Fernando Carvalho Oliveira, engenheiro agrônomo da
Tera Ambiental, explica que os fertilizantes orgânicos podem substituir em até
50% a dose dos fertilizantes minerais. Tal proporção, porém, somente é atingida
em situações no qual a utilização deste é repetida durante três anos
subsequentes. Em prazo mais curto, para atender a uma possível redução da
oferta do insumo em decorrência da invasão da Rússia à Ucrânia, considerando a
aplicação de cinco toneladas de fertilizantes orgânicos por hectare, na
primeira aplicação deste já seria possível reduzir em até 30% a dose recomendada
de minerais. “Isso já tem sido viável para várias culturas, dentre elas a
cana-de-açúcar e citros”, informa.
Em mais longo prazo, é possível pensar que a
fertilização mineral possa ser substituída em sua totalidade de acordo com as
circunstâncias econômicas, mas em casos nos quais as aplicações dos orgânicos
seja uma prática rotineira e contínua. “Tudo dependerá do manejo de ambos os insumos, dos indicadores de
fertilidade do solo e do desempenho das culturas envolvidas. As taxas de
aplicações combinadas sempre oferecerão os maiores ganhos ao produtor e suas
proporções deverão ser alteradas de acordo com as circunstâncias agronômicas e
econômicas”, explica o engenheiro agrônomo.
Oliveira aborda, também, o potencial de consumo dos fertilizantes
orgânicos. “Se considerarmos que o Brasil tem hoje cerca de 83,4 milhões de
hectares cultivados e taxas de aplicação entre 5 e 10 toneladas por
hectare/ano, a demanda oscilaria entre 417 milhões e 834 milhões de toneladas
anuais”. O momento é oportuno para ampliação produtiva do setor, já que a
demanda está garantida e os preços de venda do produto permanecerão
compensadores.
O engenheiro agrônomo da Tera Ambiental, fabricante do fertilizante orgânico Tera Nutrição Vegetal, revela que a empresa está trabalhando para aumentar sua produção ainda este ano. “Em função da disponibilidade de matérias-primas (lodo produzido pelas estações de tratamento de efluentes), de sua capacidade operacional e da conjuntura econômica e geopolítica global, a meta é de um crescimento de até 25%. Com isso, a empresa passará a ter capacidade de atender à demanda para até 10 mil hectares cultivados. “Estamos transformando um passivo ambiental em fertilizantes orgânicos compostos, num exemplo efetivo de economia circular e atividade sustentável”.
Hortifruti
Hiro Kawabata, consultor técnico da Tera Ambiental, acredita que,
em termos gerais, a comercialização de fertilizantes orgânicos cresça 50%,
devido à crise no Leste Europeu. Para ele, a complementação mais rápida com
relação aos insumos minerais ocorrerá na produção hortifruti, variando de 30% a
50%, mas podendo ir além. “Temos trabalhos no campo nos quais chegamos a uma
redução de 80% nas hortaliças. Na fruticultura, chegamos a 50%. Considerando a
média entre ambas as culturas, mantemos variáveis entre 30% e 50%”.
Os produtores de
hortifrutis já estão se direcionando no sentido da utilizar maior proporção dos
fertilizantes orgânicos nas plantações, mas os de cereais precisam fazer uma
adaptação do processo. A maioria dos produtores de grãos e cereais cultivam em
áreas extensas e aplicam nutrientes pontuais somente para o ciclo do cultivo,
sem deixar reservas nutricionais no solo. De todo modo, ante o risco de queda
da oferta de minerais, terão de buscar alternativas. “Os orgânicos contribuirão
para isso, nas condições e proporções que já apontamos anteriormente”, conclui
Kawabata.