José Luis da Silva Nunes
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia, corpo técnico do Badesul Desenvolvimento e Agência de Fomento do Estado do Rio Grande do Sul
O termo “planta invasora“ tem sido utilizado na literatura brasileira visando conceituar um grupo de plantas indesejáveis em relação às atividades humanas. Porém, biologicamente, estas podem ser conceituadas como sendo plantas com características específicas que facilitam sua sobrevivência e dispersão e, ecologicamente, como sendo aquelas capazes de colonizar e dominar o estágio inicial de uma sucessão vegetal numa terra perturbada pelo homem. Pode-se, também, caracterizá-las como sendo plantas que se adaptam com facilidade às condições edafoclimáticas criadas pelo homem.
Agronomicamente, o conceito de plantas invasoras envolve a sua indesejabilidade, pois estas se desenvolvem onde não são desejadas, competindo pelos recursos naturais com as plantas cultivadas e diminuindo o potencial produtivo destas em função da competição.
Origem
A existência das plantas invasoras remonta à antiguidade, quando do início da domesticação das plantas cultivadas. Inicialmente, devido a sua rusticidade, as plantas cultivadas conseguiam sobreviver/competir com as plantas consideradas “invasoras“, sem sofrer prejuízos decorrentes da concorrência.
Àmedida que o homem passou a adotar práticas de manejo visando diminuir a competição, as plantas cultivadas passaram a “não necessitar“ de certas características que garantiriam a sobrevivência da espécie. O processo de domesticação também trouxe a necessidade de controle de plantas que “invadiam“ as áreas de cultivo.
Por outro lado, conforme as práticas culturais iam mudando, determinadas espécies invasoras, menos adaptadas, diminuÃam suas populações ou desapareciam, enquanto que outras, mais adaptadas, passavam a dominar a área. Em função disto, buscaram-se medidas que visavam melhorar as formas de controle, incluindo o uso de herbicidas. Hoje, o uso de herbicidas para controle de plantas invasoras é considerado prática comum na agricultura.
Herbicidas
Os herbicidas são substâncias químicas capazes de selecionar populações de plantas por meio de sua ação, ao provocar a morte de certas plantas e de outras não. O uso de herbicidas pode prevenir a interferência das plantas invasoras, principalmente no início do ciclo das plantas cultivadas, período considerado crucial na definição da capacidade produtiva das plantas cultivadas.
A planta é considerada sensÃvel a um herbicida quando o seu crescimento e desenvolvimento são alterados pela ação de uma determinada molécula herbicida, ou seja, uma planta sensÃvel irá morrer quando submetida a determinada dose desta molécula.
Já a tolerância/resistência é a capacidade inata de algumas espécies de sobreviver e se reproduzir após a exposição a uma dose de uma determinada molécula herbicida, normalmente considerada letal para esta planta. Estas características relacionam-se com a variabilidade genética natural da espécie. Em dada população de plantas existem aquelas que naturalmente toleram mais ou menos uma determinada molécula herbicida.
Nos últimos anos, o uso indiscriminado de herbicidas propiciou o desenvolvimento de muitos casos de resistência a tais compostos por diversas espécies invasoras. O aparecimento de biótipos de plantas invasoras resistentes aos herbicidas está condicionado a uma mudança genética na população, imposta pela pressão de seleção causada pela aplicação repetitiva do herbicida na dose recomendada, sendo que os biótipos podem apresentar níveis diversos de resistência.
O crescimento da população de plantas daninhas resistentes a herbicidas pode ser resultado do uso repetido de um mesmo herbicida ou de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, altamente específicos e com longo efeito residual. Muitas evidências sugerem que o aparecimento da resistência a um herbicida em uma população de plantas se deve à seleção de biótipos resistentes preexistentes que, devido à pressão de seleção exercida por repetidas aplicações de um mesmo produto, encontra condições para multiplicação.
O capim-amargoso (Digitaria insularis)
Esta espécie pertence à família Poaceae, sendo uma planta perene com metabolismo fotossintético do tipo C4, com grande capacidade de formação de rizomas e touceiras, com elevada rebrota, produzindo sementes pequenas e que se dispersam facilmente pelo vento.
Vegeta o ano inteiro, embora em maior intensidade no período de verão. Estas características, aliadas ao grande percentual germinativo, faz com que a espécie tenha alta capacidade de disseminação.
O capim-amargoso era muito presente em pastagens, porém, com a adoção de práticas de manejo de pastagens, ampliou a sua abrangência para áreas de produção de grãos, transformando a espécie em um grande problema da agropecuária brasileira. Hoje, é frequente em pomares, cafezais, canaviais, pastagens, gramados e áreas de cultivo de grãos.
Resistência ao glifosato
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O glifosato é um herbicida não-seletivo, de ação sistêmica, usado no controle de plantas invasoras anuais e perenes que atua na inibição da enzima enolpiruvil-shikimato-fosfato sintetase (EPSPs), promovendo, deste modo, diminuição na síntese de 5-enolpiruvilshikimato-3-fosfato.
Como consequência desta inibição, não ocorre a síntese dos aminoácidos aromáticos fenilalanina, tirosina e triptofano, além de compostos secundários, como alcaloides, cumarinas e flavonoides, compostos estes essenciais para o desenvolvimento das plantas.
Os primeiros relatos de resistência do capim-amargoso ao glifosato foram registrados a partir de 2006, quando plantas desta espécie se mostraram resistentes à aplicação em lavouras de soja.