Pedro José Ferreira-Filho
Doutor e professor – Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
pedrojf@ufscar.br
Cupins são os principais responsáveis por danos causados à madeira no mundo. No entanto, a maioria das espécies não causa prejuízos à humanidade, pois auxiliam na degradação de madeira e compostos celulósicos, melhoram as características do solo pela construção de túneis e canais, aumentando a porosidade, aeração, umidade, ciclagem de nutrientes orgânicos e partículas minerais entre horizontes do solo.
Esses insetos ocorrem nas regiões tropicais e temperadas do mundo, desde 45° S (Patagônia – Argentina) até 52° N (sul do Canadá, Europa e norte da Índia e sul da China) e são encontrados desde as regiões litorâneas até em desertos e na base das principais cordilheiras do mundo, sendo a região tropical a mais rica em número de espécies. No Brasil, ocorrem cerca de 290 espécies distribuídas em quatro famílias.
Espécies atacadas
Os cupins se alimentam de uma grande variedade de produtos de origem vegetal, incluindo mudas florestais e árvores adultas de espécies nativas e exóticas de importância econômica, sendo considerados uma das pragas florestais mais comuns no Brasil, como por exemplo, as seguintes espécies:
Anoplotermes pacificus (Termitidae): nome popular, cupim-subterrâneo. Estados brasileiros onde foi registrada: PA, PR, RJ e SP. Os operários de A. pacificus atacam as raízes de mudas de eucaliptos na porção abaixo do solo.
Não existe método de controle biológico, comportamental, físico, mecânico e/ou químico para A. pacificus. A recomendação é realizar controle químico preventivo por imersão das raízes de mudas de eucalipto com os princípios ativos fipronil, imidacloprido ou tiametoxam.
Também é recomendado o uso de mudas vigorosas e rustificadas, aração e gradagem e, dependendo do caso, adoção do cultivo mínimo, adubação e calagem adequadas, pois plantas no campo sob estresse são mais suscetíveis ao ataque.
Outra estratégia é realizar o plantio das mudas em época chuvosa, para acelerar o desenvolvimento das plantas e escapar da fase de danos por cupins.
Silvestritermes euamignathus = Armitermes eaumignathus (Termitidae): nome popular, cupim-de-montículo. Estados brasileiros onde foi registrada: vegetação de cerrado em todo o País. Normalmente, alimenta-se de material vegetal em decomposição, porém, na ausência de alimento por pressão de seleção, pode se alimentar e danificar as raízes de eucalipto de mudas recém-plantadas.
O manejo é semelhante ao realizado para Anoplotermes pacificus.
Coptotermes testaceus (Rhinotermitidae): nome popular, cupim-de-cerne. Estados brasileiros onde foi registrada: AC, AM, AP, MG, MS, MT, PA e PB. Os cupins-de-cerne entram nas raízes e constroem galerias no tronco, destruindo o cerne, podendo deixar as árvores ocas, reduzindo a produtividade ou perdendo a sustentação e podem se quebrar ou ser derrubadas pelo vento.
Essa espécie ataca árvores adultas (com dois anos ou mais) em plantios florestais. Coptotermes testaceus tem sido relatada como praga em plantios de eucalipto, seringueira e espécies nativas da floresta amazônica. Essa espécie pode danificar, além de árvores vivas, madeira serrada e em uso.
A detecção do ataque de C. testaceus ocorre após a colheita florestal, tornando difícil a prevenção. Assim, os locais de ocorrência devem ser registrados, para que práticas silviculturais sejam adotadas em novos plantios, como desbastes seletivos e escolha de espécies/clones/procedências adequadas ao local de plantio.
Árvores estressadas são as mais atacadas por esses cupins. Não existe produto registrado no Brasil para controle desse inseto.
Cornitermes bequaerti e Cornitermes cumulans (Termitidae): nome popular, cupim-de-chifre, cupim-de-montículo. Estados brasileiros onde foram registradas: BA, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PR, RJ, RS, SC e SP.
Essas espécies ocorrem com maior frequência em pastagens do Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, no entanto, quando presentes em plantios florestais, ocasionam danos expressivos ao sistema radicular, desde o plantio até um ano de idade, o que pode levar as plantas à morte.
