Aldeir Ronaldo Silva
Engenheiro agrônomo, doutorando direto em Fisiologia e Bioquímica de Plantas – ESALQ/USP.
Diogo Capelin
Engenheiro agrônomo e doutor em Fisiologia e Bioquímica de Plantas – ESALQ/USP
O avanço tecnológico que vem sendo alcançado no cultivo do milho no Brasil nos últimos anos tem resultado em ganhos significativos de produção. Associado a isso está o aumento na demanda por nutrientes do solo, o que nos remete à necessidade do adequado manejo de fertilidade visando não somente o suprimento das necessidades da cultura para uma determinada safra, mas também a manutenção ou melhoria do solo pela reposição dos nutrientes exportados em função da colheita.
Segundo Coelho et al (2008), a extração de nutrientes pela cultura do milho aumenta linearmente com o aumento da produtividade. No que se refere à exportação dos nutrientes, o fósforo absorvido é quase todo translocado para os grãos (77 a 86 %), seguindo-se o nitrogênio (70 a 77 %), o enxofre (60 %), o magnésio (47 a 69 %), o potássio (26 a 43 %) e o cálcio (3 a 7 %).
Dentre estes, o enxofre (S) é um elemento que merece destaque, pois pode se tornar limitante devido a alguns fatores, como emprego de fertilizantes mais concentrados, mas que não possuem enxofre na formulação, cultivo intensivo sem rotação de culturas, redução do uso de sulfato de amônio em cobertura e redução do teor de matéria orgânica nos solos.
Tudo isso pode ser severamente agravado quando o milho é produzido para silagem, quando praticamente toda a parte aérea da planta é exportada, acelerando assim a manifestação de problemas de fertilidade no solo e nutricionais nas culturas.
Em condições deficientes em S, a eficiência do uso dos outros nutrientes com o nitrogênio, fósforo e potássio pode ser seriamente afetada e os altos rendimentos podem não ser sustentados.
Rotas fisiológicas do milho safrinha
O enxofre tem funções específicas durante o crescimento da planta, sendo importante no metabolismo e reações enzimáticas. Está envolvido na síntese de diversos aminoácidos, como cistina, cisteína e metionina.
O enxofre também é um constituinte da coenzimas-A, biotina e tiamina. Está envolvido no transporte de elétrons, pelos agrupamentos de ferro-enxofre, conhecido como ferredoxina, fundamentais para o processo da fotossíntese das plantas.
Além disso a ferredoxina reduzida atua como doadora de elétrons para a conversão de nitrito em amônio, reação catalisada pela enzima nitrito redutase, durante o processo de assimilação de nitrogênio nas plantas (Taiz e Zeiger 2015).
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Juntamente com o N, o S participa de inúmeras funções e processos importantes para a vida das plantas, desde a absorção iônica, controle hormonal e crescimento, entre outras, o que explica a existência de uma relação N/S de 12-15/1, que está associada à produção e crescimento das plantas (Stipp e Casarin 2010).
A deficiência de S faz com que as plantas sejam uniformemente cloróticas, atrofiadas, de caule fino e delgado. O crescimento é retardado e, consequentemente, o rendimento é reduzido.
Manejo de aplicação
O S pode ser adicionado ao solo pela aplicação de fertilizantes sulfatados simples ou compostos. Várias são as fontes de fertilizantes sulfatados simples, como gesso, o sulfato de amônio, sulfato de potássio e superfosfato simples, que apresentam quantidade de S variável.
Os fertilizantes compostos podem apresentar concentração variável de S, de acordo com a concentração dos demais componentes nitrogênio, fósforo e potássio. Em geral, quanto menor a concentração destes elementos, maior a possibilidade de incrementar a concentração de S.
O manejo de aplicação varia de acordo com a fonte de S aplicada. Em geral, o gesso agrícola e o superfosfato simples podem ser aplicados em pré-plantio com cobertura de área total, enquanto os fertilizantes nitrogenados, como o sulfato de amônio e os compostos NPK contendo S, podem ser aplicados no sulco de semeadura.
Resultados práticos
Em ensaio realizado em Latossolo Vermelho argiloso, foi observado que o aumento do nível de enxofre nas folhas de milho foi proporcional ao aumento da produtividade dos grãos (Miranda & Miranda, 2008).
Outro trabalho realizado no Estado de São Paulo, em cultivo convencional de milho, demostrou que aplicação de enxofre em diferentes formas promoveu o incremento da produtividade ( Andrade, 2019).
Erros
Entre os erros mais recorrentes está a implementação da técnica sem a realização da análise do solo ou vegetal, resultando em aplicação de doses elevadas ou abaixo do recomendável, reduzindo a eficiência da técnica e da produtividade.
Neste caso, o produtor deve realizar análise de fertilidade do solo, e se possível de nutriente nas folhas. Tais práticas propiciam a aplicação na faixa recomendável e máxima eficiência do enxofre no desenvolvimento e produtividade do milho.
Outro erro bastante comum é a compra de produtos sem garantias quanto à composição. Tal erro pode acarretar em efeito tóxico na cultura do milho, além de redução de produtividade. Neste caso, é importante aquisição de empresas estabelecidas no mercado nacional e internacional.
Quando aplicado via foliar os fertilizantes fontes de enxofre, é recomendável que se faça em dias com temperaturas não elevadas, bem como velocidade do vento entre 3,5 a 6,5 km, para evitar perdas do produto por deriva.
Investimento x retorno
No mercado nacional, as fontes de enxofre são bastante diversificadas, sendo que as principais são sulfato de amônio, gesso agrícola e superfosfato simples como fonte fosfatada, todos de aplicação via solo. Estes, por sua vez, apresentam grande disponibilidade no mercado nacional, viabilizando economicamente a utilização.
Quanto aos produtos direcionados para aplicação via foliar, também apresentam boa viabilidade econômica, com preços oscilando entre R$ 20,00 a R$ 50,00/litro.
Nisto, em função dos benefícios diretos e indiretos no cultivo do milho safrinha, a aplicação de enxofre é bastante importante para o incremento da produtividade e qualidade dos grãos de milho.