Eli Carlos de Oliveira
Engenheiro agrônomo e doutor em Fitotecnia
Do tamanho de um grão de areia e coberto com polímero, o fertilizante inteligente funciona como uma membrana, mantendo os nutrientes mais concentrados, que são liberados com pouca água. A tecnologia não libera nitrogênio e potássio durante as chuvas, mas gradativamente.
O fertilizante inteligente reduz o custo de fertilização, que pode ser realizada junto com o plantio. Outra vantagem é que a aplicação pode ser feita em intervalos maiores, ou seja, ao invés de 30 dias pode acontecer a cada dois meses.
Conheça melhor
O termo “fertilizantes inteligentes“ refere-se à liberação dos nutrientes essenciais para as plantas de forma gradativa, disponibilizando-os ao longo do ciclo de cultivo. Os nutrientes são revestidos com produtos específicos, que controlam a liberação, oferecendo vários benéficos do ponto de vista ambiental, econômico e, principalmente, de rendimento das culturas, ou seja, na prática, trata-se de uma forma sustentável de fazer agricultura.
Diferentes tipos de materiais têm sido utilizados como revestimentos em fertilizantes solúveis. Os revestimentos são mais comumente aplicados a granulados ou fertilizante com nitrogênio (N).
O enxofre elementar (S) foi o primeiro revestimento de fertilizante amplamente utilizado. Envolvia a pulverização de grânulos fundidos de S sobre a ureia, seguidos por uma aplicação de cera de selante para fechar quaisquer rachaduras ou imperfeições no revestimento.
Uma melhoria neste processo foi adotada posteriormente, quando o revestimento passou a utilizar uma fina camada de polímero orgânico. Os tipos de materiais utilizados no revestimento variam entre os fabricantes. No entanto, a técnica consiste basicamente em utilizar polímeros de polietileno de baixa permeabilidade em combinação com revestimentos de alta permeabilidade.
Na fabricação dos fertilizantes de liberação controlada, o nutriente é encapsulado com um material insolúvel em água, semipermeável ou impermeável, com microporos, controlando a entrada e saÃda da água e, portanto, a taxa de dissolução dos nutrientes contidos dentro da cápsula, sincronizando sua liberação de nutrientes de acordo com as necessidades das plantas.
Benefícios
Os fertilizantes revestidos são usados em uma variedade de situações agrícolas, fornecendo um suprimento prolongado de nutrientes, o que pode oferecer muitos benefícios, como:
ÃŒ Liberação sustentável de nutrientes, o que reduz perdas por lixiviação e volatilização;
ÃŒ Os custos de mão de obra e aplicação podem ser reduzidos, eliminando a necessidade de múltiplas aplicações de fertilizantes.
ÃŒ Maior tolerância de mudas e plântulas à localização dos fertilizantes próximos às raízes;
ÃŒ Redução do estresse salino, especialmente em mudas em ambiente controlado;
ÃŒ A liberação prolongada de nutrientes fornece uma nutrição vegetal mais uniforme, melhorando o crescimento e o desempenho da planta;
ÃŒ Os fertilizantes revestidos, envoltos por enxofre, podem aumentar a acidez localizada do solo. No entanto, essa acidificação pode favorecer a absorção de fósforo e ferro.
Portanto, o máximo benefÃcio proporcionado pelo fertilizante revestido só será alcançado quando a duração da liberação de nutrientes for sincronizada com os períodos máximos de absorção de nutrientes pelas plantas, ou seja, obedecendo a marcha de absorção de cada cultura, conhecimento esse importante, pois indica os períodos de maior exigência dos nutrientes.
Observadas essas épocas, tem-se um guia para a adubação no que tange aos momentos em que se deve empregar um ou outro nutriente.
Culturas beneficiadas
Todas as culturas podem ser adubadas com nutrientes revestidos por liberação gradativa. O que torna a técnica interessante é a economia considerável na quantidade necessária de fornecimento para as plantas, já que existe uma maior eficiência na utilização dos nutrientes do fertilizante.
Além do mais, haverá uma grande facilidade de manejo, pois maiores quantidades podem ser aplicadas no momento do plantio de uma única vez, pois as perdas são menores.
Para os grãos
 Trabalhos têm sido realizados com o objetivo de verificar o aumento das produtividades em relação à utilização de fertilizantes de liberação controlada. Em milho e trigo foi comprovado que estes fertilizantes melhoraram o rendimento com apenas metade da quantidade de N, comparada com adubos convencionais.
Isto refere-se o fato da redução de perdas de N por volatilização e lixiviação, e indica que a utilização de fontes de liberação lenta e controlada é uma estratégia efetiva para aumentar a eficiência de uso do N, além de permitir controlar sua aplicação durante a semeadura e no ciclo.
O trabalho de Viapiana (2014), avaliando o efeito de fertilizantes de liberação lenta e controlada de N como estratégia para aumentar a eficiência da adubação nitrogenada na cultura do milho, concluiu que a aplicação do N revestido pode ser uma estratégia efetiva para aumentar sua eficiência, inclusive com redução de dose.
Pesquisas como as de Fan et al. (2004), Noellsch et al. (2009) e Mesquita et al. (2017) também caracterizaram o padrão de liberação de N de fertilizantes revestidos como vantagens do uso de ureia revestida por polímeros, na cultura de cereais.
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A aplicação
Especificamente no Brasil, ainda existem relativamente poucos estudos publicados com nutrientes revestidos por polímeros em culturas de cereais, de modo que o volume de dados experimentais ainda não é suficiente para determinar quais são as situações ideais de recomendação segura e épocas de aplicações.
Portanto, o momento da aplicação é dependente da capacidade do material de revestimento em controlar a liberação de nutrientes para as plantas após a aplicação no solo.
A falta de pesquisas, aliada a um método para determinar o padrão de liberação de nutrientes no campo, dificulta as recomendações, pois há uma falta de correlação com dados de testes de laboratório. Entretanto, a hipótese a ser defendida é que os resultados dependem, principalmente, das condições específicas de clima, solo e momento em que os fertilizantes revestidos serão aplicados.