A última safra de Verão enfrentou um grande desafio: atraso de pelo menos 45 dias na ocorrência de chuva. Esse cenário trouxe impactos para o agronegócio da região Centro-Oeste do Brasil, comprometendo o calendário de plantio e colheita, especialmente a soja e o milho. Esse quadro, associado ao histórico do El Niño, deve comprometer a segunda safra, também conhecida como “safrinha”. Esta é a análise da Nottus Meteorologia, empresa de inteligência de dados e consultoria meteorológica para negócios, para o período.
“O calendário apertado, resultante do atraso na consolidação da chuva, levou muitos produtores a optarem por uma única safra, dada a falta de tempo hábil para realizar ambos os plantios”, analisa Desirée Brandt, meteorologista sócia-executiva da Nottus. Para ela, a previsão vem depois de um momento nada positivo para o agricultor, sobretudo do Centro-Oeste. “Além dos prejuízos, muitos deles tiveram de lidar com replantios, alguns até mesmo mais de uma vez, devido à falta de chuva. Produtores especialmente dessa região foram os que mais sentiram os efeitos climáticos durante a safra de Verão”, complementa.
A prática da “safrinha”, que se refere ao cultivo imediatamente subsequente à safra principal, é direcionada a culturas de ciclo mais curto, como o milho e a soja. Esse tipo de cultivo é realizado em áreas de sequeiro, ou seja, em solos cultiváveis que não recebem irrigação artificial. Por isso, a produção agrícola nessas regiões fica sujeita às condições climáticas e à quantidade de chuva naturalmente disponível, destacando a influência direta desses fatores no sucesso da colheita.
Análises da Nottus mostram que há indicativos de chuvas abaixo da média no mês de abril, de acordo com os modelos de previsão. “A possibilidade de uma diminuição antecipada da chuva, associada ao histórico do El Niño, traz incertezas ao sucesso da ‘safrinha’. Os riscos futuros aumentam os desafios para os agricultores. Por isso, é importante monitorar de perto as condições climáticas para tomada de decisões assertivas”, diz Desirée Brandt.
Os impactos dessa situação na “safrinha” de milho já levaram a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a revisar novamente para baixo suas estimativas para a colheita de grãos durante a safra 2023/24. Agora, a empresa pública projeta a produção total do Brasil em 299,8 milhões de toneladas, representando uma redução de 6,6 milhões em relação à previsão de janeiro e uma diminuição de 6,3% em comparação ao volume calculado para o ciclo 2022/23, que foi de 319,8 milhões de toneladas.
“Neste ano, com a chegada precoce do período seco, o agricultor que habitualmente depende da chuva até maio para favorecer o Safrinha enfrentará dificuldades, pois a precipitação torna-se cada vez mais incerta”, alerta a meteorologista.