Laércio Boratto de Paula
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia e professor – Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais
A agricultura depara-se com um dilema que, sem dúvida, norteará suas ações futuras: produzir cada vez mais, e de forma sustentável! Especificamente no que diz respeito à produção de hortaliças, há uma demanda cada vez maior, seja no aspecto quanti ou qualitativo, e que esta produção esteja em maior harmonia com o meio ambiente.
Como produzir mais?
Hortaliças são plantas exigentes em termos de nutrição, já que, invariavelmente, produzem muito em um curto espaço de tempo (com exceções!). Os produtores adeptos à olericultura costumam utilizar grandes quantidades de adubos químicos, e aí, mais uma vez, vislumbram-se dificuldades futuras.
Estes adubos, em boa parte, originam-se de fontes finitas, e utilizam, na sua fabricação, grandes quantidades de energia. Concretamente, o que se vê, no cenário atual para o Brasil, são dificuldades cada vez maiores em obter, via importação, estes adubos químicos.
Isto se dá em função da demanda cada vez maior do nosso país, e de entraves e questões político/econômicas que se associam a fatores regionais nos países que importam a matéria prima ou o fertilizante manufaturado. Assim, é fato que a aquisição de adubos minerais, por parte dos produtores, será cada vez mais difícil e onerosa.
O que fazer?
Uma opção que pode ajudar, e muito, seria o uso dos chamados biofertilizantes, que são adubos que podem ser produzidos localmente e que, por sua natureza, podem trazer benefícios não só à produção em si, mas também se relacionam com a proteção fitossanitária da planta e ao equilíbrio do solo e do ambiente que o cerca.
De acordo com a Instrução Normativa nº 61, de 8 de julho de 2020, do MAPA, biofertilizantes são definidos como produtos que contêm princípio ativo ou agente orgânico, isento de substâncias agrotóxicas, capazes de atuar direta ou indiretamente sobre o todo ou parte da planta cultivada, elevando sua produtividade. De acordo com seu grupo, pode-se levar em conta, também, seu valor hormonal ou estimulante.
Os tipos de biofertilizantes são variados, desde os mais simples, em que basicamente se mistura esterco à água, até os mais complexos, que contêm componentes diversificados. É no sentido de elevar a produtividade, substituindo parcial ou totalmente a adubação química, e também de se proteger a planta e o ambiente, que se descortina o uso dos fertilizantes biológicos.
Para o pimentão
Como praticamente toda solanácea, a planta de pimentão é exigente com relação à quantidade de nutrientes disponíveis, e sua produtividade está muito ligada à disponibilidade dos mesmos.
Assim, no caso da expectativa de altos rendimentos, o uso de biofertilizantes, por si só, pode não ser suficiente. O ideal é que esteja associado a outras práticas, como adubação orgânica, por exemplo, e também ao uso racional de fertilizantes químicos. Se a opção do produtor for pela produção agroecológica, aí a utilização de biofertilizante se torna indispensável.
Outro ponto de destaque é a questão da proteção fitossanitária. Biofertilizantes possuem compostos bioativos, que podem induzir mecanismos de defesa na planta, tornando-a mais resistente ao ataque de doenças e pragas.
O pimentão notabiliza-se como sendo uma cultura altamente suscetível a problemas fitossanitários. Assim, os fertilizantes biológicos podem ser importantes aliados no manejo destes problemas. Não há um modelo pronto no que diz respeito à recomendação de adubação.
A consolidação deste modelo passa, necessariamente, por uma avaliação da produção local, dos objetivos que se pretende e dos resultados esperados. Assim, a recomendação de qual biofertilizante terá melhor resultado, e em que condições, passa por testes locais, em que poderá se avaliar quais procedimentos serão ideais
Benefícios
Entre os benefícios advindos do uso de biofertilizantes, estão:
- Menor dependência de recursos externos, já que boa parte dos biofertilizantes pode ser produzida com insumos já presentes na propriedade;
- O baixo investimento financeiro necessário;
- O menor impacto ambiental provocado, já que em sua constituição não existem agrotóxicos;
- Menor risco à saúde do produtor e do consumidor;
- Maior resistência contra pragas e doenças, já que os fertilizantes biológicos apresentam compostos com propriedades fungistáticas e bacteriostáticas. Em outras palavras, o uso de biofertilizantes aumenta o sistema de defesa das plantas;
- Efeito repelente contra algumas pragas;
- Uma grande diversidade de nutrientes ofertados às plantas. Em uma análise superficial, é possível encontrar diversos nutrientes nos biofertilizantes, sendo que os enriquecidos podem conter quase todos os macros e micronutrientes;
- Os nutrientes estão em forma prontamente disponíveis, facilmente assimiláveis;
- A possibilidade de substituir, ainda que parcialmente, os fertilizantes químicos;
- A presença de hormônios e microrganismos benéficos ao desenvolvimento vegetal, podendo, inclusive, abreviar o ciclo da cultura;
- Aplicado ao solo, traz efeitos positivos ao mesmo, como a ciclagem de nutrientes, a manutenção do pH e o incremento da matéria orgânica. Também pode aumentar a disponibilidade de P no solo, no que se refere à liberação de P fixado;
- Não causam salinização no solo, como os fertilizantes químicos.