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Fertilizante de liberação gradativa em feijoeiro

Autor

Fabio Olivieri de Nobile
Doutor e professor – Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB)
fabio.nobile@unifeb.edu.br

Visando aumentar a eficiência do uso de nitrogênio na agricultura, novas tecnologias têm sido desenvolvidas, como fertilizantes nitrogenados de baixa solubilidade (de liberação lenta ou controlada), ou aditivados (estabilizados) com inibidores capazes de minimizar as perdas de N.

Essas classes de fertilizantes são classificadas como “Fertilizantes de Eficiência Aumentada”, que podem ser divididos em três categorias: estabilizados, de liberação controlada e de liberação lenta. Os principais objetivos destes fertilizantes são diminuir as perdas de nutrientes no sistema solo-planta-atmosfera e melhor disponibilizá-los, de forma ajustada, às necessidades das plantas.

Esses fertilizantes retardam a disponibilidade inicial dos nutrientes ou aumentam sua disponibilidade no tempo por meio de diferentes mecanismos, visando sincronizar a liberação com a demanda da planta pelo nutriente e diminuindo as perdas deste no ambiente.

Como maior representante dos fertilizantes de liberação lenta, cita-se a ureia formaldeído, que é obtida pela reação de condensação de formaldeídos (H2CO) com moléculas de ureia em condições controladas do processo de fabricação.

As pesquisas têm avançado no desenvolvimento de tecnologias de liberação lenta do nitrogênio, trazendo vantagens ao cultivo do feijoeiro, principalmente na questão da redução das adubações na cultura.

Exigências

O feijoeiro é bastante exigente em nitrogênio e sua absorção ocorre praticamente durante todo o ciclo da cultura, mas a época de maior exigência está entre 35 e 50 dias da emergência, coincidindo com a época do florescimento. Neste período, a planta absorve de 2,0 a 2,5 kg ha-1 de N por dia.

A ureia é a fonte disponível no mercado de maior concentração de nitrogênio, que favorece as questões de rendimento operacional e custo com frete, mas tem o inconveniente da perda de nitrogênio por volatilização, o que não acontece no processo de solubilização de fontes menos concentradas em nitrogênio como sulfato de amônio e nitrato de amônio.

Os resultados de pesquisa indicam redução da perda por volatilização, em determinadas condições, com uso dos fertilizantes de eficiência aumentada, mas como a fonte destes produtos também é ureia, estes também estão sujeitos aos mesmos processos de volatilização da amônia após perderem as vantagens de recobrimento dos grânulos ou ação dos inibidores.

Por isso, não há garantia da extinção das perdas por volatilização quando se aplica os fertilizantes de eficiência aumentada a lanço, embora possam ter vantagens ou retardamento do início do processo de volatilização.

Resultados

Os resultados da literatura indicam que o uso de fertilizantes de liberação controlada e com inibidores, embora não em todas as situações, contribuem para redução da emissão de N2O no processo de desnitrificação. Este fato favorece a mitigação de emissões de gases do efeito estufa pela agricultura, gerando assim menor impacto ambiental, além de reduzir uma fonte de perda do N do sistema a fim de se conseguir maior eficiência de uso do fertilizante nitrogenado.

Práticas como a incorporação da ureia, aplicação anterior a um evento chuvoso significante ou irrigação, uso de fontes menos concentradas e reduzidas perdas por volatilização são garantias mais contundentes para aumentar o aproveitamento da adubação nitrogenada.

Viabilidade deve ser levada em consideração

Outro aspecto que podemos considerar é o custo da produção, afinal, analisar os custos de produção é importante para um bom gerenciamento da empresa rural, adequando-os de maneira que permita uma boa administração do seu empreendimento de acordo com a realidade.

Assim, terá um controle gerencial adequado, possibilitando o uso mais racional dos fatores produtivos na busca de competitividade e renda, sendo eficiente e alcançando os objetivos previamente planejados.

Nesse aspecto, a escolha dos insumos adequados, ou seja, aqueles que proporcionem melhor relação custo/benefício, deve ser analisado com cuidado. O produtor deve buscar incrementar em sua lavoura todas as técnicas e procedimentos modernos possíveis, de modo que produza com eficiência, visando produzir mais e diminuir os custos.

Para isso, deve optar pelo uso de novas tecnologias, de acordo com sua capacidade de adoção. Dentre estas tecnologias, o uso de fertilizantes de liberação gradativa se torna interessante, pois são capazes de minimizar as perdas de nutrientes no ambiente e podem disponibilizá-los de forma ajustada às necessidades das plantas.

Porém, além do Brasil depender da importação de nutrientes, as tecnologias utilizadas para produção de fertilizantes de maior eficiência são geralmente desenvolvidas no exterior. Com isso, esses fertilizantes chegam mais caros para os produtores brasileiros, sendo um entrave para o emprego na cultura do feijão.

Em campo

Com relação aos resultados observados no campo com a aplicação de nitrogênio de liberação lenta, podemos observar uma menor perda acumulada por volatilização. Essa redução nas perdas pode chegar a até 50%, ou seja, a dose a ser recomenda pode ser reduzida neste montante quando se utiliza fertilizante de liberação gradativa.

Já as aplicações em cobertura não se mostraram eficientes no incremento da produtividade, muito provavelmente pela liberação dos nutrientes ocorrer numa época em que as exigências nutricionais do feijoeiro diminuem, acarretando em menor absorção.

É importante a continuidade das pesquisas com este tema, bem como a evolução de tecnologias para produção destes fertilizantes de eficiência aumentada, pois a cobrança da sociedade será cada vez maior em relação ao uso de sistemas agrícolas sustentáveis, com menores custos ambientais e sociais, além de ser importante para a agropecuária conseguir produtos que facilitem o manejo das lavouras e pastagens, com maior eficiência, menor custo e que proporcionem maior produtividade.

Custo

O custo de produção da cultura do feijão-comum, com alto nível tecnológico sob condições de irrigação, é estimado em R$ 3.500 por hectare, os insumos totalizaram R$ 2.100 por hectare, correspondendo a 61,1% do total, e dos insumos utilizados no processo produtivo os fertilizantes correspondem a 21 % do custo total.

Entretanto, podemos diminuir esses custos, uma vez que é possível reduzir a quantidade de N aplicado à cultura sem impactar em redução da produtividade, reduzindo as perdas de N ocasionadas quando se utiliza ureia comum. Estima-se que as novas tecnologias, como os fertilizantes de liberação lenta, podem reduzir essas perdas em até 60%.

Essa estratégia é viável, desde que elas possam ser aplicadas integralmente na semeadura, ou em menores doses, sem afetar a produtividade. Isto poderá aumentar a eficiência agronômica e econômica de uso do N, diminuindo os custos de produção pela aplicação integral do nutriente na semeadura.

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