Fabiano Simplicio Bezerra – Engenheiro agrônomo e doutorando em Engenharia Agrícola – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) – fabianoagro14@gmail.com
Aldeir Ronaldo Silva – Engenheiro agrônomo e doutor em Fisiologia e Bioquímica de Plantas – ESALQ/USP – aldeironaldo@usp.br
A escolha da variedade de cebola resistente às doenças foliares deve ser feita a partir da seleção de híbridas, pois são mais resistentes a doenças que afetam a cultura. Atualmente, se encontram disponíveis no mercado, híbridos que apresentam superioridade agronômica em relação às cultivares de polinização livre.
A necessidade de selecionar variedades adequadas ao fotoperíodo da região é para evitar a utilização de híbridas em condições climáticas que não satisfarão as exigências da variedade escolhida.
Se a escolha for por uma variedade de dias curtos (até 12 horas de luz/dia), que é a mais indicada para a maioria das regiões brasileiras, é recomendado que a exigência em horas de luz da cultura seja atendida, pois uma condição fotoperiódica diferente comprometerá a bulbificação da cebola.
Após a bulbificação, à medida que o fotoperíodo aumenta, o ciclo para o desenvolvimento do bulbo é reduzido, o que gera a formação da bulbificação precoce. Desta forma, o produtor deve tomar cuidado, principalmente para trabalhar com uma variedade bem caracterizada para cada região.
Manejo
Por meio do efeito da interação genótipo x ambiente, deve-se escolher híbridos adaptados e produtivos para cada região. Um dos manejos que vem sendo adotado, com ótimos ganhos em termos de produtividade, é a semeadura direta, técnica normalmente realizada entre os meses de fevereiro e maio na região sudeste do Brasil.
Neste período, a quantidade de horas de luz na região é compatível com as cebolas de dias curtos, e com a implantação desta técnica é possível reduzir os custos de produção e o ciclo da cultura, proporcionando bulbos com maior qualidade (formato, cor e pungência), valor nutricional e comercial elevado.
Porém, a implantação da semeadura direta requer maiores cuidados em relação à escolha do solo e sua umidade. Referente ao manejo da técnica na região sudeste do Brasil, a semeadura é realizada mecanicamente sobre palhada por meio de semeadoras convencionais ou a vácuo, utilizando-se entre 3,0 e 5,0 kg de sementes por hectare.
Entretanto, quando a semeadura direta é realizada em pequenas áreas, é recomendada a utilização de equipamentos mais rústicos, como cilindros ou latas perfuradas, desenvolvidos pelos próprios agricultores. Esse sistema ainda tem permitido maior adensamento de plantas por unidade de área, com a semeadura em linhas simples ou duplas, em áreas com ou sem construção prévia de canteiros.
Em linhas duplas, o espaçamento utilizado é de cerca de 12 cm entre si e 18 cm entre as linhas duplas, trabalhando-se com até 20 sementes por metro linear em cada linha. Já no caso de uso de linhas simples, são dispostas até 45 sementes por metro linear.
Produtividade
Em termos de produtividade, a técnica de semeadura direta, associada à escolha de cultivares híbridas que toleram o adensamento, permite atingir altas populações finais, por vezes superiores a um milhão de plantas por hectare, assim como altas produtividades, superiores a 100 t ha-1, valores bem acima da produtividade média nacional (25 t ha-1) quando se adota o plantio convencional.
Nos Estados de Minas Gerais e Goiás, localizados no cerrado brasileiro, o rendimento médio da cultura da cebola supera 50 t/ha em função das condições climáticas favoráveis e do maior nível tecnológico empregado nas lavouras, como a utilização de cultivares híbridas e manejo adequado da irrigação.
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Em ensaios de campo realizados na região centro sul do Estado do Tocantins, região do cerrado brasileiro, com a utilização de híbridos de genética moderna, foram observados valores de produtividade bem acima da média nacional com as cultivares híbridas (56,55 e 58,05 t ha-1), com época de plantio realizada no mês de junho.
Direto ao ponto
Os principais erros são observados na escolha das variedades híbridas e nas condições climáticas da região cultivada. A escolha do espaçamento é um dos fatores que pode comprometer drasticamente a produtividade da cebola, pois uma alta densidade sem critério pode ocasionar a competição entre as plantas, aumentando assim a concorrência por luz, água, CO2, oxigênio e nutrientes essenciais para o desenvolvimento da cultura.
No plantio, um dos erros que devem ser evitados é quanto à velocidade de semeadura, na qual se recomenda 3,0 km/hora e a profundidade de semeadura, que deve ser de 1,0 a 2,0 cm, para que possíveis falhas sejam evitadas e não venham comprometer a população final de cebolas.
Os erros podem ser evitados a partir da escolha de cultivares híbridas recomendadas para a região escolhida. Essas regiões também precisam apresentar frequência de chuvas para evitar perdas de produtividade da cebola, em casos em que não se utiliza a irrigação para atender as necessidades hídricas da cultura.
Entretanto, em locais com chuvas frequentes e longos períodos de alta umidade relativa durante o ano, recomenda-se a utilização de espaçamentos menores. Um exemplo é a região sul, que apresenta as características citadas e os produtores devem optar por estande mais baixos, quando comparado com o cerrado brasileiro, onde tem se adotado populações de 600 a 800 mil plantas ha-1 na época de maior pluviosidade e populações de um milhão plantas ha-1 em épocas de seca.
Na semeadura da cebola, os erros podem ser evitados a partir de regulagens frequentes dos implementos agrícolas, sendo recomendado no plantio a demanda de mão de obra para monitorar a distribuição das sementes e adubos na área.
Como agregar a esta técnica
Inovações tecnológicas, nos últimos anos, vêm trazendo resultados positivos nas principais regiões produtoras de cebola do Brasil, como é o caso do Estado de Santa Catarina, que se destaca por ser o maior produtor de cebola do País, e investir em tecnologias, tendo como resultados safras recordes, podendo chegar a até mais de 50 toneladas por hectare, de acordo com o Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Cepa/Epagri).
Já em Estados como Minas Gerais e Goiás o rendimento médio supera 50 t/ha em função das condições de clima favoráveis e o maior nível de tecnologia empregado nas lavouras, como a adoção de cultivares híbridas que permitem altas populações de plantas, manejo adequado da irrigação e a adoção de ferramentas de gestão em produtores de maior porte.
Custo
Os custos de produção em regiões com maior nível tecnológico empregado com o uso de sementes híbridas, irrigação por pivô central (ou gotejamento) e mecanização intensa, como é o caso das regiões sudeste, centro-oeste (GO) e parte do nordeste (BA), superam R$ 50.000,00/ha.
Em plantio direto, são utilizadas em torno de 2,8 kg de sementes.ha-1, representando de 0,8 a um milhão de plantas.ha-1, com emergência de cerca de 600 mil plantas, que juntamente com os insumos (fertilizantes de solo e folha, corretivos, defensivos, adjuvantes, indutores, reguladores, entre outros) geram aproximadamente 23% dos custos de produção da cultura da cebola. Os outros 77% dos custos são referentes aos gastos com mão de obra, especialmente no trabalho temporário para colheita.
Em relação ao custo-benefício da cebola catarinense na safra de 2020/21, os valores chegam a R$ 1,00 e o preço ao produtor chega a R$ 2,30, em média, o quilo.