Anderson Gonçalves da Silva
Doutor, professor da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), campus de Paragominas e coordenador do Grupo de Estudos em Manejo Integrado de Pragas (GEMIP)
agroanderson.silva@yahoo.com.br
A ação dos extratos de neem sobre insetos é bastante variável de espécie para espécie. Pode afetar o desenvolvimento das larvas e atrasar seu crescimento, reduzir a fecundidade e fertilidade dos adultos, alterar o comportamento e causar diversas anomalias nas células e na fisiologia dos insetos (Iapar, 2006).
De acordo com a literatura, o neem contém um grupo variado de substâncias bioativas com alto efeito biológico. Entre estas substâncias estão azadiractina, meliantrol e salanina (Naragnanet al. 1980), além de vilasinina (Kraus et al. 1991).
O conjunto dessas substâncias e a ação específica de cada uma delas em separado produz diferentes efeitos sobre os insetos, como repelência, esterilidade, desorientação na oviposição, efeito letal, regulador do crescimento, entre outros (Jacobson, 1987; Brechelt et al. 1995).
Todavia, estudos têm sido focados principalmente em relação à azadiractina, por ser o ingrediente com maior atividade tóxica (Soon&Bottrell, 1994). A azadiractina é encontrada em maior quantidade nos frutos do que nas demais partes da planta. O conteúdo médio dela nas sementes é de 3,5 mg g-1 de semente (Ermel et al. 1987).
Pela sua semelhança com o hormônio da ecdise (processo que possibilita ao inseto trocar o esqueleto externo, permitindo seu crescimento), a azadiractina pode perturbar a ecdise do inseto e, em altas concentrações, pode chegar a impedi-la, causando sua morte. Por essa razão, as formas jovens de insetos são mais fáceis de controlar.
Controle efetivo
As espécies que têm se mostrado mais facilmente controladas são as lagartas, pulgões, cigarrinhas, larvas de besouros e pragas de grãos armazenados. Resultados de pesquisas mostraram efeitos letais e deformidades em larvas e pupas de lagarta-do-cartucho do milho (Spodoptera frugiperda), em ácaros (Tetranichusurticae e Panonychuscitri), nematoides como Meloidogyne incognita, mosca-das-frutas (Ceratitiscapitata), cochonilhas (Saissetiacoffeae), broca-do-café (Hypothenemushampei), mosca-branca (Bemisia tabaci) e redução de postura em bicho-mineiro (Leucopteracoffeella), (Schmutterer, 1988; Gruber, 1992), entre outros.
De modo geral, os inseticidas naturais como o neem são considerados de fácil biodegradação por não deixarem resíduos tóxicos, por não haver acúmulo de contaminantes na cadeia alimentar e por não deixarem resíduos no solo e nos produtos vegetais (Sodepaz, 2006).
O segredo está no equilíbrio
A azadiractina não causa a morte do inseto imediatamente, dado o seu efeito fisiológico, porém, além de afetar a ecdise, reduz o consumo de alimento, retarda o desenvolvimento, repele os adultos e reduz a postura nas áreas tratadas. Também tem maior ação por ingestão, de modo que os insetos mastigadores são mais facilmente afetados (Iapar, 2006).
Atualmente, temos produtos registrados no MAPA recomendados para grandes culturas, hortaliças e para produção de orgânicos. Ressalta-se que o uso inadequado de neem, visando o controle de pragas, pode causar fitotoxicidade em concentrações altas do produto, geralmente acima de 1,0%, de acordo com estudos de Srivastava&Parmar (1985). Jakob (1992) observou somente acima de 2,0%. No entanto, doses recomendadas, que têm sido utilizadas no campo, não têm causado fitotoxicidade.
Quanto aos aspectos toxicológicos, o somatório de informações disponibilizadas até o momento nos permite afirmar que os produtos à base de neem não representam um perigo iminente ao meio ambiente, aos animais de sangue quente, inimigos naturais e aos insetos benéficos, levando em consideração as altas dosagens utilizadas nos testes, que vão muito além das suas recomendações, demonstrando o extraordinário potencial dessa planta para toda a humanidade.
Toxicidade
Os efeitos são pouco expressivos. A azadiractina apresenta baixa toxicidade, sendo, Ã luz dos conhecimentos recentes, praticamente inócua ao homem e aos vertebrados (Sogliaet al. 2010).
Não há registro de toxicidade de neem para humanos. No continente Africano e Caribe, adultos e crianças alimentam-se de frutos maduros; na Índia usam-se folhas de neem para preparo de chás e no Brasil há relatos de seu uso como folhas + erva-mate para chimarrão (Hedge, 1993).
Até o momento não foram encontrados efeitos tóxicos a animais de sangue quente, incluindo pássaros, peixes, minhocas e demais organismos de solo. Em 1985 o E.P.A. (EnvironmentProtectionAgency) aprovou um produto comercial para controle de tripes, moscas-brancas, minadores de folha, lagartas em geral, pulgas, traças, broca-de-chifre, baratas, lagartas militares em estufas, viveiros, florestas e residências com base em estudo de toxicidade realizado com essa finalidade. Esse produto é um extrato dos frutos do neem.
No geral, os dados sobre toxicidade são inúmeros. Para ilustrar, pode-se citar que em testes com abelhas o neem demonstrou não afetar nem esses insetos benéficos quando em aplicações diretas. As doses letais de LD 50 em diversos animais sempre ficavam acima das maiores dosagens aplicadas e, portanto, nunca eram determinadas, pois os animais não morriam.