Os montículos dessas espécies devem ser localizados e controlados antes do preparo do solo e evitar o desenvolvimento de novos cupinzeiros por fragmentação dos ninhos. Amostragem pré-plantio deve ser realizada dividindo a área de plantio em parcelas (50 x 50 m), e no centro deve ser enterrada uma isca de papelão corrugado enrolado (30 cm de comprimento x 5,0 cm de diâmetro.
Após 30 dias, o número de cupins no interior das iscas deve ser contado. As parcelas que tiverem densidade maior que 10 cupins são consideradas infestadas e devem receber mudas tratadas previamente com calda inseticida.
A amostragem pós-plantio é realizada com o lançamento de transectos ao acaso, correspondentes às linhas de plantio. Selecionam-se 3% das linhas de plantio, com no mínimo duas por talhão e, em cada linha, conta-se o número total de mudas e o número de mudas atacadas, e se calcula a percentagem de mudas atacadas (nível de controle curativo é de 2 a 5% de mudas atacadas).
O controle químico é realizado diretamente nos cupinzeiros ou montículos. Inicialmente, o montículo deve ser perfurado a 1/3 da altura, com ângulo de 45° ao nível do solo com uma lança de ferro, até atingir o núcleo cartonado.
Posteriormente, é aplicado um litro de calda inseticida à base de fipronil na dose de 0,10 g (i.a.) ou 0,21 g (i.a.) de imidacloprido. Esse controle deve ser realizado de 30 a 60 dias antes do preparo do solo. Outra forma de realizar o controle é com tratamento das plantas antes do plantio, tratamento preventivo ou pré-plantio; ou após o plantio.
As áreas com parcelas infestadas na amostragem pré-plantio deverão receber o tratamento preventivo, que consiste na imersão das mudas em calda inseticida à base do ingrediente ativo (i.a.) fipronil a 0,4% ou imidacloprido a 0,35%, imediatamente antes do plantio.
Deve-se imergir as mudas até o coleto durante 40 segundos e deixar escorrer a calda por dois minutos. Após secagem, realizar o plantio das mudas. O tratamento pós-plantio ou curativo é realizado quando a amostragem pós-plantio indicar injúrias por esse grupo de cupins e, nesse caso, basta pulverizar as mudas na altura do coleto com calda inseticida à base de fipronil na dose de 100g de i.a./ha ou 0,35% de imidacloprido, com pulverizador manual (bico de jato cônico e volume de 20 mL por planta).
Heterotermes longiceps (Termitidae): nome popular, cupim-subterrâneo. Estados brasileiros onde foi registrada: BA, ES, GO, MG, MT, PA, PE e SP.
Heterotermes tenuis (Termitidae):nome popular, cupim-subterrâneo. Estados brasileiros onde foi registrada: ocorre em todo o Brasil. Espécies mais comumente encontradas em plantios florestais com grande quantidade de galhos e troncos em decomposição.
Normalmente, esse gênero possui importância secundária e se encontra relacionado a injúrias promovidas na casca e tronco de árvores adultas de eucalipto. Heterotermes está associado a injúrias produzidas no fuste de plantios comerciais de teca, Tectona grandis, com a formação de galerias sobre e logo abaixo da casca, na interface casca alburno, desde o início da raiz até aproximadamente 1,0 m de altura.
O monitoramento no campo deve ser realizado com armadilha de papelão corrugado enrolado (30 cm de comprimento x 5 cm de diâmetro). A intensidade amostral deve ser de quatro armadilhas/ha, distribuídas sistematicamente em toda a área de plantio. A aplicação de fipronil deve ser a lanço, em um raio de 30 cm no entorno do tronco, na dosagem de 0,1 g de ingrediente ativo por árvore.
Neocapritermes opacus (Termitidae): nome popular, cupim-subterrâneo. Estados brasileiros onde foi registrada: ocorre em todo o Brasil. Essa espécie ataca as raízes do eucalipto na fase de muda. O manejo é semelhante ao realizado para Anoplotermes pacificus.
Syntermes spp. (Termitidae): nome popular: cupim-de-terra-solta, cupim-roletador. Estados brasileiros onde foi registrado: ocorre em todos estados brasileiros.
Destacam-se como os mais importantes cupins-praga de mudas florestais recém-plantadas. O ataque de Syntermes insidians e S. molestus causa a morte das mudas de eucalipto logo após o transplante, devido a remoção do córtex da casca e dano às raízes finas, com consequente murcha e seca das folhas.
O manejo é semelhante ao realizado para Cornitermes bequaerti e Cornitermes cumulans.