas. O fruto afetado torna-se inutilizável e geralmente cai quando a lagarta termina de se desenvolver.
Além dos frutos, as larvas de S. catenifer podem atacar os ramos jovens e, no caso de infestações severas em plantas novas, pode provocar a morte do vegetal. Desse modo, mesmo nas lavouras que não estão em fase de produção pode haver alta densidade do inseto.
Ameaça
Esta praga tem sido uma enorme ameaça para a produção nacional de abacate, chegando a causar perda de 100% à produção. É uma praga considerada quarentenária em vários países, sendo vetada a entrada de lotes de abacate contaminados por meio de barreiras fitossanitárias em vários locais, como exemplo os Estados Unidos, principal importador mundial.
Mesmo com a aplicação de inseticidas de largo espectro sendo feitas de sete a 11 vezes durante uma única estação de crescimento, até 60% de frutas podem ser infestadas com larvas S. catenifer.
A falta de informação sobre o manejo da broca tem sido um grande obstáculo para a sobrevivência da cultura do abacateiro, levando alguns produtores ao abandono da atividade. O controle é complicado, pela falta de inseticidas específicos para combater o inseto-praga, exigindo muito trabalho manual.
Portanto, pesquisas relacionadas ao manejo de pragas são importantes para entender melhor o comportamento dos insetos e os ciclos reprodutivos, a fim de desenvolver estratégias de combate alternativas e tecnologias apropriadas.
Manejo
Nos programas de manejo de pragas, é fundamental monitorar a ocorrência de insetos no agroecossistema, pois auxilia na tomada de decisão sobre a introdução de medidas de controle.
O levantamento de pragas pode ser realizado pelo método de leitura direta (inspeção na planta) ou método de armadilhagem, que é a maneira mais fácil e barata para o manejo da maioria das pragas.
O monitoramento de S. catenifer pode ser realizado por meio de armadilhas contendo feromônio sexual sintético, comercializado em um septo de borracha de 11 × 5 mm, e no campo é inserido em uma armadilha, que deve ser pendurada a uma altura de 1,75 m no interior dos pomares, podendo apresentar atividade biológica durante pelo menos quatro semanas.
Até meados da década de 90, o controle de S. catenifer era realizado principalmente com inseticidas do grupo dos carbamatos, organofosforados e piretroides, aplicados na forma de pulverizações.
Entretanto, atualmente, segundo o Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (Agrofit), o único produto registrado até o momento para a praga na cultura do abacate é o Delegate, um produto do grupo químico das espinosinas.
Desafios
A escassez de agroquímicos obriga os produtores a utilizarem produtos não registrados. O mau uso destes pode gerar sérios problemas, como a contaminação do ambiente e a seleção de indivíduos resistentes, diminuindo a eficiência de controle.
Além disso, alguns produtos podem afetar os inimigos naturais e predadores, que são fundamentais no controle de pragas. Assim, outros métodos de controle devem ser adotados dentro de um programa de Manejo Integrado da Praga.
Alternativas
Como alternativa ao manejo químico, as brocas também podem ser controladas coletando e destruindo frutos infestados. Outra técnica consiste no ensacamento dos frutos infestados que, após quatro dias, apresentam 100% das lagartas mortas.
Deve-se ter cuidado com o método do ensacamento, que pode contribuir com a morte dos agentes benéficos, além de ser bastante oneroso. Neste caso, outra opção é colocar os frutos infestados em trincheiras no pomar sob uma tela para saída apenas dos parasitoides.
Existem diversas espécies de agentes de controle biológico, mas destacam-se para esse inseto-praga a espécie Trichogramma pretiosum e Trichogrammatoidea annulata, que ocorrem naturalmente no campo e infestam até 40% dos ovos, inclusive, esses inimigos naturais estão sendo produzidos on farm por alguns importantes produtores de abacate no estado de São Paulo.
Assim, pela ampliação dos estudos, da maior disseminação de informação para os produtores e da adoção de medidas de manejo integrado de pragas, como o monitoramento e os métodos de controle mecânico e cultural, é possível minimizar os enormes prejuízos ocasionados pela broca-do-abacate.