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Cultivo de alho

Igor Souza PereiraEngenheiro agrônomo e professor – Instituto Federal do Triângulo Mineiro – Campus Uberlândia (MG) igor@iftm.edu.br

Alho – Crédito: Eduardo Sekita

A podridão-branca, ou mofo-branco do alho e cebola, causada pelo fungo Sclerotium cepivorum, é uma das doenças mais ameaçadoras para o alho e a cebola em todas as áreas de cultivo, quando as condições ambientais são adequadas ao desenvolvimento do patógeno.

O Sclerotium cepivorum é um fungo de solo que produz estruturas de resistência denominadas de escleródios. Essas estruturas de sobrevivência podem permanecer ativas no solo por longos anos, havendo relatos da sua sobrevivência por 10 anos ou mais, em condições campo, na ausência de hospedeiros como o alho e a cebola.

Os escleródios são estimulados a germinar na presença de compostos sulfurosos voláteis liberados pelas raízes de plantas do gênero Allium.

Culturas afetadas e prejuízos

Segundo informações da Epagri (Empresa de Pesquisa e Extensão Agropecuária de Santa Catarina), sua forma de ocorrência localizada faz com que a estimativa de perdas, na média, seja baixa; porém, nas lavouras afetadas pode inviabilizar em 100% a produção, tornando o local impróprio para os próximos cultivos de aliáceas.

Muitos locais infestados podem não apresentar plantas doentes em determinado ciclo e manifestar-se nos próximos cultivos, provavelmente pelas condições edafoclimáticas desfavoráveis à infecção ou pela intensa atividade biológica sobre o fungo.

No Brasil, há relatos de perda total em áreas infestadas por esse patógeno, com ocorrência generalizada nas regiões produtoras de Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande Do Sul e Goiás.

Sintomas

Essa é uma doença de campo, sendo raros os casos de perdas durante o armazenamento. A morte de plântulas não é muito comum, embora seja muito rápido quando ocorre. Em condições de campo, os sintomas ocorrem em reboleiras, sendo que sintomas iniciais ocorrem na forma de uma necrose ou queima descendente, com amarelecimento e morte das folhas mais velhas. Em função disso, as plantas apresentam reduzida atividade fotossintética e, consequentemente pouco desenvolvimento.

Naquelas plantas infectadas é possível observar junto ao solo e sobre os bulbos (no caso da cebola) e bulbilhos (no alho) sob condições de umidade elevada um crescimento micelial esbranquiçado, característico e que dá o nome à doença (podridão branca), que posteriormente vai dando lugar a grande número de escleródios levando a um aspecto enegrecido aos bulbos e bulbilhos infectados, caracterizado por uma podridão preta. As raízes também apresentam sintomas, observando-se o apodrecimento e assim, facilidade de seu arranquio do solo.

A presença dos escleródios junto aos bulbos é extremamente importante na identificação da doença, uma vez que outras doenças podem ter sintomas parecidos, e assim confundidos com outras causas.

Após a colheita, os bulbos e bulbilhos doentes podem mumificar ou apodrecer.

Disseminação do patógeno.

A disseminação desse patógeno, ou seja, o seu espalhamento, ocorre por meio de bulbos e bulbilhos infectados, pela movimentação do solo por meio da água da chuva e da irrigação, as quais atravessam as áreas infestadas, levando os escleródios, bem como outras partes vegetais infectadas.

Outra forma muito comum de disseminação se dá pelo homem, seus maquinários e ferramentas. Nesse caso, implementos agrícolas e os pneus de tratores podem carregar os escleródios, solo infestado e partes vegetais infectadas a longas distâncias. O próprio caminhar do trabalhador de uma área para outra torna possível o carregamento do patógeno junto a terra aderida em suas vestes.

Regiões mais afetadas

Essa doença é de ocorrência generalizada nas tradicionais áreas produtoras de alho e cebola do país, mas há algumas condições ambientais que favorecem sua infecção e rápido desenvolvimento. Destacam-se estudos que indicam que temperaturas médias no nível do solo, entre 10 e 20ºC são as mais favoráveis.

A doença é mais severa em baixadas úmidas e o excesso de irrigação também pode contribuir para um rápido progresso da doença no campo.

Manejo da doença em áreas infestadas

O manejo dessa doença deve ser preventivo. A simples introdução de materiais de propagação, no caso, bulbilhos de alho ou bulbinhos de cebola, infectados pelo patógeno poderá inviabilizar a produção dessas espécies numa determinada área.

