Neilton Antônio Fiusa Araújo
Doutor em Fitotecnia e pesquisador em Controle Biológico, Bioprospecção e Formulações de biocontrole
neilton.fiusa@gmail.com
Os métodos de controle biológico podem variar ao longo do tempo e novos estudos são realizados nos principais centros de pesquisas brasileiros para a identificação de novos organismos com potencial de biocontrole.
Assim, algumas pragas ocorrentes em cultivos florestais e os principais organismos usados para seu controle, conhecidos até o momento, são apresentados a seguir.
Formigas-cortadeiras
As principais pragar dos cultivos florestais brasileiros são as formigas-cortadeiras dos gêneros Atta, conhecidas como saúvas e do gênero Acromyrmex, conhecidas como quenquéns, representando mais de 75% dos custos no controle de pragas florestais.
O gênero Acromyrmex conta com 63 espécies, das quais 28 têm ocorrência constatada no Brasil. Do gênero Atta ocorrem, no Brasil, 10 espécies e três subespécies.
As espécies de Acromyrmex são reconhecidas por apresentarem de quatro a cinco pares de espinhos na parte dorsal do tórax, os quais podem ser muito reduzidos no pronoto de algumas espécies; já as saúvas possuem somente três pares.
Estas formigas-cortadeiras cortam pedaços de folhas, que carregam para seus formigueiros a fim de criarem um fungo que constitui o seu alimento exclusivo. As folhas e outras partes de plantas cortadas pelas saúvas, depois de levadas para o interior do formigueiro, servem de substrato para o cultivo de um fungo mutualista do qual as formigas se alimentam.
Danos
Os danos causados pelas formigas cortadeiras provêm do corte de partes vegetativas para a utilização como substrato no cultivo desse. Os ataques às plantas ocorrem preferencialmente nas fases de pré-corte, pós-plantio e início da condução da brotação.
No controle de formigas cortadeiras já foi estudado o uso de fungos entomopatogênicos, como Metarhrizium anisophiae e Beauveria bassiana. Também tem sido utilizada a liberação do parasitoide Canthon virens Mannerheim e parasitoides dípteros da família Phoridae.
Lagartas desfolhadoras
A diversidade de lagartas desfolhadoras do Eucalyptus no Brasil é grande, constituída majoritariamente por espécie nativas que têm preferência por plantas da família Myrtaceae, como a goiabeira.
Dentre as principais espécies que ocorrem em plantios florestais têm-se as espécies de Eupsodosoma aberrans, Eupseudosoma involuta, Sabulodes caberata, Sarcina violacens e a Thyrinteina arnobia, sendo essa última considerada a espécie mais importante e recorrente em plantios florestais brasileiros.
Outras espécies nativas ocorrem em plantios como o pinus, tais como Eacles ducalis, Melanolophia apicallis, Pherothesia confusata e Glena bipennariabipennaria, ocorrendo em surtos esporádicos.
A injúria associada a esses insetos é a desfolha generalizada das árvores, responsável por uma perda considerável da área fotossintética, comprometendo o seu crescimento e, consequentemente, a produção de biomassa. Os danos associados a esses insetos são mais frequentes em plantio florestais de Eucalyptus.
Para controle biológico, há relatos de sucesso com a utilização de parasitoides como o Trichogramma sp. e pentatomídeos predadores do gênero Podisus. O uso de bactérias como o Bacillus thuringiensis tem sido relatado como o mais importante controle para essas lagartas, já que esse entomopatógeno produz toxinas que, quando são ingeridas pelas lagartas, provocam ruptura de sua parede intestinal, levando-as à morte.
Percevejo-bronzeado
Thaumastocoris peregrinus é uma espécie nativa da Austrália. Os estudos relacionados à espécie se iniciaram em 2002, quando se tornou uma praga séria de Eucalyptus plantado. O inseto vem se dispersando rapidamente e sua introdução já foi registrada em diferentes países infestando diferentes espécies e híbridos de Eucalyptus, incluindo E. camaldulensis, E. tereticornis, E. viminalis, E. grandis, E. dunnii, E. saligna, E. grandis x camaldulensis e E. grandis x urophylla, entre outras.
No Brasil, esta praga foi detectada primeiramente no Rio Grande do Sul em 2008 e, posteriormente, em São Paulo. É uma praga relativamente nova em cultivos florestais no Brasil e, portanto, opções de manejo ainda estão sendo desenvolvidas.
Embora existam inimigos naturais que atacam ou infestam tanto ninfas como adultos do inseto, o seu controle por esse método não parece ser efetivo. Para o controle biológico de forma eficiente, tem sido usada a liberação do parasitoide Cleruchoides noackae em áreas infestadas.
