Bertalha, vinagreira, mostarda, maxixe-do-reino, caruru, almeirão-de-árvore, ora-pro-nóbis, moringa, peixinho, azedinha, capuchinha, cúrcuma, cará-moela, cará-roxo, fisális, feijão-mangalô, nirá ou hananirá, echalote e clitória.
Essas são as 20 espécies de Plantas Alimentícias não Convencionais (PANC) que estão sendo cultivadas em Unidades de Observação instaladas na Fazenda Malunga, com 120 hectares de hortaliças orgânicas, além da produção de laticínios orgânicos, uma referência nacional no mercado de produção orgânica de hortaliças, com 30 anos de atuação.
O cultivo dessas espécies faz parte do Acordo de Cooperação Técnica celebrado em 2020 entre a Embrapa Hortaliças (Brasília-DF) e a Malunga (região do PAD-DF) e que estabelece, em linhas gerais, a implantação de sistemas de produção de hortaliças PANC que permitam atender as crescentes demandas do mercado em torno dessas espécies.
Com ampla experiência na produção orgânica de hortifrutigranjeiros, a Malunga mantém cinco pontos de comercialização de seus produtos em diferentes áreas de Brasília.
De acordo com a agrônoma Clevane Valle, do grupo gestor da Malunga, o acordo visa atender uma demanda crescente da parte dos clientes por essas plantas e, tendo em vista a pouca disponibilidade de sementes e mudas no mercado, a parceria com a Embrapa foi o caminho buscado para conseguir viabilizar uma produção sustentável.
Na avaliação da gestora, popularizar as PANC, dentro do princípio norteador da fazenda, que é o de oferecer opções diferenciadas de alimentos saudáveis para os clientes, é a mola propulsora desse trabalho conjunto. “Estamos juntos com a Embrapa Hortaliças num projeto interessante e bastante promissor para todas as partes envolvidas”, define Valle.
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Variedades
As hortaliças PANC incluídas no acordo fazem parte da coleção de germoplasma da Embrapa, que abriga mais de 300 variedades de mais de 80 espécies de hortaliças tradicionais (hortaliças PANC) que vêm sendo objeto de pesquisa, com vistas ao desenvolvimento de materiais mais produtivos e ao aprimoramento de sistemas de produção.
A temática é relacionada ao projeto “Bancos de Germoplasma de Hortaliças”, coordenado pelo pesquisador Nuno Madeira, que também teve o projeto “Desenvolvimento de cultivares e de sistemas de produção de hortaliças PANC no Planalto Central, no Submédio São Francisco e em Santa Catarina” aprovado pela Embrapa.
Planos de ação
As atividades referentes ao projeto tiveram início em outubro de 2020, quando foram instaladas Unidades Demonstrativas em uma área de 3.000 m2 na Fazenda Malunga e plantadas as espécies de verão, com destaque para o desempenho dos carás – cará-moela ou cará-do-ar -, do maxixe-do-reino (também chamado de chuchu-de-vento) e, principalmente, do feijão-mangalô, “talvez a espécie com maior aceitação comercial até o momento por se apresentar, no caso das vagens jovens e tenras, como um sucedâneo tropical à ervilha-torta, muito procurada, porém bastante exigente em clima frio e com produção viável no DF somente nos meses de junho e julho, ainda assim com dificuldades técnicas e baixa produtividade”.
Já os materiais de inverno foram plantados em abril de 2021 – açafrão, peixinho, azedinha, muricato e capuchinha – e vêm sendo acompanhados para avaliação. “Mensalmente, fazemos um diagnóstico sobre o desenvolvimento dessas plantas, quando são passadas orientações técnicas como forma de dar continuidade ao trabalho, que periodicamente é reforçado, a exemplo dos materiais de verão, em outubro próximo”.
Por dentro da fazenda
Atualmente, a Malunga está testando 25 variedades para sentir o mercado e sua adaptação produtiva. “Na prática, estamos trabalhando com dez variedades que mais se adaptaram ao nosso mercado e a nossa condição de produção: bertalha, azedinha, nirá, feijão mangalô, espinafre japonês, almeirão roxo e branco, ora-pro-nóbis, peixinho e abóbora caxi. Entre as vantagens de investir nas PANC’s estão: baixo custo, facilidade de produção (plantas mais adaptadas ao nosso clima), produtividade e alto poder nutritivo para uma dieta”, considera Mariana Valle, marketing da Malunga.
A fazenda já está em processo de cadastro nas grandes redes de supermercados, mas atende feirantes, deliverys e lojas próprias da Malunga, que somam quatro, hoje.
Foram comercializados, no total, 3.388 itens no ano de 2022, mas a produção é maior que esse número, segundo Mariana. “Como são muito variadas e muitas PANC ainda estão em teste, não temos a produtividade de cada uma registrada, mas nem nos preocupa muito isto, pois são muito produtivas. Somos uma propriedade de produção orgânica, o que favorece o cultivo em campo aberto, no máximo um telado para teste”, relata.
Quando questionada sobre os obstáculos da atividade, ela enfatiza desenvolver o mercado e a conscientização das pessoas sobre a qualidade destas plantas e seus diferenciais.
Oportunidades
Nesse universo de possibilidades que se descortinam para as PANC, dentro do projeto partilhado com a Malunga, Madeira destaca a oportunidade dessas plantas serem apresentadas em conjunto, fortalecendo a sua inserção comercial em um espaço próprio para o conjunto das hortaliças PANC, ao invés de se tentar trabalhar cada espécie individualmente.
Segundo ele, questões como facilidade de cultivo, sem problemas fitossanitários (pragas e doenças), com altos níveis de fertilidade e baixa necessidade de adubo, juntamente com a crescente demanda da sociedade em consumir alimentos saudáveis com preços acessíveis, explicam o interesse de empresas, como a Fazenda Malunga, em diversificar os seus produtos.
Disponibilidade
O acordo de cooperação técnica firmado entre a Embrapa Hortaliças e a Fazenda Malunga tem a duração de dois anos, prazo que deverá consolidar na propriedade a produção das hortaliças PANC’s mais produtivas, rentáveis e viáveis economicamente. Mas, os clientes das lojas da Malunga não vão precisar esperar até lá para ter acesso a esses alimentos.
“As hortaliças PANC já estão sendo comercializadas em cestas e a ideia é montar uma gôndola atrativa, diversificada e colorida com essas espécies que estão sendo cultivadas na fazenda e outras que vão ser incorporadas ao grupo, como o caruru e a beldroega”, sublinha o pesquisador.