Não existem, ainda, cultivares comerciais de alho e cebola resistentes à podridão branca. O controle químico é pouco eficiente e pode não ser economicamente viável. Além disso, não existem fungicidas registrados no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) para o controle da podridão branca em cebola e existem poucas moléculas registradas para o alho, as quais são apresentadas em seguir.

O uso de fungicidas deve ser direcionado às plantas jovens infectadas e ao solo nas reboleiras infestadas, ou seja, tratamento de solo e de mudas. No entanto, fungicidas como o iprodione, que segundo dados de pesquisa, apresentam-se eficientes contra fungos formadores de esclerócios, no caso do Sclerotium cepivorum, há somente o atraso na sua germinação ou seu crescimento, não atingindo completamente os escleródios, ou seja, não sendo possível a sua eliminação por meio de aplicações.

A aplicação de fungicidas é considerada, como apresentado anteriormente, limitante. Essa limitação deve-se possivelmente à degradação do ingrediente ativo antes de sua atuação sobre o patógeno.

Devido a estes fatores, as principais medidas de manejo da podridão branca do alho e da cebola devem ser de caráter preventivo, tais como: plantio de alho semente e mudas de cebola livres da podridão branca em áreas isentas do patógeno ou em épocas e locais onde as condições climáticas são desfavoráveis à ocorrência da doença, rotação de culturas por períodos longos (superiores a dez anos).

Apesar da pouca eficiência do controle químico no campo, o tratamento dos bulbilhos-sementes com fungicidas específicos pode evitar a introdução do patógeno em áreas ainda não infestadas.

Técnicas e produtos inovadores

O controle biológico tem mostrado excelentes resultados pelo uso de antagonistas, diretamente no solo, no tratamento de bulbinhos ou nas sementes, com a vantagem de ser potencializado com o tempo, ao contrário do controle químico, que perde sua ação. Os fungos Coniothyrium minitans, Sporidesmium sclerotivorum e Trichoderma harzianum são citados como eficientes no controle da podridão-branca.

A adoção do manejo ecológico, incluindo práticas de restabelecimento da diversidade biológica no solo, como a adição de compostos orgânicos e o uso de adubos verdes, estimulam a atividade antagonista residente, reduzindo os danos pelo patógeno.

Essas práticas, podem incrementar a produtividade das lavouras, além de controlar outros patógenos do solo, como p.ex. os fitonematoides.

O uso de plantas ou produtos que estimulam a germinação de escleródios tem sido estudado, partindo do pressuposto de que os escleródios germinam uma única vez. O uso de extratos de Allium sp.

Em pré-plantio, essa prática pode reduzir significativamente a incidência de podridão branca nos cultivos subsequentes. O uso de óleo de cebola poderá ser uma alternativa promissora já que em estudos controlados observou-se a redução de até 73% a incidência da podridão-branca.

Outras técnicas ainda são muito restritas, tais como a solarização com a aplicação de filme de polietileno, que reduz enormemente a sobrevivência dos escleródios em regiões de clima quente como o Brasil. Essa prática, obviamente se restringe devido à dificuldade de sua adoção em grandes áreas, sendo essa uma realidade da alicultura nacional.

Erros no manejo

Um dos erros mais comuns observados no campo é a demora e incorreta identificação do patógeno. Muitas vezes, o horticultor não percebe a presença desse patógeno no início de sua introdução em uma determinada área de produção, atrasando as práticas seguintes de manejo.

Diante desse atraso, soma-se outro que é a não delimitação das áreas com a presença de sintomas pelo ataque desse patógeno. A partir de uma reboleira inicial, os escleródios são disseminados a curtas e longas distâncias, seja pela movimentação mecânica do solo e carreamento pela água, ampliando-se assim as reboleiras da doença. A partir daí, são identificadas várias reboleiras que passam a tomar grandes áreas, inviabilizando por completo a produção de aliáceas.

Esse patógeno, como possui escleródios resistentes por vários anos, não é possível seu manejo por curtos períodos de rotação, sendo recomendado sua adoção por no mínimo oito anos, com espécies não hospedeiras.

Solução

Para se evitar os erros em sua identificação, o horticultor deverá realizar vistorias diárias na área de produção de alho e cebola, caminhando-se entre os canteiros e observando quaisquer sintomas iniciais. Quando houver dúvida, sugere-se o envio de plantas infectadas, com porção de solo para diagnose em laboratório fitopatológico especializado. 

Quando a doença for constatada na lavoura, o horticultor deverá demarcar a área, aplicar os fungicidas recomendados no local e sobretudo, restringir ao máximo a movimentação do solo, evitando-se assim a ampliação das reboleiras.

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