Psilídeo-de-concha
Glycaspis brimblecombei é um inseto de origem australiana e utiliza como hospedeiros várias espécies do gênero Eucalyptus, com preferência ao E. camaldulensis e E. tereticornis. Foi observado pela primeira vez no Brasil em junho de 2003, em São Paulo, infestando híbridos de E. grandis x E. urophylla (E. urograndis).
Em pouco tempo este psilídeo se dispersou por diversos municípios. Os danos causados por essa praga são a redução no tamanho e deformação das folhas, bem como a presença de fumagina. Em plantas infestadas ocorre o secamento de ponteiros e desfolha, podendo ocorrer desfolha de 100%, sem possibilidade de recuperação.
A facilidade de adaptação às condições climáticas brasileiras, a rápida dispersão e a extensão das áreas plantadas com eucalipto sugerem que o controle deste psilídeo deve ser feito a partir do estabelecimento de um programa de manejo integrado de pragas.
O controle biológico é feito utilizando o parasitoide Psyllaephagus bliteus, parasitoide importado da África que se mostrou adaptável às condições brasileiras
Vespa-de-galha
A Leptocybe invasa é uma praga exótica, originária da Austrália. O adulto é uma minúscula vespa de coloração marrom escuro brilhante e mede 1,2 mm de comprimento.
O inseto é partenogenético, ou seja, só há fêmeas que dão origem a novas fêmeas. A fêmea oviposita nas gemas apicais, onde inicia-se o processo de formação da galha, que torna-se visível após algumas semanas.
As espécies de eucalipto com registro de ocorrência da praga são: Eucalyptus camaldulensis, E. saligna, E. botryoides, E. bridgesiana, E. cinerea, E. globulus, E. grandis, E. gunni, E. nicholli, E. pulverulenta, E. robusta, E. rudis, E. tereticornis e E. viminalis.
A praga ataca as folhas, formando galhas nas nervuras centrais, pecíolos e ramos finos. Essas galhas causam deformação das folhas, quando presentes na nervura central e pecíolo, e desfolha e secamento de ponteiros, quando presentes nos ramos mais finos.
As galhas causam o bloqueio do fluxo normal de seiva, levando à queda das folhas. Esses danos podem levar à parada de crescimento de mudas e árvores, podendo comprometer a produtividade de clones suscetíveis.
O controle biológico da vespa-da-galha é feito com a liberação do parasitoide Selitrichodes neseri, uma vespa que coloca seus ovos dentro das galhas e suas larvas se alimentam da vespa.
Vespa-da-madeira
Sirex noctilio é uma espécie exótica originária da Europa, Ásia e parte da África. Essa espécie é a principal praga das espécies de pinus cultivadas, sendo capaz de causar a morte da árvore.
De modo geral, os danos causados pela vespa da madeira em plantios de pinus no Brasil são significativos e de grande relevância para o produtor. O principal dano causado pela vespa da madeira ocorre durante a postura dos ovos na madeira, onde constroem galerias e ocorre também a penetração de agentes secundários que danificam a madeira, limitando seu uso ou tornando-a imprópria para o mercado. Após a morte da árvore, a madeira é degradada rapidamente.
Os sintomas de ataque começam a aparecer logo após os picos populacionais do inseto, sendo mais visíveis após a revoada. Externamente é possível observar o progressivo amarelecimento da copa, que depois se torna marrom avermelhada, com esmorecimento da folhagem, perda das acículas, respingos de resina na casca e orifícios de emergência de adultos. Internamente há a ocorrência de manchas marrons ao longo do câmbio e galerias.
O controle biológico é feito utilizando o nematoide Deladenus siricidicola. Este microrganismo infecta as larvas da vespa no tronco, tornando as vespas adultas estéreis. Outros organismos utilizados são os parasitoides Ibalia leucospoides, Rhyssa sp. e Megarhyssa sp.
Pulgões-gigantes-do-pinus
Cinara atlantica e Cinara pinivora são as espécies mais comuns de pulgões-gigantes-do-pinus. São originários do Canadá e dos EUA e chegaram ao Brasil em 1996. Estes afídeos inserem o estilete nos ramos ou brotações durante a alimentação, causando clorose, deformação e queda de acícula, redução no desenvolvimento da planta, entortamento do fuste e superbrotação em Pinus spp.
O controle biológico é feito utilizando os parasitoides Pauesia bicolor, Pauesia proceptali e Xenostigmus bifaciatus, havendo relatos de controle de até 100% da praga-alvo. A capacidade de dispersão, o potencial de parasitismo e a adaptação do Xenostigmus bifaciatus às condições brasileiras o torna um dos principais agentes de controle biológico do pulgão-gigante-do-pinus.
Além de parasitoides, o fungo Lecanicillium sp. também é relatado infestando pulgões-gigantes-do-pinus. Além desses, insetos Coccinelidae são os predadores mais abundantes dessa praga, representando até 82% da população de seus inimigos naturais.